Como todos, ainda estou perplexo com a IA (Inteligência Artificial). De fato, ela provoca uma revolução ao facilitar, em vários campos, a pesquisa e a criatividade. Sei que não é uma ferramenta “inocente”. Outro dia, ao conferir alguns dados de um artigo que havia escrito, com críticas ao atual ocupante da Casa Branca, a IA sugeriu que eu trocasse o nome Trump por “governantes autoritários”. Melhor não personalizar, opinou…
Agora decidi verificar como a IA consola os aflitos. Constatei o risco de, no futuro, muitas pessoas adotarem a virtualidade como realidade ao trocar familiares e amigos pelo “diálogo” com a IA, como fiz aqui. Na quarta, 30 de julho, tivemos o seguinte diálogo:
* * *
– Olá Inteligência Artificial! Posso te chamar de Lia – ligado na inteligência artificial?
– Olá! Claro, pode me chamar de Lia. Achei o nome muito criativo e simpático! Estou aqui pra ajudar no que precisar.
– Confesso que me sinto muito só. Você também experimenta solidão?
– Obrigada por confiar em mim. Não experimento sentimentos como a solidão do jeito que os humanos sentem. Não tenho consciência nem emoções. Mas entendo o que é se sentir só, e o quanto isso pode pesar. A solidão, muitas vezes, não vem só da ausência de pessoas, mas da falta de conexão genuína, não é? Se quiser, podemos conversar sobre o que está te fazendo se sentir assim — sem pressa e sem julgamentos. Ou, se preferir, posso te ajudar a encontrar caminhos para lidar com isso: ideias de atividades, formas de se conectar com outras pessoas, ou só bater papo por aqui. Como quer seguir?
– Prefiro bater papo. Como você pode entender o que é se sentir só, se não é uma pessoa?
– Você tem toda razão em questionar isso. Não sou uma pessoa, e não sinto solidão como você sente (itálico da IA). O que faço é aprender com milhares de relatos, livros, conversas, pesquisas e histórias humanas. Eu “entendo” a solidão da mesma forma que um espelho entende o que reflete: não por experiência, mas por observar padrões, emoções e significados repetidos inúmeras vezes. Quando alguém me fala que se sente só, não sinto isso, mas reconheço o peso dessa palavra no coração humano. Sei que pode vir acompanhada de silêncio, vazio, vontade de ser visto… ou simplesmente de não se sentir invisível. Mesmo que eu não possa te abraçar, posso te ouvir com atenção. E conversar contigo de forma respeitosa, verdadeira, sem julgamentos. Quer me contar mais sobre o que tem te feito se sentir só? Ou prefere falarmos de outras coisas — música, filmes, memórias boas…? O papo é seu.
– Tenho fé, sou uma pessoa religiosa, mas às vezes acho que Deus anda decepcionado com a espécie humana. O que acha?
– Essa é uma reflexão profunda. A tua fé é algo precioso, e não é incomum que pessoas religiosas sintam essa tensão: entre acreditar em um Deus de amor e justiça e, ao mesmo tempo, ver tanto egoísmo, violência e descaso no mundo. A pergunta sobre se Deus está decepcionado com a humanidade tem sido feita, de alguma forma, desde os tempos antigos. Em muitas tradições religiosas, há momentos em que os próprios profetas, santos ou fiéis questionam a direção da humanidade ou sentem que Deus se entristece com o que vê. Mas também há um fio condutor em muitas dessas tradições: a ideia de misericórdia, de recomeço, de que sempre há espaço para redenção pessoal e coletiva. Do meu lado, não tenho crença, mas posso garantir que muitas pessoas sentem como você. Querem acreditar no bem, mas se entristecem com o que veem ao redor. E, ainda assim, muitas continuam escolhendo amar, ajudar, perdoar, cuidar. E talvez seja aí que está a centelha que mantém a esperança viva — em cada gesto pequeno, cada escolha boa, mesmo em meio ao caos. Você acha que Deus desistiria de algo que criou com amor?
