A Rússia rechaça declarar um cessar-fogo no vizinho país eslavo, embora esteja disposta a negociar o fim do seu conflito bélico com a Ucrânia. Essa é a mensagem principal da entrevista — divulgada em 7 de julho pela chancelaria russa — concedida pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, ao jornal húngaro Magyar Nemzet.
Na conversa, Lavrov detalhou os pontos que o Kremlin reforça que a Ucrânia deve ceder para que se possa assinar um tratado de paz que ponha fim à guerra.
Antes de tudo, a Rússia “quer uma paz duradoura e não um cessar-fogo. Não precisa de uma pausa, como o regime de Kiev e seus patrocinadores externos promovem para reagrupar tropas, continuar o recrutamento e fortalecer seu potencial bélico”.
Segundo Lavrov, não haverá paz até que “se reconheçam de forma legal e a nível internacional as novas realidades territoriais”, como denomina o Kremlin a anexação de Donetsk, Lugansk, Kherson, Zaporíjia e, antes, da Crimeia.
Ele sustenta que “seus habitantes decidiram seu futuro mediante a livre expressão de sua vontade em referendos”. A agenda russa do dia contempla “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia, assim como “anular todas as sanções contra a Rússia, retirar os processos contra a Rússia e devolver os ativos retidos ilegalmente no Ocidente”.
Para Lavrov, “é impossível alcançar um acordo estável sem eliminar as causas originárias”, sobretudo “suprimir a ameaça à segurança da Rússia com a expansão para o leste da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e as tentativas de envolver a Ucrânia nesse bloco militar”.
Ele acrescentou: “Não menos importante é garantir o respeito aos direitos humanos nos territórios que permaneçam sob controle do regime de Kiev”, o qual — conforme o chanceler russo — “desde 2014 eliminou tudo o que esteja relacionado com a Rússia: as pessoas russas ou russófonas, seu idioma, cultura, tradições, religião, e os meios de comunicação em russo”.
De acordo com Lavrov, todas essas exigências devem ser inscritas “com caráter jurídico vinculante” em um tratado de paz e, por fim, a Ucrânia deve cumprir o que foi proclamado em sua declaração de independência de 1990 e assumir-se como “um país neutro, à margem de blocos e com status não nuclear”.
Da mesma forma, o chanceler russo discorda de que a Rússia represente uma ameaça para a Europa, como disse o entrevistador, citando serviços de inteligência de vários países: “Talvez saibam mais do que nós, mas sobre nossos planos de ‘atacar a Europa’ ou mesmo de ‘ocupá-la’, nunca ouvi nada. Brincadeiras à parte, as elites governantes da Europa e da América do Norte estão criando insistentemente a imagem da Rússia como inimigo para obter o apoio da população, cansada dos problemas econômicos e sociais”.
Lavrov lamentou que a Europa tenha decidido “aumentar a avalanche de russofobia”, reanimar sua indústria militar e incitar a luta contra a Rússia. Ao afirmar que a União Europeia está se tornando um apêndice da Otan, concluiu: “É uma tendência perigosa, que pode trazer consequências difíceis de imaginar para todos os europeus”.
Putin: Rússia permanece firme em sua posição
Em conversa telefônica de 50 minutos de duração que o Kremlin qualificou de “fluida, sincera e concreta”, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse em 3 de julho a Trump que Moscou “não vai renunciar a alcançar seus objetivos” na Ucrânia, embora tenha se declarado disposto a seguir negociando um arranjo político.
A informação foi divulgada pelo assessor de política exterior e segurança de Putin, Yuri Ushakov. A conversação dos presidentes se centrou em dois temas relevantes: a guerra na Ucrânia e o conflito em torno do Irã e do Oriente Médio em geral, segundo Ushakov. “Naturalmente, discutiu-se o problema ucraniano. Donald Trump voltou a pleitear a questão de um imediato cessar-fogo” na Ucrânia, indicou.
Ushakov apontou ainda que o Executivo reiterou que a Rússia “continua buscando uma solução política e negociada para o conflito” e, após informar sobre os acordos de caráter humanitário (troca de prisioneiros e de cadáveres) alcançados na segunda reunião de negociadores, reforçou que “a parte russa está pronta para continuar as negociações”, embora, assegurou, “não se discutiu especificamente o conteúdo de uma possível terceira rodada” em Istambul.
