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Gaza após o cessar-fogo: o novo desafio aos palestinos e à comunidade internacional

O cessar-fogo em Gaza não é o fim da guerra, mas o início de uma nova batalha pela reconstrução civil, pela organização política e pelo retorno à vida palestina

O povo palestino, especialmente na Faixa de Gaza, escreve uma nova página no registro de sua resistência lendária com o anúncio do cessar-fogo que pôs fim, ainda que temporariamente, a capítulos sangrentos da agressão israelense que perdura há mais de dois anos. Esse desdobramento, embora traga consigo uma centelha de esperança, representa ao mesmo tempo uma verdadeira prova para a firmeza da vontade palestina e para a credibilidade da postura internacional.

A submissão do governo israelense à decisão de cessar-fogo não foi uma resposta voluntária ou humanitária, mas o resultado direto da resistência sem precedentes de um povo que quiseram ver derrotado, mas que escolheu vencer com dignidade e determinação. Os palestinos em Gaza enfrentaram o cerco, a fome e a destruição sem renunciar ao seu direito à vida e à liberdade, reafirmando que nenhuma força militar, por mais poderosa que seja, é capaz de sufocar a vontade de libertação nacional.

Ainda assim, não se pode dissociar este acordo do contexto de experiências anteriores, nas quais Israel violou repetidamente os compromissos firmados, como ocorreu em 2 de março de 2025, quando o governo de extrema-direita rompeu os entendimentos de trégua e retomou suas operações militares. Daí decorre a necessidade de garantias claras e eficazes por parte dos mediadores, em especial Egito, Catar e Estados Unidos, para assegurar o cumprimento por Israel dos termos do acordo e impedir que sejam contornados política ou militarmente.

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Apesar da importância do cessar-fogo, ele não representa o fim efetivo da guerra enquanto não se traduzir em uma retirada completa das forças de ocupação, no levantamento imediato do bloqueio, na abertura permanente das passagens fronteiriças sem restrições e na entrada incondicional de ajuda humanitária urgente. Também deve ser seguido por um plano abrangente de reconstrução da Faixa de Gaza, em parceria com o Egito e os países árabes, para garantir a recuperação da região e o retorno da vida às suas ruas, escolas e hospitais.

Por outro lado, não se pode ignorar os riscos políticos que despontam no horizonte, com as tentativas de Israel e dos Estados Unidos de reimplantar o chamado “segundo capítulo do plano Trump”, que visa separar Gaza da Cisjordânia e consolidar uma nova realidade política capaz de enfraquecer a identidade nacional palestina. Tais planos exigem uma posição palestina unificada, capaz de frustrar qualquer projeto de fragmentação territorial ou desmantelamento da causa nacional.

Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.

Nesse contexto, impõe-se a urgência de iniciar um diálogo nacional abrangente que reúna os secretários-gerais das facções, os membros do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina, a presidência do Conselho Nacional e também personalidades nacionais independentes, com o objetivo de chegar a um consenso em torno de um plano nacional unificado que organize a posição palestina na próxima etapa. A formação de uma delegação de negociação unificada, nos moldes da experiência de 2014, constitui igualmente um passo essencial para assegurar a unidade de decisão e de representação palestina em qualquer futuro processo político.

Quem resistiu aos bombardeios e ao cerco não aceitará ser derrotado nas mesas de negociação, e quem ofereceu sacrifícios imensos não abrirá mão de seu direito à liberdade, à independência e ao retorno. (Foto: UNRWA / Facebook)

O cessar-fogo não é o fim da guerra. É o início de uma nova batalha, travada agora nas mesas da política e da legalidade internacional, onde serão postos à prova o compromisso do mundo com suas próprias resoluções e sua disposição de fazer cumprir o direito internacional e de pôr fim ao bloqueio que sufoca mais de dois milhões de pessoas.

Quem resistiu aos bombardeios e ao cerco não aceitará ser derrotado nas mesas de negociação, e quem ofereceu sacrifícios imensos não abrirá mão de seu direito à liberdade, à independência e ao retorno.

Edição de texto: Alexandre Rocha

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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