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“O teto no chão”: o plano de Israel para demolir em massa as últimas moradias de Gaza

Projeto inclui contratar empreiteiros civis israelenses e pagá-los conforme o número de casas derrubadas; é uma erradicação meticulosa da memória, dos símbolos e da geografia de Gaza

Em meio ao sangue e à fumaça, Israel não se contentou em incendiar casas na Faixa de Gaza, como fez no início da guerra de extermínio. Desta vez, foi além – rumo ao que se assemelha a um desarraigamento completo da vida – segundo um plano militar meticuloso conhecido como “o teto no chão”, revelado sem qualquer pudor por veículos da imprensa israelense, entre eles Haaretz e Yedioth Ahronoth.

Esse plano não é apenas um codinome militar: trata-se de uma metodologia de destruição remunerada, na qual empreiteiros civis são contratados para demolir residências em troca de pagamento, calculado de acordo com o número de edifícios reduzidos ao nível do solo. A guerra já não se resume a bombardeios indiscriminados, tampouco à dissuasão ou à retaliação contra a população: tornou-se uma guerra contra a moradia, contra o território, contra a própria existência.

A instituição militar israelense não escondeu suas intenções. Um de seus oficiais declarou, com todas as letras: “É simplesmente uma demolição em massa de casas… já não encontramos edifícios nos quais possamos nos instalar, destruímos tudo.” Uma confissão que não deixa margem a dúvidas: o que ocorre hoje em Gaza é uma purgação urbana generalizada, que ultrapassa o conceito tradicional de destruição em tempos de guerra e toma por alvo o espaço civil palestino como forma de resistência em si.

Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.

Enquanto o mundo ainda tenta calcular os números, as cifras falam por si:

Unidades habitacionais destruídas

  • ≈ 223 mil unidades destruídas totalmente
  • ≈ 134 mil tornaram-se inabitáveis
  • ≈ 212 mil sofreram danos parciais
  • ≈ 288 mil famílias estão sem teto
  • Mais de 2 milhões de deslocados forçados
  • Das 135 mil tendas, 117 mil já estão deterioradas
  • 261 centros de acolhimento foram atacados
E mesmo diante de tudo isso, o mundo assiste em silêncio (Foto: Hosny Salah, fotógrafo palestino em Gaza / Pixabay).

Cidades destruídas

  • Rafah: 89% de seus edifícios viraram escombros
  • Beit Hanoun: apagada do mapa
  • Cidade de Gaza: 78% de suas estruturas foram total ou parcialmente destruídas
  • Khan Yunis: cidade completamente devastada
  • Leste de Gaza: de Shujaiya a Deir al-Balah, a paisagem remete a um pós-terremoto – mas aqui, causado por mãos humanas

Infraestrutura e símbolos

  • 156 instituições de ensino destruídas por completo
  • 382 instituições de ensino parcialmente danificadas
  • 833 mesquitas destruídas totalmente
  • 178 mesquitas danificadas
  • 3 igrejas atacadas diversas vezes
  • 40 cemitérios destruídos, de um total de 60

É uma erradicação meticulosa da memória, dos símbolos e da geografia. O objetivo já não é apenas expulsar os habitantes, mas privá-los de qualquer vestígio de sua presença: do abrigo ao túmulo, da escola ao templo.

E mesmo diante de tudo isso, o mundo assiste em silêncio. As frases de preocupação vindas das capitais ocidentais e os apelos emitidos por instituições internacionais nada alteram diante da maior destruição urbana deliberada do mundo contemporâneo – executada às claras, com a anuência implícita das grandes potências.

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Apesar de tudo, Gaza não desaba. A cidade que está sendo nivelada ao chão reconstrói-se na memória dos que ainda resistem. Em Gaza, uma casa não é feita apenas de pedra — mas de pertencimento, memória e obstinação. Cada novo monte de escombros é testemunho da violência da ocupação e prova de que a vida nesta terra não se rende, por mais brutais que sejam os massacres.

Edição de texto: Alexandre Rocha

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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