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Cannabrava | Supersafra brasileira: abundância para quem, prejuízo para quem?

O Brasil colheu, em 2023, a maior safra de grãos da história: 322,8 milhões de toneladas, um crescimento de 18,4% em relação ao ano anterior. E a projeção para 2024–25 é ainda mais ambiciosa: 336,1 milhões de toneladas, com produtividade média de 4.108 kg/ha em 81,8 milhões de hectares colhidos. Soja, milho e algodão puxam esse salto produtivo — a soja, sozinha, deve chegar a 169,6 milhões de toneladas (alta de 15%). O agronegócio comemora, e com razão: as exportações crescem e o superávit comercial se mantém robusto.

Mas os números escondem contradições. A balança comercial está positiva, mas a de pagamentos continua negativa. Produzimos muito, mas dependemos de importar fertilizantes e defensivos. Exportamos grãos, mas importamos alimentos processados. O Brasil é celeiro do mundo, mas 21 milhões de brasileiros passam fome.

A produção cresce, mas a infraestrutura não acompanha. Em 2023, faltaram armazéns para guardar ao menos 118 milhões de toneladas da produção. Cerca de 30% dos grãos colhidos não tinham onde ser estocados, ficando expostos à intempérie, a perdas e desperdícios. A capacidade estática de armazenagem chegou a 201,4 milhões de toneladas no primeiro semestre, enquanto a produção total superou os 322 milhões. A recomendação da FAO é que se tenha capacidade para armazenar até 120% do que se colhe — no Brasil, esse número gira em torno de 67%.

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A desigualdade regional agrava o problema: no Centro-Oeste, como em Mato Grosso, a capacidade cobre menos de 50% da produção. No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o déficit é ainda maior: menos de 39% da produção pode ser armazenada. O resultado é um escoamento apressado e dependente de transporte rodoviário caro e ineficiente. Os portos de Santos e Paranaguá vivem congestionamentos e carecem de infraestrutura para lidar com a demanda crescente. A Ferrovia Norte-Sul avança, mas ainda não integra plenamente as áreas produtivas.

Em paralelo, só 11 a 15% das propriedades rurais brasileiras possuem estrutura própria de armazenagem, contra 50% na Argentina e 80% no Canadá. O investimento público em silos, ainda que expressivo — cerca de R$ 15 bilhões anuais —, não acompanha o ritmo da produção. Especialistas afirmam que seria necessário dobrar esse valor para reduzir o desperdício e aumentar a competitividade do produtor.

Outro gargalo estruturante é a dependência de insumos. Em 2023, o Brasil importou 38,2 milhões de toneladas de fertilizantes — 85% vindos do exterior. O uso de agrotóxicos também bate recordes: mais de 720 mil toneladas aplicadas, com efeitos colaterais cada vez mais visíveis na saúde humana e no meio ambiente. Soja, milho e algodão concentram mais de 70% do uso desses produtos, revelando o grau de concentração da matriz produtiva.

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A produtividade tem seu custo. O desmatamento segue alto, especialmente no Cerrado e na Amazônia. Em 2023, foram registrados mais de 179 mil focos de incêndio, usados como ferramenta de “limpeza” para expansão da fronteira agrícola. A monocultura avança, empobrece o solo, contamina a água, expulsa comunidades tradicionais e acirra os conflitos fundiários.

A supersafra é real. Mas para quem ela serve? Os lucros se concentram. Os prejuízos se espalham. O modelo atual favorece grandes exportadores e fundos de investimento, mas deixa de fora os pequenos agricultores, a segurança alimentar e a proteção ambiental.

O problema pode ser resumido em uma única palavra: Planejamento. O Brasil precisa repensar seu modelo de produção e consumo. Não basta colher mais. É preciso garantir que essa riqueza se traduza em soberania alimentar, bem-estar coletivo e respeito aos limites do planeta.

* Artigo produzido com auxílio do ChatGPT.

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