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Do Pegasus ao Azure: a tecnologia a serviço do genocídio contra os palestinos

Envolvimento entre a Azure e Israel torna urgente a responsabilização jurídica internacional não apenas da ocupação, mas das empresas que atuam ativamente no extermínio

Na era que se supõe ser o auge do progresso humano e tecnológico, vêm à tona, dia após dia, capítulos cada vez mais sombrios da utilização da tecnologia para fins de repressão e extermínio em massa, por meio de ferramentas transnacionais. A novidade, nesse contexto, não está apenas na participação de grandes empresas de tecnologia nas violações, mas na sua transformação em cúmplices efetivos em crimes contra a humanidade. O mais recente relatório publicado pelo jornal britânico The Guardian revelou de forma clara o papel chocante desempenhado pela Microsoft, por meio de sua plataforma em nuvem Azure, no apoio ao aparato de vigilância militar israelense, especificamente à unidade de espionagem cibernética “8200”.

Segundo a investigação, essa unidade de inteligência recebeu da Microsoft “presentes tecnológicos”, incluindo capacidades praticamente ilimitadas de armazenamento e análise de milhões de chamadas telefônicas realizadas diariamente pelos palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Isso levanta uma pergunta direta: teria a nuvem digital se tornado uma ferramenta para gerir a ocupação, controlar remotamente um povo desarmado e sitiado, e executar seus indivíduos por meio de voz, imagem e dados?

Esse flagrante escândalo traz à memória o caso do software espião Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO, e utilizado para espionar jornalistas, ativistas e opositores ao redor do mundo, entre eles, palestinos. Mas o que à época parecia uma aplicação limitada e dirigida, transformou-se hoje em uma vasta infraestrutura em nuvem, que armazena os dados de um povo inteiro e funciona como um depósito de inteligência voltado para o assassinato e o extermínio em massa, como confessaram os próprios oficiais da Unidade 8200.

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O mais grave neste quadro é que o uso dessa tecnologia não se restringiu ao que se chama de “alvos militares”, mas estendeu-se à população civil, tornando-se instrumento de chantagem, detenção e justificação de assassinatos, no âmbito de uma guerra israelense contra Gaza que já dura mais de 22 meses e que resultou no martírio de mais de 60 mil palestinos, entre eles, 18 mil crianças.

A justificativa apresentada pela Microsoft em resposta ao The Guardian, de que não teria conhecimento da natureza dos dados armazenados, não é apenas uma farsa moral, mas constitui cumplicidade direta no crime, caso se comprove que a empresa deliberadamente ignorou o uso que estava sendo feito de suas tecnologias. Alegar desconhecimento não exime da conivência, pelo contrário: lembra a lógica dos criminosos que fornecem armas aos assassinos e depois lavam as mãos do sangue derramado.

Essas práticas devem ser encaradas dentro do enquadramento jurídico do crime de genocídio, e não apenas como escândalos de espionagem. A vigilância em massa, quando ligada ao uso direto para matar e perseguir etnicamente, configura uma violação frontal do direito internacional. Transformar dados digitais em ferramenta de extermínio é uma nova forma de limpeza étnica, sob o título: “genocídio algorítmico”.

Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.

As tecnologias do Pegasus abriram a porta, mas o Azure parece tê-la alargado, transformando-a num verdadeiro portal digital para o assassinato em massa. Com tais evidências em mãos, torna-se urgente acionar mecanismos de responsabilização jurídica internacional, não apenas contra o Estado ocupante, mas também contra as empresas envolvidas, por sua atuação ativa no projeto de extermínio e sua parceria estratégica no controle das populações.

Num tempo em que as grandes corporações se autopromovem como “forças do bem”, defensoras da segurança, da liberdade e da inovação, descobrimos que seus produtos estão sendo usados para semear o terror, gerir a ocupação, matar crianças e registrar cada respiração dos civis para, mais tarde, usá-la contra eles.

Não se trata apenas de uma nuvem digital, mas de uma nuvem obscura que obstrui o sol da justiça sobre a Palestina.

* Edição de texto: Alexandre Rocha

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