Em relação à iniciativa promovida pelo presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, de realizar na cidade turca uma cúpula trilateral com Putin e Trump para tomar decisões que facilitem um acordo político, Ushakov afirmou: “Partimos do princípio — e creio que a parte estadunidense entende isso perfeitamente — de que as negociações serão bilaterais entre representantes da Rússia e da Ucrânia”.
O assessor de Putin acrescentou: “Nosso presidente também disse que a Rússia buscará que se cumpram os objetivos que fixados (na Ucrânia), ou seja, que sejam eliminadas as causas que todos conhecem e que provocaram a situação atual, a aguda confrontação que temos”. O chefe do Kremlin, nas palavras de Ushakov, enfatizou: “A Rússia não vai renunciar a alcançar esses objetivos”.
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Ao analisar “em detalhe” a situação em torno do Irã e do Oriente Médio, “a parte russa sublinhou a importância de solucionar todas as controvérsias e conflitos mediante métodos políticos e diplomáticos”, mencionou Ushakov, e assinalou que os mandatários “concordaram em continuar os contatos sobre esse tema por meio dos órgãos de política exterior, ministérios da Defesa e assessores presidenciais”.
Putin e Trump falaram também sobre os “acontecimentos recentes” na Síria e, nesse sentido, “as partes russa e estadunidense, de maneira análoga, prosseguirão o diálogo”, destacou.
No plano bilateral, os mandatários “mostraram interesse em implementar projetos econômicos promissores”, em particular em áreas como energia e exploração espacial”, finalizou o assessor da presidência russa.
“Não estou contente”
Por sua vez, horas depois, Trump afirmou que não conseguiu avanços com Putin para pôr fim à guerra na Ucrânia. O republicano fez essa avaliação em um momento em que as conversações de paz lideradas pelos Estados Unidos para encerrar o conflito — que já dura mais de três anos — estão estagnadas, e depois de Washington suspender alguns envios de armas a Kiev.
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“Foi uma ligação bastante longa; falamos de muitos temas, inclusive do Irã, e também, como sabem, da guerra com a Ucrânia. E não estou contente com isso”, declarou Trump a jornalistas, informou a AFP.
Ataques russos em 4 de julho
Poucas horas depois da conversação telefônica com seu homólogo estadunidense, Putin ordenou lançar 550 drones e mísseis na madrugada de 4 de julho. Foi até então o maior ataque contra a Ucrânia, centrando-se sobretudo em Kiev, sua capital, mas também nas regiões de Dnipro, Sumy, Kharkiv e Chernigov.
“Tratou-se de um dos ataques aéreos de maior magnitude, golpe demonstrativamente significativo e cínico”, escreveu Zelensky em suas redes sociais assim que cessaram os alarmes em Kiev, por volta das 9h da manhã daquele dia.
“Por isso – acrescentou – é muito importante que se mantenha o apoio dos aliados para neutralizar os mísseis balísticos: os sistemas (estadunidenses) Patriot são verdadeiros defensores de vidas.”
Trabalho conjunto
O mandatário ucraniano também teve uma conversa com Trump, na qual dialogaram sobre a proteção aérea e acordaram trabalhar em conjunto para aumentar a capacidade de Kiev de “defender os céus” diante da escalada dos ataques russos. Além disso, trataram da produção conjunta no setor de defesa, bem como de compras e investimentos compartilhados.
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Zelensky também parabenizou Trump pelas celebrações do 4 de julho e agradeceu o apoio proporcionado até então, apesar das fricções anteriores entre ambos.
O prefeito de Kiev, Vitaly Kiltschko, informou que 23 pessoas ficaram feridas, das quais 14 precisaram ser hospitalizadas. As demais receberam assistência médica no local, acrescentou.
De acordo com o informe divulgado pela força aérea ucraniana, o ataque russo consistiu em 539 artefatos aéreos não tripulados do tipo Shahed, de tecnologia iraniana, ou simuladores sem carga explosiva, bem como seis mísseis balísticos Iskander-M, quatro mísseis de cruzeiro Iskander-K e um foguete aero-balístico hipersônico X47-M2 Kinzhal (Punhal). A defesa antiaérea derrubou ou neutralizou 438 desses artefatos, embora em 33 locais não identificados tenham ocorrido danos provocados pelos fragmentos que caíram.
