A celulose, usada na fabricação de papel higiênico, ocupa o 4º lugar entre as exportações agrícolas do Brasil aos EUA; supermercados também podem ficar sem suco de laranja
A imposição de novas tarifas contra o Brasil por parte de Donald Trump poderia afetar gravemente os consumidores estadunidenses e os preços dentro do país. É o que informa um artigo da Bloomberg publicado na última sexta-feira (11).
Segundo a agência, o Brasil exporta café e carne bovina para os Estados Unidos, atendendo assim à crescente demanda interna. Também é um fornecedor-chave de celulose, utilizada em uma ampla gama de produtos, desde livros até papel higiênico.
Café
No ano passado, os EUA importaram café do Brasil no valor de quase 2 bilhões de dólares, o que representa praticamente 30% do consumo total do produto no país, revelou o grupo de exportadores de café Cecafé.
“É uma perda para nossas empresas e representa mais custos e mais inflação para os consumidores estadunidenses“, afirma Marcos Matos, diretor do grupo.
O Brasil é o principal produtor mundial da variedade arábica premium, a preferida pela Starbucks e pela maioria das cafeterias especializadas. A publicação indica que os preços desse tipo de café já dispararam no último ano, devido às más condições climáticas no Brasil que ameaçaram a oferta.
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As tarifas contra o Brasil poderiam provocar um “aumento considerável” nos preços do café, acrescenta Giuseppe Lavazza, presidente da empresa italiana Lavazza.
Carne
A análise mostra que os frigoríficos estadunidenses dependem cada vez mais do fornecimento de carne bovina, já que enfrentam o menor rebanho em mais de 70 anos. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, no ano passado foram importados do Brasil cerca de 1,4 bilhão de dólares em carne bovina.
De acordo com a Bloomberg, é provável que os produtores brasileiros redirecionem os envios, e a empresa brasileira de carne Minerva SA afirma que também pode abastecer o mercado estadunidense com suas operações na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e na Austrália.
A Associação Brasileira de Exportadores de Carne também aponta os riscos para “o fornecimento global e a segurança alimentar”, ao mesmo tempo em que se compromete a fomentar o diálogo entre os dois países.
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Suco de laranja
O Brasil representa cerca de 70% das exportações mundiais de suco de laranja e desempenha um papel importante no abastecimento dos EUA. Nesse contexto, os futuros do suco de laranja subiram 6% na quinta-feira (10), atingindo seu preço mais alto em quase um mês.
Segundo o grupo setorial CitrusBR, a nova tarifa será consideravelmente superior à atual, representando um imposto equivalente a mais de 70% do valor do produto.
Isso tornaria os envios “inviáveis”, afirmou o diretor-executivo do grupo, Ibiapaba Netto.
Papel
O Brasil abriga a sede da Suzano SA, o maior exportador mundial de celulose, usada na fabricação de produtos como papel higiênico. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, a celulose ocupa o quarto lugar entre as exportações agrícolas do país para os EUA, e o papel e a madeira compensada também estão entre os principais produtos.
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O diretor-executivo da Suzano, João Alberto de Abreu, declarou em maio que a empresa estava repassando aos compradores estadunidenses os custos das tarifas, que à época eram de 10%. O Citibank aponta que a empresa é a mais exposta às tarifas entre os produtores brasileiros de matérias-primas, já que cerca de 15% de sua receita vem dos EUA.
Açúcar
Washington também aumentou significativamente as importações de açúcar vindo do Brasil, o maior produtor mundial do produto. No ano passado, os EUA importaram do Brasil uma quantidade recorde de açúcar, superior a 1 milhão de toneladas. Até então, o país importava o produto do Brasil com tarifas mais baixas, de 14%, mas as novas tarifas podem mudar esse cenário.
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