Diversos organismos iniciaram no Panamá o chamado Programa Regional do Corredor Seco, financiado pelo Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) e pelo Fundo Verde do Clima (FVC).
Esta iniciativa, liderada pelo Ministério do Ambiente do istmo e pelo BCIE, conta em sua implementação com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Comissão Centro-Americana de Ambiente e Desenvolvimento (CCAD).
O objetivo é aumentar a resiliência à mudança climática das populações que vivem nas zonas áridas da bacia dos rios Tonosí e La Villa, nos municípios de Tonosí, Guararé, Macaracas, Pedasí e Pocrí.
O coordenador sub-regional da FAO para a América Central, o brasileiro Adoniram Sanches, conversou com a Prensa Latina sobre o tema, com ênfase na necessária adaptação baseada em ecossistemas. Confira a entrevista:
Mario Hubert Garrido – Por que se considera efetiva essa via para fortalecer a capacidade de adaptação das comunidades rurais aos efeitos da mudança climática?
Adoniram Sanches – Primeiro, é importante lembrar que as comunidades agrícolas, de pastoreio, pesqueiras e florestais, que fornecem a maior parte dos alimentos do planeta, são as mais afetadas pela mudança climática. Para essas comunidades, adaptar-se ao fenômeno significa alcançar a segurança alimentar.
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A mudança climática afeta não apenas as comunidades e famílias rurais, mas também seus agroecossistemas e a produção agrícola. Daí a importância da adoção de práticas de adaptação por parte dos pequenos produtores, o que os ajudará a estarem preparados para esses efeitos negativos.
Nesse cenário, uma opção viável para os pequenos produtores são as estratégias de Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE), que consiste no uso da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos como parte de uma estratégia ampla de adaptação.
Quando aplicada à agricultura, a AbE refere-se à conservação, restauração e manejo sustentável de ecossistemas para aumentar a resiliência dos sistemas produtivos diante da mudança climática.
Um exemplo disso é o manejo da sombra nos cafezais, que reduz o impacto de níveis extremos de temperatura e precipitação sobre as plantas, além de melhorar a infiltração de água, entre outros benefícios.
Da mesma forma, as cercas vivas, as coberturas vegetais do solo, a incorporação de restolho, entre outras práticas, são exemplos de AbE.
Quais são as vantagens desse procedimento em relação a outras práticas?
Embora a AbE possa ser útil para qualquer tipo de produtor, pode ser especialmente vantajosa para ajudar os pequenos produtores a adaptarem sua produção e minimizarem os efeitos da mudança climática e de eventos extremos.
Por se basear majoritariamente em insumos locais, de fácil acesso, pode ser utilizada facilmente pelos produtores, sem necessidade de conhecimento tecnológico complexo ou materiais difíceis de obter.
O que se pretende com o Corredor Seco?
Esta iniciativa, liderada pelo Banco Centro-Americano de Integração Econômica, e que conta com o apoio financeiro do BCIE e do Fundo Verde do Clima (FVC), pretende fortalecer a capacidade de adaptação à mudança climática das pessoas que vivem na região do Corredor Seco da América Central e nas Zonas Áridas da República Dominicana, incluindo pequenos agricultores, agricultores comerciais e empresários de comunidades rurais.
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No caso do Panamá, o projeto é liderado pelo MiAmbiente, e a FAO desempenhará um papel importante na execução do desenvolvimento de capacidades, na assistência técnica e na implementação dos locais de demonstração de adaptação baseada em ecossistemas em toda a região, atuando como entidade executora.
Já a Comissão Centro-Americana de Ambiente e Desenvolvimento desempenhará um papel-chave na coordenação política entre os oito países participantes.
De forma direta, o Programa contribui para alcançar um meio ambiente melhor; proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas; e combater a mudança climática por meio de sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes e sustentáveis.
O projeto se alinha à área de resultados de Adaptação do FVC, pois busca promover a resiliência das pessoas, comunidades e regiões mais vulneráveis, bem como dos ecossistemas e dos serviços ecossistêmicos.
📍Veraguas | El Área protegida Sitio Ramsar Golfo de Montijo llevó acabo una jornada de reforestación en la escuela Alto de Tebario, con la participación de estudiantes, docentes y padres de familia. pic.twitter.com/4calKJDE0Q
— Ministerio de Ambiente de Panamá (@MiAmbientePma) July 24, 2025
Nesse sentido, o alcance dos resultados do Programa será possível graças à responsabilidade compartilhada entre os organismos envolvidos e os governos (nacionais e locais) dos países participantes na implementação dos diversos produtos e atividades.
A apropriação e o comprometimento dos governos dos países e dos organismos do Sistema de Integração Centro-Americana (SICA), neste caso, são pré-requisitos para alcançar os resultados.
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Quais são especificamente as atividades que serão realizadas?
Será prestada assistência técnica aos governos locais para que adotem e apliquem os planos de intervenção.
A ajuda também chegará aos agricultores e às comunidades rurais, com orientações sobre a aplicação de práticas de adaptação baseadas em ecossistemas no território, incluindo silvipastagem, agrossilvicultura e manejo sustentável da terra.
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Esse apoio também favorecerá a integração da Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE) nos marcos normativos e regulatórios a nível local, com foco nas regulamentações de gestão da água e nas estruturas comunitárias de gestão hídrica, bem como nos instrumentos locais de planejamento do uso da terra nos territórios onde existam povos ou comunidades indígenas.
Além da assistência técnica para a aplicação no território das práticas de AbE e das tecnologias eficientes no uso da água e dos recursos, será oferecida capacitação às comunidades sobre o desenvolvimento de meios de vida adequados a nível local, entre outras ações.