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Wissam Zoghbour | Quando a câmera vira alvo: jornalismo palestino sob ataque

Sob ataque, o jornalismo palestino enfrenta assassinatos, censura e prisões, mas segue como guardião da verdade e da memória, escreve Wissam Zoghbour

O jornalismo palestino sob ataque ganha destaque no Dia Internacional de Solidariedade com o Jornalista Palestino, celebrado em 26 de setembro de 2025. Neste ano, a data é marcada por um cenário sem precedentes de violência sistemática contra repórteres na Faixa de Gaza.

Desde o início do ataque de Israel à Faixa de Gaza, 251 jornalistas — homens e mulheres — tombaram como mártires, centenas ficaram feridos e outros foram presos, transformando o cenário midiático palestino em um dos mais mortíferos e perigosos do mundo.

Esse número não é apenas uma estatística sangrenta; ele revela uma estratégia integrada seguida pela ocupação: calar a narrativa palestina atingindo seus portadores e instaurar a escuridão sobre a realidade do que ocorre em Gaza. Aqui, o jornalista deixou de ser vítima incidental da guerra para se tornar alvo direto da máquina de matar, numa tentativa evidente de cortar o cordão vital da consciência e impor controle total sobre a imagem e a narrativa.

De um ponto de vista analítico, o direcionamento contra a imprensa palestina pode ser lido em três níveis interligados:

  1. Nível de campo: assassinar o jornalista no local do acontecimento visa paralisar a capacidade de cobertura imediata e impedir a documentação dos crimes no momento em que ocorrem.
  2. Nível simbólico: matar o jornalista é uma mensagem de intimidação a todo aquele que pense em empunhar a câmera ou a caneta, para criar um vácuo midiático que permita à ocupação impor uma narrativa única.
  3. Nível estratégico: eliminar o maior número possível de profissionais faz parte de uma batalha mais ampla que tem por alvo a memória nacional palestina, considerando a imprensa como instrumento central para proteger essa memória do apagamento e da falsificação.

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Diante dessa realidade, declarações de condenação e repúdio não bastam; é preciso adotar medidas práticas e urgentes, entre as quais:

  • Abrir uma investigação internacional independente sobre os assassinatos de jornalistas palestinos, por se tratarem de crimes de guerra segundo o Direito Internacional Humanitário.
  • Prover mecanismos efetivos de proteção internacional para os jornalistas nos territórios palestinos ocupados — não apenas promessas formais.
  • Permitir imediatamente a entrada da mídia estrangeira na Faixa de Gaza, para romper o isolamento informativo imposto.
  • Apoiar os esforços de documentação das violações por meio de organizações profissionais e jurídicas e levá-los às cortes internacionais competentes.
  • Acionar instrumentos de pressão diplomática e jurídica sobre Israel para cessar o direcionamento contra jornalistas, por constituir ameaça à liberdade de imprensa mundial.

Hoje, o jornalista palestino não defende apenas sua profissão, mas o direito humano ao conhecimento e a imagem de um povo que resiste à tentativa de apagamento de sua existência. Cada mártir da palavra e da imagem é testemunha de que a verdade, por mais que seja ocultada, encontrará seu caminho até o mundo.

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Nesta data, colocamo-nos diante das almas dos jornalistas mártires e juramos manter sua mensagem viva, transformando suas câmeras em memória eterna que desnuda o crime e rompe o muro do silêncio. O jornalismo palestino, apesar do sangramento contínuo, segue como guardião fiel da memória coletiva e primeira linha de defesa da verdade diante de uma das mais ferozes máquinas de falsificação da era moderna.

Edição de texto: Alexandre Rocha

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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