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Espanha: com renúncia, Carlos Mazón reconhece omissão 1 ano após catástrofe em Valência

Na Espanha, o presidente da Comunidade de Valência, o direitista Carlos Mazón, do Partido Popular (PP), anunciou nesta segunda-feira (3) sua renúncia ao cargo. O anúncio acontece um ano após a catástrofe natural da dana (depressão isolada em níveis altos) em Valência, que tirou a vida de 229 pessoas e provocou danos materiais em numerosos povoados da região, com dezenas de milhares de desabrigados.

Sua renúncia não será imediata, mas feita de forma escalonada e em coordenação com os grupos parlamentares que o apoiaram para assumir o cargo — o PP e a extrema-direita do Vox —, que terão a faculdade de escolher seu sucessor para completar o restante da legislatura, de dois anos, em vez de convocar novas eleições.

Durante o dia crucial da catástrofe, na noite anterior e na madrugada de 29 de outubro, Mazón ficou incomunicável nas horas mais críticas. Sabe-se que estava em um jantar com uma jornalista da televisão autônoma e que chegou ao centro de comando quando a situação já era dramática.

Depois, em vez de reconhecer seu erro, ofereceu várias versões contraditórias e se recusou a renunciar, apesar das numerosas manifestações realizadas contra ele — a primeira e mais numerosa reuniu mais de 120 mil pessoas.

À medida que avança a investigação judicial aberta para apurar as responsabilidades penais dos gestores públicos na condução da catástrofe, Mazón finalmente afirmou: “Já não posso mais”, e anunciou o que muitos lhe vinham pedindo nas ruas nos últimos meses: sua renúncia.

Em sua mensagem à imprensa, na qual não admitiu perguntas dos jornalistas, enumerou durante meia hora os supostos “êxitos” de sua gestão e do trabalho de reconstrução, ao mesmo tempo em que acusou o governo central, do socialista Pedro Sánchez, de iniciar uma “caça política” contra ele e de abandonar a sociedade valenciana e seu governo.

Protestos em Valência 1 ano após inundações refletem povo abandonado por direitista Carlos Mazón

Também reconheceu erros: “Deveria ter tido a visão política de cancelar minha agenda e me deslocar para Utiel. Vou viver com os erros daquele dia por toda a minha vida. Pedi perdão e hoje volto a repetir. Mas nenhum dos erros foi por cálculo político ou má-fé. Não pedimos a declaração de emergência nacional porque o governo disse que não enviaria mais efetivos. Descobrimos que nos deixariam sozinhos por estratégia política. Desde a manhã daquele dia, assumimos o trabalho, ingente e inimaginável, sozinhos.”

Sánchez presta esclarecimentos

Em 30 de outubro, o presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, compareceu pela primeira vez desde o início da legislatura, em 2023, ao Senado. Lá, participou por mais de cinco horas da comissão de investigação aberta pela maioria conservadora na câmara alta para apurar o chamado “caso Ábalos” — o processo de corrupção contra José Luis Ábalos, ex-número dois do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), ex-ministro do Fomento e braço direito de Sánchez.

O direitista Partido Popular (PP) tem maioria absoluta no Senado, onde Sánchez foi indagado sobre o suposto caso de corrupção mais grave de seu governo. José Luis Ábalos atuava como ex-secretário de Organização do PSOE e, segundo agentes da Unidade Central Operativa da Guarda Civil, está no centro de uma operação de corrupção político-empresarial. A articulação não apenas teria adjudicado contratos de obras públicas em troca de propinas, mas também é alvo de acusações de grande fraude fiscal por meio de uma empresa de hidrocarbonetos.

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Os senadores do PP, do ultradireitista Vox e da conservadora União do Povo Navarro (UPN) fizeram perguntas sobre diversos temas alheios à comissão, como a investigação judicial contra sua esposa, Begoña Gómez, ou contra seu irmão, David Azagra (nome artístico).

Por isso, Sánchez qualificou a comissão como “um circo”, “mais uma comissão de frustração do que de informação”, chegando inclusive a chamá-la de “comissão de difamação a serviço da máquina do lodo”.

Sánchez foi apoiado pelos grupos de esquerda, incluindo os independentistas do País Basco e da Catalunha, que coincidiram no diagnóstico de que a comissão e o próprio Senado, controlado pelo PP, buscam na realidade “dinamitar o governo de coalizão em uma operação em grande escala” para tirar Sánchez “e seu partido do governo a qualquer preço”, segundo palavras da senadora do Sumar, Carla Antonelli.

Bases de partido catalão querem romper com governo

As bases do Junts per Catalunya (JxCat) votaram de forma majoritária a favor de respaldar a decisão de seus líderes de romper com o governo de Sánchez, ao qual vão retirar o apoio parlamentar, acusando-o de “descumprimentos sistemáticos do pacto”. A militância dessa formação nacionalista e de orientação conservadora votou em 87% a favor da ruptura, com uma participação que chegou a cerca de 70% dos filiados.

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