Nesta segunda-feira (11), o comandante-chefe dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou tropas da Guarda Nacional às ruas de Washington e colocou a polícia metropolitana sob comando do governo federal. Para isso, empregou uma série de dados distorcidos sobre índices criminais a fim de justificar uma “emergência” e tomar o controle da segurança pública da capital estadunidense.
“Em Washington, hoje, a taxa de homicídio é mais alta que a de Bogotá, Colômbia, ou da Cidade do México, e de vários outros lugares que se ouve dizer que são os piores lugares da Terra”, declarou Trump em uma entrevista coletiva, acompanhado pela procuradora-geral, Pam Bondi, e pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth. O presidente indicou que cerca de 800 tropas da Guarda Nacional seriam posicionadas nos “próximos dias”.
A Ordem Executiva assinada pelo mandatário declara uma “emergência pública” e coloca os 3.400 integrantes da polícia metropolitana sob controle do Departamento de Justiça, com o novo administrador da agência antidrogas (DEA), Terry Cole, como comissário federal interino da polícia local.
“Algo está fora de controle, mas vamos controlá-lo muito rapidamente, como fizemos com a fronteira sul”, declarou Trump. “Estou anunciando uma ação para resgatar nossa capital nacional do crime, do derramamento de sangue, do caos e da miséria. Este é o Dia da Libertação em D.C. Vamos retomar nossa capital.”
O governo federal já designou centenas de agentes do Escritório Federal de Investigações (FBI), do Serviço de Controle de Migração e Alfândega (ICE), da Agência de Controle de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) e do Departamento de Segurança Interna para patrulhar as ruas da capital.
Realidade paralela
Como tem feito anteriormente, o mandatário usou uma série de afirmações distorcidas e, em alguns casos, simplesmente falsas, para justificar suas ações. Além de afirmar que o número de homicídios por 100 mil habitantes em Washington é maior que em Bogotá ou na Cidade do México, e que a capital tem uma das taxas de homicídio mais altas do país, alegou ainda altos índices de roubo de carros, entre outras crimes, tudo supostamente obra de “criminosos sanguinários, gangues de jovens selvagens, maníacos e pessoas sem-teto”. Aliás, como parte de seu novo plano, Trump afirmou que pretende deter todas as pessoas em situação de rua e deportá-las para “muito longe” da cidade.
Mas as estatísticas citadas por Trump são de 2023: na verdade, em comparação com aquele ano, a taxa de homicídios em 2025 caiu 65%. O número de roubos de carros caiu 75% no mesmo período, segundo dados oficiais do governo municipal. De acordo com o FBI, o crime violento na capital caiu 35% em 2024, comparado com o ano anterior, estando agora no nível mais baixo dos últimos 30 anos.
“Não estamos enfrentando aumento no crime”, declarou a prefeita de Washington, Muriel Bowser, algo reiterado por outros funcionários da cidade.
Controle federal: a meta de Trump
Diante da notícia, centenas de residentes da capital marcharam imediatamente em frente à Casa Branca com cartazes dizendo: “Não à Guarda Nacional”, “Não à Gestapo em D.C.” e “Fora Trump”. Porém, apesar dos protestos, a Constituição dos Estados Unidos estabelece que os residentes da capital, como distrito federal, não têm direito a representantes com poder de voto no Congresso, e a cidade só passou a ser governada por um prefeito a partir de 1967.
O status excepcional da capital como distrito federal ofereceu ao presidente uma rota fácil para declarar uma emergência, cumprir sua ameaça de ampliar os poderes presidenciais e tomar o controle de uma cidade com governo local democrata. Durante sua campanha eleitoral, Trump ameaçou que, diante do “caos” em certas cidades ou estados controlados por prefeitos e outros funcionários do Partido Democrata, ele imporia ordem assumindo o controle federal da segurança pública nessas entidades. Questionado nesta segunda-feira (11) sobre se as medidas aplicadas a Washington poderiam ser usadas em outras cidades, o presidente mencionou Chicago, Los Angeles e Nova York, mas não ofereceu um cronograma para isso.
De fato, seria muito mais difícil tomar o controle da segurança pública nessas cidades legalmente, como ficou ilustrado em sua tentativa limitada de intervir em Los Angeles com o envio da Guarda Nacional e até dos Fuzileiros Navais.
