o pressionar países do Sul Global, os Estados Unidos reforçam a necessidade de alternativas à hegemonia do dólar, impulsionando blocos como o Brics e alianças Sul-Sul
O Brasil buscava negociar, estendia a mão ao diálogo, mas o governo Trump declarou uma verdadeira guerra econômica contra o país. Como parte dessa ofensiva, foram impostas tarifas de até 50% sobre produtos estratégicos brasileiros, incluindo café, açúcar e suco de laranja. Essa medida não é apenas econômica: é uma represália política, motivada pelo engajamento do Brasil no Brics e pelo desafio que representa à hegemonia estadunidense.
O impacto é profundo e multifacetado. O setor aeronáutico, por exemplo, sofre diretamente, pois os aviões da Embraer dependem de peças vindas dos Estados Unidos. O aumento de custos trava a produção brasileira e também afeta fornecedores estadunidenses, mostrando que, na lógica do confronto, ninguém sai ganhando. Setores que empregam milhões de pessoas — agricultura, indústria aeronáutica e alimentos processados — são os mais atingidos.
Países afetados por tarifas estadunidenses
A ofensiva de Trump não se restringiu ao Brasil. Entre os países e produtos mais afetados estão:
- Brasil: café, açúcar, suco de laranja — até 50%
- México: produtos manufaturados — 30%
- União Europeia: aço, alumínio, produtos agrícolas — 25% a 50%
- China: produtos industriais variados — até 45%
- Índia: aço, alumínio, produtos agrícolas — 25% a 50%
- Vietnã: calçados, produtos têxteis — 25%
- Coreia do Sul: produtos tecnológicos e automotivos — 25%
- Indonésia: produtos têxteis e agrícolas — 25%
- Japão: produtos industriais e agrícolas — 25%
Essa lista evidencia a amplitude da guerra econômica, que atingiu simultaneamente aliados históricos e parceiros estratégicos, mostrando que se trata de uma política de imposição unilateral, não de negociação.
O argumento fiscal
Parte da justificativa de Trump para essas tarifas era arrecadar fundos para compensar o déficit gerado pela redução de impostos aos mais ricos e às grandes empresas, implementada pelo Tax Cuts and Jobs Act de 2017. De fato, os cortes tributários reduziram a arrecadação em aproximadamente 150 a 200 bilhões de dólares por ano.
As tarifas geraram receita adicional, mas muito menor do que a perda causada pelos cortes — cerca de 12 a 15 bilhões de dólares por ano. Isso deixa claro que a guerra comercial não tinha como objetivo principal equilibrar contas públicas, mas sim pressão geopolítica e reforço da indústria nacional americana.
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Consequências geopolíticas e econômicas
O efeito vai além da arrecadação e da economia brasileira. Ao pressionar países do Sul Global, os Estados Unidos reforçam a necessidade de alternativas à hegemonia do dólar, impulsionando blocos como o Brics e alianças Sul-Sul. A guerra econômica evidencia a vulnerabilidade de países dependentes de insumos estratégicos e a fragilidade de cadeias produtivas globais.
O Brasil tentou negociar, oferecendo diálogo e cooperação, mas encontrou uma barreira intransponível: tarifas punitivas impostas de forma unilateral. A mensagem é inequívoca: Trump declarou guerra econômica, impondo regras sem consulta e prejudicando até mesmo sua própria economia.
Reflexão final
A guerra econômica de Trump é mais do que um conflito comercial: é uma demonstração de força e uma tentativa de controlar a soberania de nações que desafiam a hegemonia estadunidense. Para o Brasil, a lição é clara: só a diversificação de parcerias e a participação ativa em blocos internacionais pode garantir autonomia econômica e política frente a medidas unilaterais e punitivas.
O tarifaço e a postura de Trump confirmam que, no cenário internacional, a soberania e a independência econômica devem ser defendidas com firmeza, sob pena de países emergentes se tornarem reféns de interesses externos.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

