A ONU conclui o debate de alto nível de sua Assembleia Geral com críticas às guerras, ao genocídio em Gaza e ao isolamento dos Estados Unidos, enquanto governos progressistas propõem alternativas para enfrentar a crise climática, a fome e a falta de democracia no sistema internacional.
Talvez a imagem de maior impacto seja a da sala quase vazia da Assembleia Geral quando o mandatário de Israel, Benjamin Netanyahu subiu ao pódio — uma ação encabeçada pela delegação da Colômbia.
Ao longo da semana, também se expressou a rejeição da maioria dos 193 países às políticas unilaterais direitistas e aos ataques contra a ONU e sua Carta por parte do governo de Donald Trump e seus aliados — deixando claro o isolamento extraordinário da superpotência em uma casa da qual foi arquiteto.
Isolamento dos EUA exposto na ONU
Esse isolamento foi reforçado pelo discurso do mandatário estadunidense, com sua famosa frase dirigida principalmente a aliados dos Estados Unidos: “Seus países estão indo para o inferno”, que provocou assombro e zombaria nos corredores da ONU e ao redor do mundo.
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Fóruns paralelos tratam de clima, democracia e Palestina
Ao longo da semana, governos progressistas realizaram fóruns e reuniões dentro e fora da sede da ONU sobre uma ampla gama de temas centrais, desde a resposta à ameaça autoritária até projetos solidários. Insistiram na urgência de enfrentar a mudança climática e, sobretudo, o genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino.
De fato, o tema de Gaza culminou com o governo de Trump retirando o visto do presidente Gustavo Petro, da Colômbia, que ousou participar de uma marcha e manifestação do lado de fora enquanto Netanyahu falava dentro.
Ali — acompanhado por Roger Waters — declara que estava convocando a um “exército mundial” para lutar pela Palestina e apelou aos militares estadunidenses: “Não apontem seus fuzis contra a humanidade, desobedeçam à ordem de Trump, obedeçam à humanidade”.
Grupo de Haia propõe medidas legais contra Israel
Entre as reuniões e fóruns paralelos ao grande desfile anual de oradores diante da Assembleia Geral, destaca-se o do chamado Grupo de Haia, composto por cerca de 34 países, que em sua reunião ministerial, copresidida pelos governos da África do Sul e da Colômbia, chegou a um consenso para formular e promover medidas legais e diplomáticas coordenadas contra Israel por sua guerra genocida.
Essas medidas foram desenhadas para impedir o acesso de Israel a armas, financiamento e energia. Em sua declaração final, temos que “a opção diante de todo governo está clara: cumplicidade ou cumprimento. A história nos julgará não pelos discursos que fizermos, mas pelas ações que tomarmos”.
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Lula e Boric defendem democracia global e movimentos sociais
Em outra reunião, os presidentes do Brasil, Chile, Colômbia, Uruguai e Espanha, junto com representantes de outros governos — incluindo o do México — e organizações e figuras reconhecidas, como o economista Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, acordaram em proceder para “reforçar a democracia global”, entre outras reformas necessárias dentro da ONU para democratizar a instituição multilateral.
Foi a propósito que o governo de Trump não tenha sido convidado. O presidente do Chile, Gabriel Boric, comentou que, embora a presidenta Claudia Sheinbaum não estivesse presente, o México faz parte da iniciativa.
Nesse fórum, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apelou a “reconstruir… as relações amigáveis entre Estados” a partir dos valores da esquerda e preguntou: “a extrema-direita cresce com força por méritos próprios ou por incompetência nossa? Onde deixamos a democracia? Não podemos esquecer o fortalecimento dos movimentos sociais e a necessidade de responder aos adversários e ao mercado. Se não, será o fracasso da democracia”, reportou o Diario.
Pepe Mujica é homenageado em fórum transnacional
Em um fórum patrocinado pelo Congresso Pan-americano, em homenagem a Pepe Mujica, o falecido ex-presidente do Uruguai, também participaram os presidentes do Uruguai, Espanha e Chile, além do líder do Caucus Progressista do Congresso dos Estados Unidos, Greg Casar.
Estavam no programa, mas não chegaram de última hora, o senador Bernie Sanders e os presidentes do Brasil e da Colômbia. Nessa ocasião, celebraram os esforços para democratizar e tornar seus países mais justos, mas também a necessidade de buscar respostas progressistas transnacionais aos desafios enfrentados por todos os países.
México adota postura discreta no debate da ONU
Além desses governos, também ocorreram reuniões com a participação de outros governos progressistas, incluindo África do Sul e Cuba.
“Não somos súditos”, resumiu o presidente Petro em entrevista à BBC durante a Assembleia Geral, em resposta à mensagem que Trump enviou ao mundo. “Não podem pensar que os povos que somos filhos de Bolívar nos ajoelhamos.”
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Entre o mais notável nessas reuniões está o baixo perfil mantido pelo México, talvez resultado mais de uma falta de informação à imprensa e ao público sobre sua participação nos eventos com outros governos progressistas.
ONU segue essencial apesar de limites e impasses
Apesar de esta sessão de alto nível da Assembleia Geral não lograr cumprir os princípios e compromissos das Nações Unidas, também deixou claro que não há substituto para esse fórum mundial para a grande maioria das 193 nações-membro.
Os fóruns e iniciativas impulsionados por governos progressistas dentro e ao redor da ONU — assim como os encontros informais de seus líderes entre si ou com roqueiros, economistas e ativistas nos corredores, cafeterias e cantinas — continuam sendo essenciais para criar outro futuro para o planeta.