A Casa Branca divulgou imagens do corpo ensanguentado de um ex-assistente no governo Trump, Edward Coristine — conhecido pelo apelido “Huevos Grandes” no Twitter — que foi agredido em uma tentativa de roubo de seu carro por duas meninas de 15 anos há algumas semanas. O governo publicou ainda vários relatos trágicos de vítimas de crimes que morreram. “Vamos acabar com os bairros marginalizados”, declarou Trump. “Queremos segurança nas ruas.”
Mas não seria uma coletiva de imprensa de Trump se o mandatário não vinculasse pelo menos parte da violência a estrangeiros, sugerindo que políticos fracos com ideias liberais estão entre os responsáveis por esta “emergência” criminal. Em sua coletiva na Casa Branca nesta segunda-feira (11), Trump se queixou de que tem sido impedido de permitir que a polícia faça seu trabalho. A razão, segundo ele, são regulações que condicionam como os agentes podem responder a ataques contra eles realizados por residentes e manifestantes. Nesse sentido, prometeu que não haverá restrições à ação da polícia local nessas situações. “Eles estão autorizados a fazer o que demônios quiserem”, advertiu, acrescentando que “se um criminoso cuspir neles, a polícia deve bater, e bater com força”. Também prometeu anular leis locais que permitem que acusados sejam liberados sob fiança enquanto aguardam julgamento, assim como legislações que concedem indulgência a jovens menores de 18 anos que cometem crimes.
A Associação de Prefeitos Democratas, cujas cidades são alvo dessas ações, declarou nesta segunda-feira (11): “Sejamos claros: o crime tem diminuído na maioria das principais cidades — incluindo Washington D.C. — apesar de Donald Trump, não por ele. Enquanto há mais trabalho a fazer, os prefeitos precisam de um parceiro federal que trabalhe com eles, e não contra eles.”
Conflitos no Texas
50 legisladores estaduais democratas do Texas enfrentaram novas ameaças de seu governador e até ameaças de violência por parte de extremistas de direita por adotarem medidas para impedir a exigência do presidente Donald Trump de manipular as leis eleitorais de seu estado para tentar manter seu controle em Washington, uma batalha que agora se tornou uma disputa política nacional.
Essa batalha política foi desencadeada quando Trump solicitou que os republicanos do Texas redesenhassem o mapa dos distritos eleitorais do estado de modo a aumentar em cinco o número de cadeiras no Congresso federal sob controle republicano. Nos Estados Unidos, o desenho dos distritos eleitorais pelo partido que controla cada estado é uma verdadeira arte, historicamente usada para negar representação efetiva a minorias, sobretudo afro-americanos, e aos pobres. Como resultado do movimento pelos direitos civis dos anos 60, o Congresso federal aprovou uma legislação para limitar esse tipo de manipulação e garantir os direitos de voto em todo o país. Em 2013, partes essenciais dessa lei foram anuladas pela Suprema Corte dos Estados Unidos.
O consenso entre analistas é que é muito provável que o Partido Republicano de Trump perca sua maioria no Congresso federal nas eleições intermediárias de 2026; por isso, busca alterar o mapa eleitoral.
“Trump está tentando roubar essas cinco cadeiras no Texas, porque sem elas ele perderá a maioria na Câmara dos Representantes”, explicou o ex-deputado texano e ex-candidato a governador democrata Beto O’Rourke. Até esta quarta-feira, os esforços do governador republicano Greg Abbott e dos legisladores estaduais para aprovar os novos mapas eleitorais têm sido frustrados porque não podem avançar sem quórum, o número mínimo de legisladores presentes no congresso estadual, resultado de cerca de 50 legisladores democratas terem deixado o estado justamente para impedir o procedimento.
O’Rourke declarou à CNN que, se os legisladores estaduais democratas mantiverem sua disciplina, estarão não apenas protegendo os direitos dos eleitores do Texas, mas de toda a nação. “Creio que o que estão alcançando é a mais alta forma de serviço público. Estão tentando frear a consolidação do poder autoritário nos Estados Unidos.”
Mas Trump e Abbott intensificaram sua ofensiva. Os republicanos do Texas ordenaram a prisão dos democratas ausentes. Nesta quarta-feira, o governador ameaçou declarar “vagas” as cadeiras ocupadas pelos democratas caso eles não se apresentem até o final da semana. Analistas apontam que essas medidas podem não ser legais e talvez não possam ser implementadas a tempo para aprovar os novos mapas.
Nem todas as ameaças foram “legais”. O hotel em Illinois onde vários democratas texanos estão “escondidos” da legislatura foi evacuado por uma ameaça de bomba.