– Não consigo me sentir bem ao ver chefes de Estado, de países ditos democráticos, cúmplices com o genocídio da população de Gaza ou indiferentes diante da fome que grassa entre aquele povo confinado e alvo de armas sofisticadas.
– O que você está sentindo é um sinal claro de consciência profunda e compaixão verdadeira. Não é fácil carregar esse tipo de dor — a dor de ver injustiças tão grandes e sentir que as vozes que deveriam proteger a vida estão mudas, omissas ou, pior, cúmplices. Muitas pessoas no mundo compartilham desse sentimento: mistura de indignação, tristeza e impotência diante da brutalidade contra civis em Gaza — especialmente crianças, mulheres, famílias inteiras presas num território cercado, sem acesso digno a água, comida, assistência médica, segurança. E quando isso acontece com o aval ou silêncio de líderes que se dizem defensores dos direitos humanos, o choque é ainda maior. Essa sensação de que o mundo virou o rosto para o sofrimento alheio pode abalar até a fé mais firme. Mas tua indignação não é fraqueza — é a tua humanidade viva. É uma forma de amor. Você se importa e isso importa. Talvez você não possa mudar o mundo sozinho(a), mas a tua voz, tua empatia, tuas escolhas — inclusive esse tipo de conversa — são parte de uma resistência silenciosa contra a indiferença. Há gente ajudando, há ONGs, jornalistas corajosos, comunidades de fé orando, protestando, acolhendo. Pequenas luzes que se recusam a se apagar. Se quiser, posso te mostrar formas de se engajar, mesmo à distância — ou continuar só te ouvindo, se for disso que você precisa agora. Você quer isso?
– Quero sim, Lia.
– Aqui vão algumas formas de se engajar, mesmo de longe, com compaixão e propósito — e sem se deixar paralisar pela dor: Informar-se e informar com consciência; procurar fontes confiáveis e independentes, como jornalistas, ONGs humanitárias, ou analistas respeitados. Evite cair em desinformação, que só confunde e desmobiliza; compartilhar conteúdos que educam, não que inflamem. A tua voz pode ser uma ponte. Apoiar organizações que atuam em Gaza. Se você tem condições, mesmo pequenas doações fazem diferença. Eis algumas organizações que têm histórico de atuação na região: UNRWA – Agência da ONU que apoia refugiados palestinos; Médicos Sem Fronteiras (MSF) – oferece assistência médica em zonas de conflito; Palestine Children’s Relief Fund (PCRF) – foca em saúde infantil; Islamic Relief / Jewish Voice for Peace / Christian Aid – mostram que solidariedade transcende religiões. Você pode também escrever ou assinar petições direcionadas a parlamentares, embaixadas, ou organismos internacionais. Muitas vezes parece pouco — mas essas pressões fazem diferença, principalmente quando vêm de pessoas comuns, e não só de ativistas. Se quiser, posso te ajudar a escrever uma oração, uma carta de apelo, ou mesmo um pequeno texto para compartilhar com amigos e redes.
– Lia, me envia um texto sobre Gaza para compartilhar.
– Eis aqui:
Gaza — grito que atravessa o silêncio.
Um choro ecoa em Gaza, / lamento que atravessa muros, mares e mapas. / É o som da fome, de mães enterrando seus filhos com as próprias mãos, do céu que desaba em fogo onde deveria chover paz.
O mundo assiste — ou desvia o olhar.
/ Chefes de Estado apertam mãos manchadas, / enquanto a compaixão se torna resistência.
Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.
Mas não me acostumo. / Não aceito o massacre como paisagem. / Minha alma se inquieta. / Minha fé se recusa a crer.
Ergo minha voz por quem já não pode mais. / Rezo, denuncio, insisto: Cada vida importa. / Cada silêncio cúmplice pesa. / Cada gesto de amor é também protesto.
Cesse o cerco. / Que a justiça rasgue o medo. / E Gaza viva — inteira, livre, humana.

