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Cannabrava | A ONU aos 80 anos: moral corroída, utilidade em xeque

Descredito vai do âmbito militar à crise alimentar global, evidenciando uma ONU incapaz de reagir a guerras não apenas de bombas, mas comerciais, tecnológicas e cambiais

A Organização das Nações Unidas (ONU) completa 80 anos em 2025 sob duras críticas à sua inoperância, parcialidade e perda de legitimidade. Criada ao fim da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de manter a paz, mediar conflitos e promover a cooperação entre os povos, a ONU é hoje uma instituição paralisada pelos vetos do Conselho de Segurança e pela hegemonia de potências que tratam o organismo como instrumento de seus interesses.

A crise é tão profunda que nem mesmo as resoluções sobre o cessar-fogo em Gaza têm efeito. Os Estados Unidos vetam sistematicamente qualquer tentativa de conter os crimes do governo sionista de Israel contra o povo palestino. A ONU, que deveria zelar pelos direitos humanos, assiste impotente ao massacre em curso, enquanto a diplomacia internacional se reduz a notas de repúdio e promessas vazias.

O descrédito não se limita ao âmbito militar. A ONU também fracassou em propor saídas para a crise alimentar, para o endividamento insustentável dos países pobres, para o desmonte ambiental em escala planetária e, mais recentemente, para conter a ofensiva protecionista de países ricos contra os esforços do Sul Global por desenvolvimento soberano. A guerra não é apenas de bombas: é também comercial, tecnológica e cambial.

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A proposta dos Brics+ e de outras instâncias multilaterais como o G77, o Grupo dos Amigos da Carta da ONU e a própria União Africana aponta para uma nova arquitetura internacional, baseada em multipolaridade, respeito à soberania e reformas estruturais nas instituições globais. Mas essa transição é lenta e enfrenta forte resistência das potências imperiais que ainda dominam os mecanismos de poder.

A ONU completa 80 anos corroída em sua moral e utilidade. Mas o princípio que a originou — o de uma governança global solidária e pacificadora — permanece atual e necessário. É urgente resgatar esse ideal, romper com a hipocrisia dos vetos, democratizar as decisões e devolver às Nações Unidas a legitimidade que perdeu. Caso contrário, será apenas mais um teatro vazio para discursos de conveniência.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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