Investimentos e demarcações não escondem os limites da diplomacia, enquanto 70 mil pessoas na Cúpula dos Povos cobram justiça climática e ruptura com os fósseis
Belém tornou-se um laboratório político da crise climática: enquanto governos anunciam avanços graduais e tentam administrar consensos frágeis, a realidade amazônica — marcada por desigualdade, destruição acelerada e resistência histórica — evidencia que a diplomacia internacional segue distante da urgência que o colapso ambiental impõe.
Investimentos e demarcações não escondem os limites da diplomacia, enquanto 70 mil pessoas na Cúpula dos Povos cobram justiça climática e ruptura com os fósseis.
A COP30 entrou em sua fase decisiva em Belém, deixando claro que a disputa climática é política antes de tudo. Entre anúncios oficiais e pressões populares, a conferência expôs a distância entre o ritmo da diplomacia e a velocidade da crise ambiental que avança sobre a Amazônia.
Avanços oficiais: necessários, mas insuficientes
O governo brasileiro apresentou dois movimentos relevantes:
- Um investimento de R$ 107 milhões para fomentar a bioeconomia amazônica.
- O reconhecimento de dez novas terras indígenas.
Essas medidas apontam para uma mudança de orientação, mas não dão conta da escala do problema. A destruição avança mais rápido do que a capacidade dos Estados de protegê-la, e a expectativa global sobre o papel do Brasil é maior do que as iniciativas anunciadas.
O “mapa do caminho” de Lula e o impasse internacional
Na abertura, Lula apresentou o chamado “mapa do caminho”: um roteiro para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis. A proposta tenta reposicionar o Brasil como articulador de consensos em um sistema internacional travado.
Mas a fragmentação global é profunda. Estados Unidos e Europa se equilibram entre pressões internas, interesses fósseis e limites orçamentários. Já países do Sul Global cobram recursos, tempo e justiça. Belém deixou claro que sem financiamento consistente — e sem enfrentar os interesses que lucram com a destruição — qualquer mapa será apenas promessa.
A outra COP: a força da Cúpula dos Povos
Enquanto a diplomacia negociava nas salas azuis, a Universidade Federal do Pará ficou tomada por mais de 70 mil pessoas na Cúpula dos Povos. Povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e movimentos sociais denunciaram o papel estrutural do capitalismo na crise climática.
As vozes que ecoaram ali fazem um contraponto que não pode ser ignorado:
- A transição ecológica não será possível sem reforma agrária;
- A justiça climática exige enfrentar desigualdades históricas;
- e a Amazônia não é obstáculo ao desenvolvimento, mas centro de um projeto de futuro.
Os cartazes sintetizaram essa crítica com precisão: “Colapso ambiental é capitalista”.
Belém como palco e metáfora
Belém escancarou seu paradoxo: cidade amazônica com infraestrutura frágil, desigualdade profunda e, ao mesmo tempo, anfitriã do maior debate climático do planeta. A COP30 expôs a contradição entre os compromissos anunciados e a realidade cotidiana de quem vive na linha de frente da crise.
Essa tensão torna evidente que a transição ecológica não é apenas técnica — é disputa de poder.
Conclusão: entre urgências e limites
A COP30 mostrou que ainda existem caminhos, mas eles exigem coragem política. Os anúncios oficiais avançaram, mas ficaram aquém da urgência climática. A Cúpula dos Povos lembrou que sem participação popular, justiça social e ruptura com os fósseis, qualquer acordo será insuficiente.
A Amazônia segue no centro da crise — e das possibilidades reais de transformação.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

