Fachin assume o STF no lugar de Barroso. Dois estilos opostos no comando, mas o mesmo desafio: preservar o Supremo diante da crise política
O Supremo Tribunal Federal (STF) viveu nesta semana mais uma troca de comando: sai Luís Roberto Barroso, entra Edson Fachin. A mudança não é apenas protocolar. Ela traz simbolismo e levanta expectativas em tempos de crise política e tensão entre os poderes, marcando a sucessão Barroso–Fachin no Supremo.
Barroso: visibilidade e polêmicas
Indicado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff, Barroso deixa a presidência após dois anos no cargo (2023–2025).
Ele conduziu o tribunal em temas polêmicos, como a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal e a regulação das big techs.
Nunca evitou a cena pública: fez discursos firmes, falou em defesa da democracia e chegou a pedir desculpas por ter afirmado que o STF “derrotou o bolsonarismo”.
Sai com a imagem de alguém que não teme visibilidade — admirado por uns, criticado por outros.
Seus pontos fortes foram a coragem de enfrentar temas sensíveis e a capacidade de liderança institucional.
Entre as críticas, se destacam o risco de politização, a pressão dos extremos e as dificuldades de conciliar posições dentro do próprio tribunal.
Fachin: discrição e firmeza
Indicado em 2015 também por Dilma Rousseff, Edson Fachin assume com perfil diferente.
Mais discreto e técnico, menos exposto.
É visto como jurista de gabinete, mas com posicionamentos firmes em defesa de direitos fundamentais.
Não se espera dele retórica intensa como a de Barroso, mas não será um presidente apagado.
Ele terá de manter a coesão da Corte e enfrentar processos de alto impacto — como os julgamentos finais da trama golpista de 8 de janeiro e a pressão por anistia que ronda o Congresso.
Seu desafio é equilibrar discrição com autoridade, tanto nos autos quanto nos bastidores.
Dois estilos, um mesmo dever
A diferença entre Barroso e Fachin é clara.
Barroso usou a presidência para dialogar com a sociedade, correndo o risco de politizar a Corte.
Fachin tende a buscar uma presidência mais discreta, mas terá de demonstrar autoridade nas decisões cruciais.
Um não é melhor nem pior que o outro: são estilos distintos diante do mesmo dever — preservar o Supremo como guardião da Constituição.
O papel do STF
A Constituição é a referência máxima, e o Supremo é seu guardião.
Cabe ao tribunal corrigir violações, proteger direitos fundamentais e manter o pacto democrático.
A troca de comando não altera esse papel, mas a forma como cada presidente exerce a função pode definir se a Corte se mantém altiva ou se se deixa arrastar pelo vendaval da política.
Paulo Cannabrava Filho é autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
- A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
- Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
- Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
• No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
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