A agressiva narrativa do governo dos Estados Unidos contra a Venezuela se intensificou nos últimos dias, gerando tensão no ambiente político e midiático, assim como reações dentro e fora das fronteiras da república bolivariana. As sistemáticas ameaças de Washington incluem vazamentos de notícias que relatam uma mobilização importante de elementos militares estadunidenses em direção à república bolivariana.
A resposta oficial do governo chavista tem sido mais uma demonstração de unidade e força do que propriamente discursiva. O presidente, Nicolás Maduro, realizou atos consecutivos relacionados a temas policiais e militares, nos quais projeta a mensagem de que a Venezuela está tranquila e pronta para defender sua soberania.
Em 20 de agosto, o chefe de Estado liderou um ato no qual incorporou a Milícia Nacional Bolivariana — regimento de reservistas com 4,5 milhões de tropas alistadas e quinto componente das Forças Armadas venezuelanas — ao dispositivo de segurança conhecido como “Quadrantes de Paz”, que articula policiais e militares com os 5.336 circuitos comunais, as unidades de organização política ativas nas comunidades.
O líder chavista convocou, para o último fim de semana, uma “jornada de alistamento e chamado às fileiras de todos os milicianos e de todo o povo que desejar dar um passo à frente para dizer ao imperialismo: basta de ameaças, a Venezuela se respeita”.
Maduro informou também que ativou o Sistema Defensivo Nacional, formado por todas as estruturas de condução políticas, governamentais, civis, militares e policiais do país, e que o mesmo está em sessão permanente. Assegurou que “a Venezuela voltará a triunfar sobre todas as ameaças extravagantes, estrambóticas e criminosas do imperialismo norte-americano”.
Ameaça permanente contra Venezuela
O ataque mais recente veio por parte do diretor da Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA), Terry Cole, que disse em entrevista à Fox News que “a Venezuela se converteu em um Estado narcoterrorista que continua colaborando com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o ELN (Exército de Libertação Nacional) da Colômbia para enviar quantidades recordes de cocaína da Venezuela aos cartéis mexicanos, que continuam a entrar nos Estados Unidos”.
Adicionalmente, a embaixada dos Estados Unidos na Colômbia, que atua como sede “encarregada” para a Venezuela, emitiu em 20 de agosto um alerta de viagem aos cidadãos estadunidenses, recomendando que não visitem a Venezuela ou que deixem o país, sob o argumento de “graves riscos de detenção ilegal, tortura durante a detenção, terrorismo, sequestro, práticas policiais injustas, crimes violentos e distúrbios civis”.
“Grotesco ardil”
As declarações de Terry Cole foram prontamente rebatidas pela vice-presidenta venezuelana, Delcy Rodríguez, que publicou uma resposta nas redes sociais afirmando que “os próprios relatórios da ‘agência’ que ele (Cole) dirige, chamados National Drug Threat Assessment dos anos 2024 e 2025, em nenhuma parte mencionam a Venezuela como um fator relevante no tráfico de drogas para os Estados Unidos”. Com isso, Rodríguez explicou que as agressões verbais do chefe da DEA não passam de um “grotesco ardil” que busca “sustentar a agressão contra a Venezuela”.
A essas declarações somaram-se as palavras do ministro da Defesa, general-chefe Vladimir Padrino López, que publicou nas redes sociais um vídeo no qual declara: “Digo aos Estados Unidos que não se atrevam a pôr as mãos aqui na Venezuela. Digo isso em nome da Força Armada Nacional Bolivariana, que sente isso no coração e no sangue”.
Solidariedade internacional
O respaldo à Venezuela e ao seu governo não se sente apenas dentro do país: também têm sido recebidas manifestações solidárias de vários governos da região latino-americana e até de outras partes do mundo.
Uma cúpula extraordinária da Aliança Bolivariana para Nossa América (Alba-TCP), realizada em 20 de agosto, foi encerrada com um comunicado de apoio ao presidente Nicolás Maduro e de rejeição ao deslocamento militar e às ameaças dos Estados Unidos. Esse documento foi assinado, além da Venezuela, pelos chefes de Estado de Cuba, Bolívia, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, Dominica, Granada e São Cristóvão e Névis.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, se pronunciou diversas vezes sobre a situação de ameaça vivida pela Venezuela. Por meio da rede social X, desmentiu que o tráfico de cocaína pela Venezuela seja obra de um suposto “Cartel dos Sóis”, como afirmam os Estados Unidos, e acrescentou: “Essa é uma mentira como as armas de destruição em massa do Iraque, e só serve para invadir países”.
O assessor da presidência do Brasil, Celso Amorim, também expressou sua preocupação com o deslocamento bélico estadunidense no Caribe. O porta-voz classificou a ação como um risco, acrescentando que o combate ao crime organizado deve ser feito, “mas com a cooperação entre os países e não com intervenções unilaterais”.
Em um tom muito mais morno, o escritório do secretário-geral da ONU, António Guterres, instou os Estados Unidos e a Venezuela a “resolverem suas diferenças por meios pacíficos” e a “exercerem contenção”.
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O que Guterres vê como “diferenças”, o governo chinês descreve com mais contundência ao manifestar seu repúdio à agressão estadunidense:
“Nos opomos ao uso ou à ameaça do uso da força nas relações internacionais e à ingerência externa nos assuntos internos da Venezuela sob qualquer pretexto”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning.
Por sua vez, o governo do Irã condenou, em um comunicado oficial, “a ameaça estadunidense de usar a força contra a soberania nacional e a integridade territorial da Venezuela”. Além disso, apontou que tais ações “constituem uma grave violação da Carta das Nações Unidas, em particular do Artigo 2, parágrafo 4, que proíbe o uso da força ou a ameaça contra Estados independentes”. O texto acrescenta que se trata de “uma clara demonstração do crescente desprezo do governo estadunidense pelas normas fundamentais do direito internacional”.
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