A ação desses legisladores democratas fortaleceu o movimento contra Trump. Enquanto os líderes nacionais democratas, inclusive os dois líderes da minoria na Câmara e no Senado em Washington, foram em grande parte ineficazes e cada vez mais criticados por sua atuação hesitante diante de Trump, os governadores democratas de três estados declararam que, se o Texas seguir adiante com seu intento de aumentar o número de cadeiras controladas por republicanos no Congresso nacional, responderão com medidas semelhantes para alterar os mapas eleitorais e aumentar as cadeiras federais para democratas em seus estados.
O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, declarou esta semana que, se o Texas prosseguir com seu plano, impulsionará uma ação no Congresso local para redesenhar o mapa eleitoral do estado com o maior número de deputados federais do país. Seu colega em Illinois, JB Pritzker, e a governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, também manifestaram intenções semelhantes.
Essas respostas provocaram que republicanos agora expressem preocupação de que as consequências da manobra no Texas possam colocar em risco seus futuros políticos. Vários legisladores republicanos federais agora avisam que promoverão leis para proibir o redesenho dos distritos eleitorais fora do processo formal que ocorre a cada 10 anos, baseado nos dados do censo nacional.
Em um comício na capital do Texas, Austin, nesta semana, o deputado federal Greg Casar, filho de imigrantes mexicanos e cuja cadeira poderia ser eliminada pela manobra republicana, declarou: “Imaginem outro país, onde um presidente corrupto tentasse mudar drasticamente as leis eleitorais pouco antes de uma eleição, e seu aliado político ameaçasse remover todos os políticos eleitos da oposição para alcançar seus objetivos. Diríamos que a democracia naquele outro país está prestes a acabar. Mas isso não está acontecendo em outro país, isso está acontecendo agora nos Estados Unidos. Isso é o que enfrentamos, o que os texanos enfrentam, e é por isso que vamos lutar com toda força para impedir.”
4 em cada 5 condenados por narcotráfico são estadunidenses
A esmagadora maioria – mais de 80% – dos condenados pelo delito federal de tráfico de drogas nos Estados Unidos são cidadãos estadunidenses. Quatro de cada cinco pessoas presas por tráfico de fentanil no país também são cidadãos estadunidenses, segundo dados oficiais.
No contexto do crescente coro de acusações contra o México por seu suposto papel no consumo de drogas ilícitas nos Estados Unidos, o jornal La Jornada examinou os dados disponíveis sobre quem são os detidos e encarcerados por tráfico de drogas dentro dos EUA e quem transporta essas substâncias para o país a partir do exterior.
Os dados do governo estadunidense confirmam que mexicanos e outros estrangeiros participam do tráfico de drogas, mas a esmagadora maioria dos condenados por esse crime são cidadãos estadunidenses.
Os Estados Unidos têm uma das maiores populações carcerárias per capita do mundo. Após uma década de queda, o número de pessoas encarceradas voltou a subir a partir de 2022, segundo os dados mais recentes do Sentencing Project, um centro de pesquisas independente dedicado à justiça penal.
Quase 2 milhões de pessoas estão presas, de acordo com a Prison Policy Initiative, outro projeto apartidário voltado ao estudo do encarceramento em mais de 5 mil prisões e centros de detenção federais, estaduais e locais.
Quase um milhão de pessoas são presas todos os anos nos EUA por delitos relacionados às drogas, a maioria por simples posse. Nem todos são efetivamente encarcerados. “Dos quase 2 milhões atualmente presos nos Estados Unidos, um em cada cinco está na cadeia por algum crime relacionado a substâncias ilícitas”, informa a Drug Policy Alliance, outra organização independente que defende a descriminalização das drogas e a adoção de um modelo de saúde pública para tratar a dependência química.
Já os acusados por tráfico de drogas nos Estados Unidos são julgados em tribunais federais e encarcerados em prisões federais.
Dos 154.155 indivíduos presos em instituições federais até março de 2025, 62.260 – aproximadamente 40% – cumprem pena pelo crime de “tráfico de drogas”, segundo a United States Sentencing Commission, uma agência oficial autônoma vinculada ao Poder Judiciário dos EUA.
Sem resposta governamental
La Jornada solicitou dados sobre a nacionalidade dos indivíduos que cumprem pena em prisões federais por exercerem “papel de liderança ou supervisão” no narcotráfico, mas um porta-voz da United States Sentencing Commission respondeu que a agência não fornece ao público informações sobre o percentual de cidadãos estadunidenses nesse perfil.
