Mesmo produtos não incluídos na lista de sanções, como os aviões da Embraer e o suco de laranja, sofrem os efeitos indiretos da instabilidade e da retaliação; quem paga a conta é o trabalhador
O tarifaço de 50% anunciado por Trump atinge diretamente o café e o açúcar brasileiros, mas não para por aí. Mesmo produtos não incluídos na lista de sanções, como os aviões da Embraer e o suco de laranja, sofrem os efeitos indiretos da instabilidade e da retaliação. Mas o que mais chama atenção é a seletividade dessas medidas: a exceção feita para a aviação escancara que os interesses das grandes corporações estadunidenses seguem intocados.
Quem paga a conta é o trabalhador. A indústria da pesca, por exemplo, é uma das mais afetadas — não pelo volume financeiro envolvido, mas pela quantidade de pessoas impactadas. Estima-se que mais de um milhão de brasileiros dependem diretamente da pesca para viver. São pescadores artesanais, trabalhadores de frigoríficos, comerciantes locais e pequenos produtores. Uma cadeia inteira ameaçada por um tarifaço que, ao fim e ao cabo, destrói empregos e vidas.
Do outro lado, não são apenas os setores populares que sofrem. Empresas estadunidenses que fornecem componentes para a Embraer, por exemplo, também veem suas encomendas travadas. O protecionismo de Trump não protege a economia, apenas a sufoca.
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A ofensiva ianque não se limita ao comércio. O Senado dos EUA chegou a aprovar ameaças de sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro, com base na chamada “Lei Magnitsky”, acusando-os de violar liberdades democráticas. O alvo direto é Alexandre de Moraes, acusado por Trump de censurar redes sociais e perseguir “patriotas”, numa clara tentativa de justificar retaliações contra a regulação das big techs.
A resposta da comunidade jurídica foi imediata: solidariedade ao STF e repúdio à tentativa de intimidação. O Brasil não aceita ingerências em sua soberania.
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O Itamaraty, em tom firme, respondeu que esse tipo de manifestação não condiz com a história de mais de 200 anos de respeito entre os dois países. Mas é preciso dizer com clareza: nunca houve, de fato, respeito. Os Estados Unidos sempre conspiraram contra o Brasil, seja sob governos democratas ou republicanos. Sempre tentaram impor seus interesses, desestabilizar econômica e politicamente os que ousam buscar autonomia.
O momento exige firmeza. Não é hora de dobrar-se à chantagem. É hora de afirmar a soberania, defender nossos trabalhadores e denunciar o imperialismo em todas as suas formas: econômica, jurídica, diplomática e cultural.
Paulo Cannabrava Filho é autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
- A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
- Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
- Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
- No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
* Artigo redigido com auxílio do ChatGPT.
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