Os protestos no Equador contra as políticas neoliberais de Daniel Noboa mobilizam indígenas, estudantes e sindicatos. A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) exige a revogação do aumento do diesel, denuncia a repressão e cobra respeito aos direitos sociais e coletivos.
Além disso, o movimento indígena reclama a redução do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 15% para 12%; o fim das concessões de exploração mineira, cuja expansão ameaça os territórios comunitários; a proibição do alargamento da exploração petrolífera na Amazônia; a libertação de 12 pessoas presas em Otavalo, província de Imbabura; e o respeito ao direito de protesto.
Paralisação nacional e rejeição às propostas do governo
O presidente da Conaie, Marlon Vargas, disse que a paralisação nacional vai prosseguir também para reivindicar soluções para a crise na saúde e na educação pública, além de segurança para todos os equatorianos.
Explicando que os protestos rejeitam a consulta popular e a proposta de uma Assembleia Constituinte apresentadas pelo governo neoliberal – por não resolverem os problemas do país –, Vargas exige também ao Executivo equatoriano o fim imediato da repressão e da violência contra os povos indígenas e os cidadãos em geral, referindo que a paralisação nacional não procura a confrontação, mas respostas concretas a exigências históricas, informa a TeleSur.
Assassinato de líder indígena em Imbabura
Em entrevista coletiva de imprensa, na segunda-feira (29), o dirigente da Conaie solicitou uma investigação internacional sobre o assassinato de Efraín Fueres, indígena morto pelas forças de segurança em Cotacachi (província de Imbabura), durante os protestos.
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O assassinato do líder kichwa evidencia a violência exercida pelas forças destacadas pelo governo de Noboa contra as mobilizações populares, denuncia Vargas.
Não somos terroristas, somos povos originários
Os dirigentes de comunidades indígenas responsabilizam diretamente o governo e o Estado equatorianos pelas violações de direitos humanos ocorridas ao longo das jornadas de protesto, repudiam as políticas de Daniel Noboa e rejeitam as tentativas de criminalizar o movimento indígena.
No âmbito das manifestações, que começaram no último 22 de setembro, estão registrados até esta terça-feira (30) um morto, 48 feridos e mais de cem presos, com a Conaie declarando que não se retrocede até que seja revogado o aumento do diesel (de US$ 1,80 para US$ 2,80 por galão), enquanto o governo descarta qualquer tipo de negociação.
O movimento indígena também rejeita as acusações do governo de que seus membros “são terroristas ou são financiados pelas máfias do narcotráfico”.
“Não somos terroristas, somos povos originários”, afirma Alberto Ainaguano, presidente da Confederação de Povos da Nacionalidade Kichwa (Ecuarunari), frisando que as “decisões de luta” se constroem coletivamente.
“Na estrutura do movimento indígena jamais se decidem duas, três, quatro pessoas. Para tomar cada decisão se ouvem os povos, as organizações, as nacionalidades”, diz, citado pela TeleSur.
Por sua vez, a vice-presidente da Conaie, Ercilia Castañeda, pede que o presidente Noboa abandone o seu “posicionamento de guerra” e preste atenção às reivindicações sociais, ao mesmo tempo em que denuncia a “ditadura” que se vive no país sul-americano.
Pressão na Assembleia Nacional do Equador
Nesta terça-feira (30), representantes da Conaie compareceram à Assembleia Nacional do Equador para expor à Comissão de Garantias Constitucionais e Direitos Humanos as razões do protesto e denunciar a violência da resposta governamental.
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Nesse sentido, solicitaram que seja aberto um processo contra os ministros do Interior e da Defesa, por alegada responsabilidade na repressão exercida pelas forças militares e policiais.
Também em Quito, capital do país, organizações estudantis e sindicatos se mobilizaram contra o aumento do preço do diesel, assim como para denunciar a falta de medicamentos, o desemprego e a insegurança.
Entretanto, o governo diz que há militares sequestrados em comunidades indígenas e exige a sua libertação. O presidente da Conaie, no entanto, respondeu que “isso é apenas uma invenção para entrar no território, assassinar e fuzilar”.