Tendência de alta
Essas tendências seguem em alta. Oitenta% dos condenados pelo crime federal de tráfico de drogas no ano fiscal de 2024 – dados mais recentes – também eram cidadãos estadunidenses. De acordo com uma análise da Sentencing Commission entre 1991 e 2024, a droga ilícita mais traficada nos EUA é a metanfetamina, responsável por 54% das condenações. A segunda é a cocaína em pó (17,3%) e a terceira nesse período foi o fentanil (11,9%).
Entre 84 e 85% dos traficantes de fentanil e metanfetamina condenados eram cidadãos dos EUA, enquanto 38% dos condenados por cocaína em pó eram estrangeiros.
Dado que o governo Trump tem se concentrado em responsabilizar os cartéis mexicanos pelo tráfico de fentanil aos EUA, La Jornada buscou dados sobre quem de fato transporta essa droga para o país.
Diversos relatórios do governo dos EUA confirmam que mais de 80% do fentanil que entra no país é transportado por cidadãos estadunidenses por meio de pontos de entrada legais.
Dados oficiais obtidos pelo American Immigration Council confirmam que a grande maioria das pessoas presas por transportar fentanil do México para os EUA são cidadãos estadunidenses.
“Ao todo, 81,2% de todo o fentanil apreendido nos portos de entrada ao longo da fronteira sudoeste (especificamente sob as jurisdições regionais de San Diego, Tucson, El Paso e Laredo), entre os anos fiscais de 2019 e junho de 2024, foi transportado por cidadãos estadunidenses”, informou a organização em março deste ano.
Resultados da DEA
Os dados oficiais sobre apreensões de drogas ilícitas nos EUA são um tanto difíceis de comparar entre os anos e conforme o tipo de substância. Segundo o Departamento de Justiça, desde que Donald Trump assumiu a Casa Branca, em 20 de janeiro, até 15 de julho, a DEA (Agência de Repressão às Drogas) apreendeu 44 milhões de comprimidos de fentanil, o equivalente a 4.500 libras (2.041 quilos); quase 65 mil libras de metanfetamina (mais de 29 mil quilos); mais de 201.500 libras de cocaína (91.399 quilos) e realizou mais de 2.105 prisões relacionadas ao fentanil.
Binghamton em defesa de imigrantes
Binghamton, cidade universitária ao noroeste da cidade de Nova York, é uma das centenas de localidades nos Estados Unidos onde as medidas anti-imigrantes do governo de Donald Trump enfrentam oposição local sustentada que, em alguns lugares, tem sido uma faísca para criar novos movimentos políticos e até “ferrovias subterrâneas” para proteger os imigrantes.
Imagens e vídeos das redadas contra migrantes e dos confrontos com oficiais federais em grandes cidades como Los Angeles têm dominado as manchetes no país, mas além dessas imagens virais, o governo federal tem buscado ampliar seus operativos anti-imigrantes em povoados e comunidades, com a cooperação de autoridades locais e estaduais.
Esta semana foi revelado que o governo federal tem a intenção de mobilizar milhares de tropas da Guarda Nacional, as quais quase sempre estão sob o comando dos governadores, em estados com governos conservadores para auxiliar nas detenções de imigrantes, tanto em cidades grandes quanto em povoados, reportou o The New York Times. Mas também há esforços para recrutar forças de segurança pública locais, incluindo sua infraestrutura, para a agenda anti-imigrantes.
“As prisões locais tornaram-se parte essencial na implementação da agenda de detenções e deportação em massa de Trump. Isso porque, na maioria dos estados, essas prisões são as únicas instalações disponíveis para alojar pessoas detidas pelo Serviço de Controle de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês)”, reportou o Prison Policy Initiative.
A colaboração mais extensa com o governo federal nessa área ocorre em estados com governos republicanos conservadores, como Flórida e Texas, mas o Migration Policy Institute encontrou que muitas jurisdições locais mantêm políticas de “santuário” que proíbem ou limitam a cooperação das forças de segurança pública locais com as agências federais de controle migratório.
O governo de Trump está pressionando as autoridades locais a colaborar cada vez mais, entre outras coisas, abrindo suas prisões para deter migrantes. “Enquanto dados do ICE registram que 57.200 pessoas foram detidas em média em junho, uma contagem mais ampla mostra que o número de detidos no sistema migratório é 45% maior, em torno de 83.400 pessoas”, reporta o Prison Policy Initiative.
