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Israel pode atacar flotilha humanitária rumo a Gaza? Porta-voz da missão explica

Gabriela Serra, nascida no município espanhol de Mataró, em 1951, é uma das organizadoras e porta-vozes da Global Sumud Flotilla, a “ação não violenta” com a qual mais de 300 pessoas procedentes de 44 países tentam abrir um canal humanitário na Palestina para deter o extermínio de sua população por parte de Israel.

Serra é uma veterana e comprometida lutadora das causas mais justas; inclusive, foi membro das Brigadas Internacionais de Paz na Guatemala entre 1987 e 1989 e, desde 2020, é presidenta do Conselho Catalão de Fomento à Paz. Em entrevista ao La Jornada, a ativista reconheceu que os integrantes da flotilha estão conscientes de que “o Estado de Israel é capaz de cometer qualquer atrocidade contra eles”.

Confira.

Armando G. Tejeda – Depois do contratempo de ter que voltar a Barcelona devido ao mau tempo, sabe dizer como está a travessia da flotilha?

Gabriela Serra – A flotilha e toda essa estrutura impressionante foram montadas em muito pouco tempo e com os meios limitados que tínhamos e, portanto, há imprevistos — entre eles o mau tempo, que impôs a racionalidade de não sair nessas condições e obrigou alguns barcos a voltarem por conta de seu estado.

Mas o importante é que partiram, estão em marcha e conseguiram solucionar algumas deficiências. Portanto, isso segue adiante. Esperamos que os únicos inconvenientes no trajeto sejam problemas meteorológicos. Mas, lamentavelmente, não será assim.

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A missão foi crescendo pela força simbólica que tem. Qual é seu cenário final quanto ao número de barcos e de ativistas chegando às costas de Gaza?

Acreditamos que esses números vão aumentar. Mais pessoas se somam ao longo do trajeto — na Itália, na Grécia, na Tunísia — e penso que, até chegarmos ao último ponto de incorporação de embarcações, não saberemos o número exato.

Você acredita que o fato de incorporar ativistas de 44 países servirá para proteger mais a missão e obrigar seus respectivos governos a se envolverem mais?

Evidentemente. Essa é uma parte do objetivo, mas, além disso, representa uma pressão sobre os próprios governos. É muito lamentável que, a esta altura da guerra e do genocídio em Gaza, ainda continuem titubeando em relação às medidas que devem e podem tomar contra Israel.

Esses 44 países serão testemunhas de que as pessoas na flotilha correm um risco importante. De fato, nas últimas semanas foram divulgadas as posturas de algumas nações europeias — como Países Baixos, Bélgica, Noruega, Suécia, Finlândia — e até mesmo a Alemanha está fazendo algum movimento.

A flotilha é um elemento de pressão, não apenas para Israel, que declarou todos nós como terroristas. A Europa se verá diante de uma pressão fortíssima, e isso é importante, porque Israel vai agir — e veremos qual será o seu nível de violência, beligerância e desumanidade.

E como as chamadas “celebridades” que viajam na flotilha, como atores e políticos, acrescentam à causa?

São mais um elemento de pressão. Mas, perante os nossos governos, o nome deles pouco importa — o relevante é que são cidadãos de um país, e esses Estados têm que responder por eles. No caso da Espanha, inclusive, já se garantiu a proteção necessária. As pessoas com projeção pública são importantíssimas, sim, mas o mais relevante é que há mais de 300 pessoas colocando em risco sua integridade física para realizar uma ação solidária e justa em apoio ao povo palestino e em defesa de sua vida, que está ameaçada em Gaza, onde a fome está sendo utilizada como arma de guerra.

Como receberam as ameaças do ministro da Segurança Nacional de Israel, que os chamou de terroristas?

Na preparação que foi feita, ainda que rápida, foram estudados diferentes cenários para adequar as respostas. Obviamente, um deles era o de que, no momento em que a flotilha saísse, o Estado sionista de Israel tentaria ameaçar e impor um marco legal, segundo eles, de intervenção.

Por isso dizem o que dizem — e isso é um aviso contundente. Agora, ficará registrado, porque estamos falando de uma flotilha que navega por águas internacionais, que não pretende tocar o território de Israel e cujo objetivo é chegar a Gaza. Assim, do ponto de vista legal, é muito difícil justificarem um ataque — além de ser absolutamente inaceitável do ponto de vista humano.

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Temos consciência de que o Estado de Israel já violou todos os princípios, normas e leis — inclusive as mais simples e humanas, como permitir que as pessoas comam e tenham acesso a alimentos. Portanto, o regime de Tel Aviv não é imprevisível — sabemos que é capaz de cometer qualquer atrocidade, inclusive contra nós.

O ponto crítico da travessia será a proximidade com Gaza, certo?

Sim, indiscutivelmente — e isso ocorrerá em pouco tempo. Há um cenário que precisa ser considerado: as pequenas e médias agressões que possam ocorrer ao longo do trajeto.

Conhecemos as formas de atuar das forças militares israelenses, conhecemos seus métodos — lembremos dos famosos celulares sincronizados para explodirem todos ao mesmo tempo. Portanto, eles têm capacidade para realizar e desenvolver muitas atrocidades.

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Se serão capazes ou não, acredito que isso dependerá não apenas da valentia e do entusiasmo de nosso povo na flotilha, mas também, e muito, da reação dos governos europeus e de outros países envolvidos. A Europa precisa reagir — se não for agora, quando será?

Na flotilha também há pessoas do México, e muitos governos da região expressaram apoio explícito à missão, como fez, entre outros, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Qual a importância disso?

É preciso lembrar que os primeiros países que reagiram diante das atrocidades de Israel foram da América Latina. Deram-nos uma lição claríssima de solidariedade e de compromisso com a vida e com os direitos humanos. Assim, a América Latina — e também alguns países africanos — deram uma lição ao mundo, e isso a história reconhecerá e destacará.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

* Imagens na capa:
Embarcações: Global Sumud Flotilla / Instagram
Gabriela Serra: Centre Delàs

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