Em discurso na abertura, Lula propõe “mapa do caminho” para sair dos combustíveis fósseis, isso numa Belém com dificuldades estruturais e exclusão dos mais pobres na cúpula
A cidade de Belém do Pará, na Amazônia brasileira, tornou-se o centro das atenções mundiais com o início da COP30, a conferência climática da ONU, que reuniu líderes globais, ativistas e representantes da sociedade civil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião do encontro, fez um discurso enfático sobre a urgência da ação climática e o papel do Brasil e da região amazônica na transição ecológica.
Lula destacou que o mundo está diante de um impasse: ou muda sua matriz energética, ou será tragado por catástrofes climáticas irreversíveis. Propôs um “mapa do caminho” para a transição energética que priorize o abandono progressivo dos combustíveis fósseis e o fortalecimento de fontes limpas e renováveis. Enfatizou ainda que a solução não pode ser ditada pelos interesses das grandes corporações ou guiada por ideologias negacionistas.
Em sua fala, Lula lembrou que a floresta amazônica é um ativo vital para o equilíbrio climático do planeta e criticou as promessas não cumpridas dos países ricos em relação ao financiamento climático. Foi nesse contexto que anunciou o lançamento do “Fundo Florestas Tropicais Para Sempre”, que já conta com adesão de 53 países e arrecadou cerca de 5,6 bilhões de dólares, metade da meta inicial. O Brasil contribuiu com recursos próprios, ao lado de Indonésia, Noruega, França, Holanda e Portugal.
O presidente também comparou os gastos globais com a guerra e o custo da ação climática. Disse que seria mais barato reunir 1,3 trilhão de dólares para enfrentar de forma definitiva o problema climático do que gastar 2,7 trilhões, como foi feito no ano passado, para financiar conflitos armados, ou seja, em guerras.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também discursou, chamando a atenção para a necessidade urgente de limitar o aquecimento global a 1,5°C e alertando que os compromissos assumidos pelos países ainda são insuficientes. Disse que a humanidade está à beira de um colapso climático e que a responsabilidade recai principalmente sobre os maiores emissores históricos.
Apesar do tom esperançoso, Lula alabou os esforços de Belém para receber a cúpula apesar da estrutura precária, que enfrentou muitas dificuldades para receber um evento de tal magnitude. Há que salientar os preços abusivos cobrados por hotéis — alguns cobrando mais de mil dólares por diária —, o que impediu a participação de delegações de países mais pobres, sobretudo africanos. A crítica revela um paradoxo: uma conferência global sobre justiça climática termina por excluir justamente os povos mais vulneráveis às mudanças do clima.
Ao final, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com o multilateralismo, a cooperação Sul-Sul e a justiça ambiental. Belém, com todas as suas contradições, representa uma encruzilhada: ou se avança para uma nova governança climática, ou se perpetua a exclusão disfarçada de diplomacia.
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