Em informe recente, Washington anunciou os primeiros resultados de uma operação nacional contra o narcotráfico, reforçando a retórica de que o problema é sobretudo externo
Na última terça-feira (15), a procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, afirmou: “Muitos imigrantes ilegais estão fazendo o trabalho dos cartéis em nossas comunidades”. A declaração foi feita durante uma entrevista coletiva na qual, junto com o administrador interino da Administração para o Controle de Drogas (DEA, na sigla em inglês), Robert Murphy, anunciou os resultados de uma operação nacional contra o narcotráfico, atribuindo aos cartéis mexicanos a distribuição massiva de drogas sintéticas em várias cidades estadunidenses.
Ambos os funcionários informaram que, durante a “Operação Recuperemos a América”, realizada no fim de semana do 4 de julho, ocorreram rondas simultâneas em pelo menos sete estados, resultando na apreensão de “quantidades recordes” de fentanil, metanfetamina e carfentanil — este último, um opioide originalmente desenvolvido como tranquilizante para elefantes.
Eles enfatizaram que o narcotráfico representa não apenas um problema de saúde pública, mas também uma ameaça direta à segurança nacional. Nesse sentido, Murphy admitiu que “os cartéis operam em todos os cantos deste país”. Mas destacou: “Nós também”, se referindo às autoridades estadunidenses, e enfatizou que combatem “diretamente os cartéis, tanto dentro quanto fora do país”.
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No informe, detalharam que a Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) apreendeu apenas em Miami 10 milhões de dólares em criptomoedas supostamente ligadas ao Cartel de Sinaloa, além de 40 mil comprimidos de fentanil e armas automáticas em Omaha. Também mencionaram uma operação interestadual em Chicago, Indiana e Arizona, que resultou na detenção de 23 pessoas e na apreensão de 74 armas ilegais, junto com metanfetamina, fentanil e cocaína.
Durante sua intervenção, Murphy detalhou que agentes da DEA apreenderam 71 kg de fentanil e 20 de metanfetamina em Columbia, Carolina do Sul, a poucas quadras da Universidade da Carolina do Sul, área onde afirmou que “os cartéis estão deliberadamente mirando os estudantes”.
Em Gainesville, Geórgia, as autoridades encontraram 320 kg de metanfetamina escondidos em um carregamento de pepinos supostamente proveniente do México, enquanto em Minneapolis, Minnesota, confiscaram outros 400 kg.
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“Essas operações foram possíveis graças a informações específicas de inteligência. Não é possível inspecionar todos os veículos na fronteira sem saber o que estamos procurando”, sublinhou o funcionário, que também informou que um dos detidos na Geórgia era um migrante previamente deportado duas vezes por tráfico de cocaína.
Uma das apreensões que “mais preocupou” as autoridades foi a realizada em Fresno, Califórnia, onde foram encontrados 11 kg de carfentanil camuflados em comprimidos falsificados de oxicodona. “Isso deveria aterrorizar todos os pais do país. São pílulas letais disfarçadas de remédio”, advertiu Bondi.
A promotora também alertou que esta foi a primeira vez que detectaram metanfetamina distribuída em forma de comprimidos, uma estratégia que ela atribuiu aos cartéis mexicanos “para atrair consumidores jovens”.
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Desde o início do ano, a DEA tem retirado “esse veneno” das ruas dos EUA “em um ritmo histórico”, com a apreensão de mais de 44 milhões de comprimidos de fentanil, 2 toneladas em pó e mais de 29 toneladas de metanfetamina — quase o total apreendido em todo o ano de 2024, precisou Bondi.
Segundo o centro de análise Insight Crime, “antes se costumava usar os migrantes para transportar fardos de maconha. Isso já não é o caso, devido ao aumento das drogas mais lucrativas”, como a cocaína e o fentanil, afirmou a fundação em 2022, segundo a AFP.
Um estudo publicado pelo conservador Instituto Cato aponta que, “em 2021, 86,3% dos traficantes de fentanil condenados eram cidadãos estadunidenses”, os quais “estão sujeitos a menos controles” nas passagens fronteiriças ou no interior dos veículos.
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