O comando militar da Rússia confirmou em 4 de julho o ataque e afirmou que foi realizado como “resposta aos atos terroristas do regime de Kiev”. Informou que “todos os alvos foram atingidos”, entre eles, “empresas que fabricavam drones de ataque, a infraestrutura de um aeródromo militar e uma refinaria”.
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Para os partidários da “operação militar especial”, com esse bombardeio noturno o Kremlin demonstra que ninguém irá lhe impor o que fazer na Ucrânia e, menos ainda, “renunciar a seus objetivos”. Para aqueles que consideram corretos os que promovem um cessar-fogo imediato, o ataque só dará a Trump motivos adicionais para sentir-se decepcionado com Putin e para autorizar o envio de mais armas à Ucrânia.
Contra-ataque
A Ucrânia respondeu enviando drones contra as regiões russas de Belgorod, Orlov, Lipetsk, Rostov, Umúrtia, Samara e Kursk, entre outras. Não foi informado o número de artefatos aéreos não tripulados disparados pela Ucrânia, apenas que 48 foram derrubados.
Na manhã de 4 de julho, o serviço de segurança da Ucrânia divulgou imagens em chamas do Instituto de Pesquisa em Química Aplicada da cidade de Serguiev Posad, na região de Moscou, que produz componentes termobáricos para os drones tipo Shahed. “Confirmamos ter atingido o alvo, há um forte incêndio e uma grande coluna de fumaça”, afirmou o comunicado.
Um dia antes, em 3 de julho, o subcomandante em chefe da Armada russa, Mijail Gudkov, e dez oficiais de alto escalão morreram quando vários mísseis (estadunidenses) Himars atingiram o quartel-general da brigada 155 de infantaria naval, na região russa de Kursk, fronteiriça com a Ucrânia, conforme relatado por blogueiros que apoiam a “operação militar especial”.
Oleg Kozhemiako, governador da região de Primorie, no outro extremo da Rússia, onde essa brigada da Frota do Pacífico tem sua base permanente – agora deslocada para Kursk –, confirmou a morte de Gudkov em uma mensagem de condolências no Telegram: “Morreu cumprindo o dever de oficial junto com seus companheiros de armas. Ao ser nomeado subcomandante em chefe da Armada, não deixou de visitar as posições dos nossos fuzileiros navais.”
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Tanto Rússia como Ucrânia informaram em 4 de julho que foi realizada uma nova “troca sanitária”, como chamam o intercâmbio de prisioneiros que foram gravemente feridos ou ainda necessitam de tratamento médico – a oitava desde que foi acordada no segundo encontro de negociadores em Istambul, em 9 de abril passado.
Ataques russos em 9 de julho
Já na madrugada de 9 de julho, a Rússia disparou 728 drones e 16 mísseis balísticos e de cruzeiro contra diferentes regiões da Ucrânia, o maior ataque aéreo em um mesmo dia desde que começou a guerra, em fevereiro de 2022, superando a ofensiva de 4 de julho.
O golpe foi desferido pouco depois de Trump anunciar que está pronto para retomar o envio de armamento à Ucrânia, ao mesmo tempo em que considera aplicar severas sanções contra os países que comprem petróleo, gás e outras matérias-primas russas. Antes, ele afirmou ainda que Putin “diz muitas bobagens, é muito amável, mas o que diz não faz nenhum sentido”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, minimizou os insultos de Trump contra seu chefe e disse que se devem ao peculiar estilo de falar do republicano, acrescentando que Moscou confia em seguir o diálogo com Washington.
Peskov não comentou a ameaça de Trump de “bombardear essa merda de Moscou”, que veio à tona em um áudio divulgado pela emissora estadunidense CNN, supostamente dito pelo republicano a seus investidores em plena campanha eleitoral.
Desta vez, a cidade ucraniana mais afetada foi Lutsk, capital da região de Volínia, na fronteira com a Polônia, no noroeste do país. Segundo seu prefeito, Igor Polischuk, os russos lançaram contra Lutsk 55 drones e 5 mísseis, dois deles hipersônicos de lançamento marítimo Kinzhal (Punhal). “Por sorte, não temos informação sobre nenhuma morte”, acrescentou.
