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Missão humanitária da flotilha para Gaza desafia Israel com apoio de 16 países, incluindo o Brasil

A flotilha humanitária para Gaza navega os últimos quilômetros que a separam do enclave. Ao mesmo tempo, Israel intensifica na Faixa a invasão por terra, causa do deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos.

Do porto siciliano de Portopalo di Capo Passero partiu grosso da Global Sumud – como se denomina a flotilha – que poderia aumentar o número de suas embarcações no trajeto de 1.087 milhas náuticas.

A flotilha para Gaza avança pelo Mediterrâneo

Às primeiras que saíram de Barcelona em 31 de agosto foram se somando mais naves em Túnis e na Itália. Se espera que ocorra o mesmo com outras da Grécia, Líbia e Egito, os últimos países a caminho de Gaza.

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Também cresceu a quantidade de tripulantes, entre os quais viajam eurodeputados, legisladores de distintos países, inclusive os deputados argentinos Celeste Fierro e Juan Carlos Giordano, da Frente de Esquerda.

Alguns navios que tiveram problemas de manutenção, dificuldades no mar e com os ataques com drones que provocaram incêndios no Família e no Alma, em Túnis, demoraram a flotilha, mas não a desviaram de seu propósito.

“Zarpamos, e desta vez não nos deteremos”, informou a porta-voz italiana da Global Sumud, María Elena Delia. Também disse que “não é fácil reunir tantas embarcações”.

Apoio diplomático e solidariedade internacional

A missão humanitária, que foi definida pelo Ministério de Relações Exteriores de Israel como “uma iniciativa jihadista a serviço da agenda do grupo terrorista Hamas”, segue em direção a Gaza.

Mas agora conta com o apoio diplomático de 16 países que assinaram uma declaração conjunta pedindo proteção para a flotilha e respeito ao direito internacional.

O texto foi assumido pelos governos de Bangladesh, Indonésia, Irlanda, Líbia, Malásia, Maldivas, México, Paquistão, Catar, Omã, Eslovênia, África do Sul, Espanha e Turquia, além de Brasil e Colômbia pela América do Sul. Da Global Sumud é solicitado a cidadãos de mais países que solicitem a suas autoridades apoio à flotilha, caso não subscrevam o documento.

O neto de Nelson Mandela viaja na flotilha com destino a Gaza.

Políticos, artistas e ativistas a bordo da flotilha a Gaza

O argentino Jorge González conduzia o navio Isabel, que por problemas técnicos não pôde continuar até Gaza a partir de Túnis. Durante a parte da viagem que conseguiu realizar, compartilhou um vídeo com outro capitão, o catalão Jordi Coronas, vereador da província de Barcelona pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), um partido independentista.

Na imagem se via o comandante do Adara, uma escuna das maiores da flotilha, que explicava: “Era um orgulho e um privilégio navegar com gente jovem, mais jovem que estava demonstrando que era possível, neste mundo louco à deriva, contar com pessoas comprometidas, que tinham valores e que são capazes de transmiti-los com coragem e determinação como estão demonstrando”.

A bordo das distintas embarcações viajam políticos, artistas e referências na luta pela Palestina, como a ativista Greta Thunberg, a ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau, e o brasileiro Thiago Ávila, um dos organizadores da missão humanitária.

A jovem sueca disse, sobre o objetivo que buscam desde que zarpou a flotilha: “Nossa missão é pacífica e completamente legal. A atenção global deve manter-se na Palestina. Não importa que ameaças tenhamos que enfrentar: não se pode comparar com a que suporta um palestino”.

A memória de Shireen Abu Akleh e o jornalismo sob ataque

Desta vez foi possível juntar uma quantidade de embarcações que superou as expectativas; como parte da flotilha vai o Shireen Abu Akleh, que é um navio de apoio legal, segundo informou a página oficial da Global Sumud.

O nome desta nave homenageia a jornalista palestino-estadunidense assassinada pelo exército de Israel durante uma cobertura no acampamento de refugiados de Yenín, em 11 de maio de 2022.

Tinha 51 anos quando a mataram e estava trabalhando para a rede Al Jazeera, onde trabalhou quase metade de sua vida. Durante sua carreira foi uma das cronistas mais importantes do mundo árabe.

Segundo os Repórteres sem Fronteiras (RSF), mais de 210 jornalistas foram assassinados até princípios de setembro pelo exército israelense na Faixa de Gaza, em quase 23 meses de operações militares do regime de Netanyahu.

“Entre eles, pelo menos 56 foram alvo deliberado do exército israelense por serem jornalistas ou morreram no exercício de seu trabalho”, informou a RSF.

Por estes fatos, a organização leva quatro denúncias que foram apresentadas à Corte Penal Internacional (CPI) por crimes de guerra cometidos pelo exército israelense contra jornalistas em Gaza durante os últimos 22 meses.

Alguns dos jornalistas embarcados na flotilha recordaram com emoção Shireen Abu Akleh:

“Navegamos levando seu nome como testemunho, junto a todos aqueles que continuam informando sob fogo inimigo. Esta missão é era política. Se trata da dignidade humana, da liberdade e do direito dos palestinos de viver”.

Crescem as dificuldades e a cumplicidade dos EUA

À medida que se aproxima de Gaza, a flotilha encontra cada vez mais dificuldades, e disso sabe muito bem um experimentado capitão como o espanhol Coronas: até certo ponto, “tivemos mais facilidades porque havia portos seguros para poder entrar e sair e, portanto, fazer os reparos. Mas agora estamos em navegação sem escalas, razão pela qual é preciso ter tudo o que é necessário a bordo, pelas incertezas de agora e pelo que vai acontecer, considerando os antecedentes que sofremos”. Isso ele antecipou em Túnis, em 13 de setembro.

À invasão por terra, que provocou um deslocamento forçado a partir da capital de Gaza em direção ao sul, se somaram outras duas situações que descrevem até onde chega a cumplicidade dos Estados Unidos com o regime sionista. A primeira foi o veto do governo de Trump, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a uma resolução conjunta de todos os demais países que o integram. O texto exigia um cessar-fogo em Gaza.

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O documento foi apresentado por Argélia, Dinamarca, Eslovênia, Grécia, Guiana, Paquistão, Panamá, República da Coreia, Serra Leoa e Somália, que não são membros permanentes. Além disso, teve o apoio de todos os integrantes permanentes: Rússia, China, França e Reino Unido, com exceção dos Estados Unidos.

O veto ocorreu exatamente na sessão número 10 mil do Conselho, que é o encarregado de manter a paz e a segurança internacionais, embora frequentemente se torne inócuo devido ao poder de impugnação que têm as grandes potências.

A segunda situação foi o discurso que fez, na Jerusalém ocupada, o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee. Em uma intervenção carregada de simbolismos religiosos, declarou: “Há 4.000 anos, em Jerusalém, Deus escolheu os judeus como o povo eleito, com o propósito de encher de luz o mundo. Os que não somos judeus agradecemos aos judeus por dar-nos uma base de decência, moralidade e civilização a todos”..

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