Apesar da pressão do governo federal, o Migration Policy Institute informa que quase 60% da população estadunidense vive em jurisdições que, até o final de julho, não haviam firmado acordos para cooperar com as autoridades migratórias federais.
Mesmo nas regiões onde acordos de cooperação foram firmados, há uma crescente oposição pública contra esses pactos.
A cidade de Binghamton e o condado de Broome, onde está localizada, são uma dessas áreas que rejeitam a cooperação. O xerife local, o conservador Frederick Akshar, assinou um acordo de colaboração com o ICE em março e, quase imediatamente, pessoas dentro da prisão local relataram um fluxo de novos presos que falavam espanhol ou outros idiomas. “As pessoas que normalmente visitamos nas prisões nos alertaram sobre essa tendência”, comentou o ativista local Bill Martin em entrevista ao La Jornada.
Cidadãos Preocupados de Binghamton, uma coalizão local que inclui igrejas, organizações de mulheres e outros grupos comunitários, tem trabalhado em defesa dos direitos das pessoas encarceradas naquele condado há anos, fazendo parte de uma coalizão estadual que conseguiu reduzir a população carcerária durante a última década, enquanto exige melhores condições para os presos, incluindo livros, acesso a advogados e visitas familiares.
Agora a população carcerária está crescendo, e os ativistas locais suspeitam que isso se deve ao aumento do número de imigrantes entre os detentos. Em resposta, a coalizão local de Binghamton dedica-se a realizar sessões de “conheça seus direitos” para estrangeiros na comunidade, com a distribuição de materiais educativos em inglês e espanhol.
“O ICE chega ao condado de Broome e o povo diz ‘não’”, declara um de seus panfletos.
Essa coalizão local também organiza formas de ajudar migrantes que temem sair de suas casas diante da ameaça das autoridades migratórias. Moradores de Binghamton disseram ao La Jornada que têm entregue alimentos, levado crianças às escolas e, em um caso, até organizaram um casamento clandestino para seus vizinhos imigrantes. “Isto é o novo ferrovia subterrânea”, comentou Martin, uma referência às redes clandestinas de abolicionistas que ajudaram a libertar e transportar escravos que fugiam das plantações no sul dos Estados Unidos no século XIX.
Mas os obstáculos são substanciais. Sobre a sede do xerife, ao lado da prisão, tremulam uma bandeira dos Estados Unidos, uma do estado de Nova York e uma de Israel. Martin e seus colegas ressaltam que o departamento de polícia é conservador e relatam uma longa história de abusos contra presos e até corrupção.
A coalizão estima que o número de imigrantes encarcerados pode ter chegado a 100 neste ano, mas com protestos locais contra as detenções e demandas por melhores tratamentos, tradução ao espanhol e mais transparência, esse número foi reduzido, e agora parece que não ultrapassa cinco ou dez nessa prisão, informa Martin. Além disso, o ativista aponta que apenas quatro dos 62 condados do estado de Nova York têm acordos com o ICE, em grande parte devido à ampla oposição pública.
“Uma rede estadual de resposta rápida cresce mês a mês”, diz Martin. “Defensores e abolicionistas desde a cidade de Nova York até a Rede de Justiça nas Prisões do norte do estado estão fazendo lobby em Albany por uma legislação que proibiria toda cooperação das forças de segurança pública locais com o ICE em todo o estado.”
Esse tipo de ação pode fazer parte de uma mudança nas táticas contra as medidas anti-imigrantes, de protestos para esforços de monitoramento e mobilização das comunidades locais quando as autoridades federais realizam suas operações.
“Fomos abandonados pelos tribunais, pela comunidade empresarial e pela classe política em Washington”, comentou Pablo Alvarado, cofundador da Rede Nacional de Organização de Diaristas (NDLON), ao The New York Times. “Tudo o que temos são nossos amigos, aliados e nós mesmos”, por isso uma das consignas da sua organização diz: “Só o povo salva o povo.”
No entanto, o que chama a atenção no condado de Broome, assim como em outras partes do país, é que recentemente o apoio aos imigrantes tem se ampliado para além deles próprios, incluindo igrejas, sinagogas e mesquitas, grupos comunitários amplos, alguns sindicatos, acadêmicos e até mesmo presos. Isso pode indicar um movimento crescente e inovador contra as políticas anti-imigrantes do governo Trump, as quais são rejeitadas por ampla maioria dos estadunidenses, segundo as pesquisas nacionais mais recentes.
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