Zelensky comentou o ataque noturno massivo, qualificando-o de “demonstrativo” por ocorrer “justo quando tantos esforços estão sendo feitos para alcançar a paz, para estabelecer um cessar-fogo, que a Rússia – no entanto – é a única a rejeitar completamente”.
O bombardeio russo também causou danos por toda a Ucrânia: em Dnipro (leste), Zhitomir (oeste), Kiev e Kirovogrado (centro), Mikolaiv (sul), Sumy (nordeste), Kharkiv (leste), Khmelnytskyi (oeste), Cherkasy (centro) e Chernihiv (norte).
O Ministério da Defesa da Rússia confirmou os bombardeios e afirmou que “o ataque bem-sucedido teve como alvo infraestruturas de aeródromos militares” da Ucrânia.
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As autoridades ucranianas, alegando que o levantamento de danos ainda não foi concluído, falam em edifícios e empresas atingidos por impactos diretos ou fragmentos de artefatos derrubados, mas não ofereceram dados sobre o presumível número de vítimas mortais e feridos. Espera-se, no entanto, que o saldo seja muito menor do que nas semanas anteriores por duas razões: a Rússia está enviando não apenas drones com carga explosiva, mas também, cada vez mais, um número indefinido de simuladores cuja única função é desgastar a defesa antiaérea da Ucrânia; e, segundo, porque a força aérea ucraniana aprimorou seus métodos para neutralizar esse tipo de ataque, usando mais unidades móveis de projéteis terra-ar e drones próprios para interceptar os drones russos.
Tanto a Rússia como a Ucrânia correm para fabricar mais drones, que já se tornaram o sinal distintivo desta guerra. Não há dados verificáveis de nenhuma das partes, mas o comandante das Forças de Sistemas Não Tripulados da Ucrânia (ramo encarregado da guerra com drones), Robert Brovdi, disse, em 4 de julho, que está próximo o dia em que o exército russo poderá lançar um ataque com mil drones.
Enquanto isso, segundo o relatório diário da força aérea da Ucrânia, seus mísseis, recursos de guerra eletrônica, grupos móveis de projéteis terra-ar e aparelhos aéreos não tripulados conseguiram neutralizar, na última quinta-feira (11), 718 artefatos de ataque russos, dos quais foram derrubados 303, além de 296 drones e sete mísseis de cruzeiro Iskander.
O comando militar russo, por sua vez, tem divulgado exclusivamente a quantidade de drones inimigos que derruba a cada noite, sem relatar os danos causados por essas incursões.
Assim, na madrugada da última quinta-feira (10), a defesa antiaérea russa derrubou 86 aparelhos aéreos não tripulados, seis dos quais se dirigiam a Moscou, de acordo com o prefeito da capital russa, Serguei Sobianin, e outros funcionários.
Uma das consequências desse tipo de ataque é o caos que afeta os aeroportos de Moscou e São Petersburgo, sobretudo, que são obrigados a cancelar ou atrasar muitos voos diariamente, gerando aglomerações de passageiros e prejuízos milionários às companhias aéreas.
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Às vezes, os porta-vozes oficiais russos, ao contrário, concentram-se em um único caso. Como exemplo, a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zajarova, exortou na última quarta-feira (9) “todas as pessoas de boa vontade” no mundo a condenar “o ato terrorista do regime de Kiev”, que na terça-feira (8), segundo palavras do governador de Kursk, Aleksandr Jinshtein, “bombardeou deliberadamente uma praia dessa região fronteiriça com a Ucrânia, ferindo uma criança de cinco anos que cobriu com seu corpo a mãe”. O menino faleceu na quarta-feira (9) quando era transportado de avião para um hospital em Moscou.
Rússia bloqueia celulares
Milhões de trabalhadores imigrantes na Rússia, e também qualquer residente estrangeiro que não possua passaporte diplomático, podem ficar marginalizados por não conseguir acessar seu telefone celular: as autoridades russas decidiram bloquear os números dos cidadãos de outros países que não forneceram seus dados biométricos.
Não se trata apenas de ficar virtualmente incomunicável: ter celular na Rússia é obrigatório para abrir uma conta bancária e realizar uma infinidade de trâmites, incluindo serviços básicos, como o seguro médico ou a escola dos filhos.
