No contexto da 17ª Cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro entre os dias 6 e 7 de julho de 2025, foi divulgada a declaração dos líderes do bloco, na qual se reafirma o papel central do grupo como voz representativa do Sul Global.
No entanto, a declaração não menciona a palavra “genocídio” ao se referir ao massacre israelense contra a população palestina e, embora condene as sanções unilaterais, omite a menção a um dos países que mais sofreu com suas consequências: a Venezuela, aliada estratégica da China e da Rússia, dois dos países fundadores do Brics.
A esse respeito, a declaração final condena “a imposição de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional” e denuncia que tais medidas “têm implicações negativas de longo alcance para os direitos humanos, incluindo os direitos ao desenvolvimento, à saúde e à segurança alimentar da população em geral dos Estados afetados.”
Ya tenemos la declaración de los líderes de los Brics.
Mientras revisamos, un anticipo: no está la palabra “genocidio”. pic.twitter.com/K8fqInO5tN
— Nacho Lemus (@LemusteleSUR) July 6, 2025
Com foco na cooperação econômica, na justiça climática, na inovação tecnológica e no fortalecimento do multilateralismo, o documento busca consolidar o Brics como uma alternativa efetiva à ordem internacional tradicional dominada pelo Ocidente.
A declaração enfatiza o compromisso do grupo com valores como a igualdade soberana, a democracia, a inclusão e o consenso. Destaca ainda a importância do Sul Global como motor de mudança positiva frente a desafios globais como as tensões geopolíticas, a desaceleração econômica e a transformação tecnológica acelerada.
Um dos pontos centrais do texto é a promoção da reforma das instituições multilaterais, especialmente das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança, para aumentar a representação dos países em desenvolvimento.

Em relação ao conflito na Palestina, a declaração faz referência à situação humanitária e reitera o apoio a uma solução de dois Estados, mas evita usar termos como “genocídio” para descrever a crise em Gaza, algo que ativistas e organismos internacionais consideram necessário para reconhecer a gravidade do cenário atual.
No âmbito econômico, o Brics deu passos importantes rumo a uma maior integração financeira e comercial. Destacam-se avanços nos sistemas de pagamento transfronteiriços baseados em moedas locais, o que reduz a dependência do dólar estadunidense. Também foi apresentado um Marco sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de promover um crescimento inclusivo e alinhado com os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Outro marco relevante foi a adoção da Declaração Marco sobre Finanças Climáticas, que busca facilitar o acesso a recursos financeiros para projetos sustentáveis em países em desenvolvimento. Esse instrumento reforça o compromisso do Brics com a luta contra a mudança climática, incluindo ações específicas de mitigação, adaptação e transição energética.
El abrazo del @MST_Oficial al presidente de Cuba, Díaz-Canel.
El encuentro es parte de las actividades de la embajada cubana en Brasil en el contexto de la Cumbre de Jefes de Estado del BRICS y reunió a diferentes representantes de los movimientos populares en Rio de Janeiro. pic.twitter.com/ghuw5v81BA
— André Vieira (@AndreteleSUR) July 6, 2025
O impulso à cooperação científica e tecnológica também ocupou lugar de destaque. O lançamento do Plano de Ação do Brics para a Inovação 2025–2030, junto com novas chamadas conjuntas para projetos de pesquisa e inovação, demonstra o interesse do bloco em se tornar um ator-chave em tecnologias emergentes como inteligência artificial, computação quântica e indústria 4.0.
Também se destacou a criação do Centro para Competências Industriais do Brics (BCIC), em colaboração com a ONUDI, voltado à formação de talentos em tecnologias avançadas. Esse tipo de iniciativa não apenas fortalece as capacidades técnicas dos membros, como também contribui para a construção de cadeias de valor regionais independentes.

Na área cultural e social, a declaração reconhece o poder transformador da cultura como instrumento para o desenvolvimento sustentável, a paz e a compreensão mútua. Destacou-se o trabalho do Fórum Acadêmico, do Fórum Sindical e do Conselho da Juventude, espaços que permitem o intercâmbio entre cidadãos e fortalecem os vínculos entre os povos do bloco.
Ainda que a expansão do Brics gere expectativas, com novos sócios estratégicos como Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão e Uganda, o documento não aborda diretamente como será gerida a diversidade de interesses em um grupo cada vez mais amplo. No entanto, ratifica-se o compromisso com um processo de expansão guiado pelo consenso, pela consulta plena e pela participação inclusiva.
Ausências
O encontro de dois dias foi marcado por ausências significativas. O presidente russo, Vladimir Putin, foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, enquanto o presidente chinês, Xi Jinping, delegou sua participação ao primeiro-ministro Li Qiang. Tampouco esteve presente o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
Entre os líderes presentes, destacaram-se o anfitrião brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente indonésio Prabowo Subianto. Também participaram representantes de alto nível do Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Ainda assim, em sua declaração, os líderes do Brics reafirmaram sua visão de uma ordem internacional alternativa baseada em princípios multilaterais reformados. “Nos comprometemos ainda mais a fortalecer a cooperação nos BRICS ampliados e a aprimorar nossa associação estratégica em benefício de nossos povos, por meio da promoção da paz e de uma ordem internacional mais representativa e justa”, estabelece a declaração.