Pouco mais de dois milhões de estrangeiros já cumpriram o requisito, mas os que não o fizeram podem ficar sem telefonia móvel e, consequentemente, também não poderão acessar a internet. Antes que todos os serviços vinculados ao seu número de celular sejam cancelados, as pessoas em situação irregular têm 30 dias para cumprir o difícil trâmite burocrático.
O primeiro passo é solicitar um número da seguridade social da Rússia (SNILS), para o qual é necessário apresentar uma tradução do passaporte legalizada por um notário. Com isso, será possível se cadastrar no Gosuslugui, a plataforma on‑line do governo russo. Cumpridas essas duas condições, será possível abrir uma conta bancária que ficará vinculada ao seu celular.
Depois, é preciso marcar horário em uma agência bancária habilitada para registrar os dados biométricos: fotografia do solicitante, impressões digitais e gravação de voz. Isso acaba sendo, até certo ponto, redundante para qualquer pessoa que tenha entrado na Rússia após 1º de dezembro de 2024, quando se tornou obrigatória, em aeroportos e passagens terrestres, a coleta de foto e impressões digitais de todo estrangeiro, salvo diplomatas e menores de idade.
Em seguida, o trâmite continua em um ponto de atendimento da operadora de telefonia móvel, que deve verificar se o cliente possui SNILS e telefone, além dos aplicativos do Gosuslugui e do seu banco, ambos com biometria habilitada. Assina‑se um novo contrato e o chip SIM (Subscriber Identity Module) é ativado em um terminal de dados biométricos, ao mesmo tempo em que o Serviço Federal de Segurança inclui o IMEI (International Mobile Equipment Identity, identificador único de qualquer dispositivo) em sua base de dados.
O governo russo argumenta que essa medida, que não afeta os cidadãos russos, deve‑se a razões de segurança em tempos de “operação militar especial” na Ucrânia, dificultando o uso de chips SIM de companhias russas para operar drones inimigos ou cometer “atentados terroristas” em território russo.
Da mesma forma, o Ministério da Transição Digital da Rússia sustenta que agora será mais difícil falsificar os chips SIM, comumente utilizados nas cada vez mais frequentes fraudes telefônicas, embora muitos imigrantes não dominem o idioma russo.
Estrangeiros que viajam à Rússia por períodos curtos, como turistas, já não poderão adquirir um chip SIM no aeroporto, o que dificulta, por exemplo, reservar um táxi — a menos que queiram gastar uma fortuna em roaming de dados.
Essa nova medida para monitorar estrangeiros em Moscou e outras grandes cidades soma‑se às que já se aplicavam aos cidadãos russos: o acompanhamento de qualquer pessoa por meio de centenas de milhares de câmeras de vídeo com identificação por inteligência artificial, a gravação de qualquer conversa telefônica por seis meses e o registro de chamadas, mensagens curtas e tráfego de internet por três anos.
Polêmico político morto
Horas depois de o presidente Vladimir Putin assinar, em 7 de julho, o decreto que demitiu Roman Starovoit do cargo de ministro dos Transportes da Rússia, e quando começaram a circular rumores sobre sua iminente detenção por um caso de suposta corrupção, seu corpo apareceu com um tiro na cabeça dentro de seu carro, em um estacionamento na cidade de Odintsovo, nos arredores de Moscou.
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O Comitê de Instrução da Rússia, encarregado de investigar o caso, trata o suicídio como a causa mais provável da morte do polêmico político de 53 anos, que ocupou a pasta dos Transportes por pouco mais de um ano, após ter sido por cinco anos governador da região de Kursk, fronteiriça com a Ucrânia.
Dois meses antes da incursão das tropas ucranianas em Kursk, deixou o cargo nas mãos de seu vice, Aleksei Smirnov, que não durou nem um ano e agora está em prisão preventiva sob suspeita de ter se apropriado do equivalente a 10 milhões de euros, junto com outros acusados: o ex-vice-governador Aleksei Dedov e mais dois antigos subordinados de Starovoit.
Segundo o atual governador interino de Kursk, Aleksandr Jinshtein, dos 190 milhões de euros destinados à construção de fortificações e trincheiras na fronteira com a Ucrânia — verba entregue à região quando Starovoit era governador —, 40 milhões de euros “desapareceram”.
La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

