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CAFÉ COM VODKA | Setembro, soberania e a luta pela verdadeira Independência do Brasil

A coluna CAFÉ COM VODKA é produzida pelo Centro de Integração e Cooperação entre Rússia e América Latina no Brasil (CICRAL Brasil) em parceria com a Diálogos do Sul Global.

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Setembro é um mês em que o patriotismo se aflora, afinal, comemoramos a Independência do Brasil! Mas convenhamos: essa independência nunca se concretizou por inteiro. Ela foi política, mas não econômica; formal, mas não cultural. Hoje, 200 anos depois, a disputa pela soberania nacional se dá em novas trincheiras: no enfrentamento ao tarifaço e na defesa constante da nossa soberania.

O Brasil é dos brasileiros. Lemos no boné, que se tornou símbolo dessa resistência. Ganhando espaço nas ruas, nas redes e até mesmo entre ministros e o próprio presidente, em um gesto claro de afirmação nacional; na luta contra aqueles que colocaram nossa democracia em risco e ainda colocam nossa soberania à disposição de interesses externos.

Trump e Bolsonaro, apesar das diferenças, são, em essência, farinha do mesmo saco. Juntos articulam uma estratégia de disputa cultural, lançando mão de artifícios desonestos para governar através do medo. Como ensina Gramsci, o poder da classe dominante não se mantém apenas pela força, mas, sobretudo, com o consentimento das classes dominadas. Consentimento que resulta do controle exercido sobre instituições culturais — como a mídia, as escolas e a religião — capazes de influenciar a visão de mundo e apresentar como naturais valores conservadores e interesses da elite.

O tarifaço imposto por Trump sobre produtos brasileiros, que chegou a 50%, foi mais do que um simples gesto econômico: foi uma tentativa explícita de interferência política, a fim de pressionar o governo e o Judiciário brasileiros. Enquanto setores da direita buscavam justificar a entrega da soberania nacional e defendiam o vale-tudo em prol da anistia a Bolsonaro, o governo brasileiro buscou outras alternativas: diversificou seus parceiros comerciais, assegurou o abastecimento do mercado interno, recusou interferências estrangeiras e deu início a uma campanha em defesa da soberania nacional, que resultou até mesmo na mudança do slogan do Governo Federal que se tornou: Governo do Brasil. 

Umberto Eco recorda-nos que o fascismo se alimenta de mitos e inimigos imaginários. Nesse contexto, a narrativa da crise econômica funcionou como cortina de fumaça, enquanto a interferência externa nos interesses nacionais era passada a um segundo plano.

A resistência nasce da consciência, já nos alertava Gramsci: “Instruí-vos porque teremos necessidade de toda a vossa inteligência. Agitai-vos porque teremos necessidade de todo o vosso entusiasmo. Organizai-vos porque teremos necessidade de toda a vossa força.” O tarifaço demonstrou que a soberania não é um conceito abstrato: ela se conquista, se defende e se comunica.

Trump e seu governo violam princípios fundamentais das relações internacionais ao tratar imigrantes como carga, mantê-los algemados e aumentar recompensas por chefes de Estado, como Nicolás Maduro, em desrespeito às normas internacionais. A ofensiva contra a Venezuela, sob pretexto de combate ao narcotráfico, representa uma clara agressão à América do Sul.

No Brasil, setores da extrema-direita utilizaram o 7 de setembro para levantar a bandeira dos Estados Unidos, um país que segue atacando nossa soberania, nossas instituições (como o STF), buscando desestabilizar a ordem interna. Ambos os movimentos se utilizam de uma lógica neofascista, manipulando o imaginário coletivo e confundindo consentimento com coerção.

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Ao mesmo tempo, o último 7 de setembro também se revelou uma grande celebração da soberania e um espaço de organização para a classe trabalhadora. A Independência de 1822 foi incompleta. Retomar símbolos nacionais, valorizar conquistas históricas e unificar os trabalhadores ao redor de questões centrais — como a taxação de bancos, casas de apostas e bilionários; o fim da escala 6×1 sem redução salarial; a manutenção da estabilidade do servidor público; e a defesa intransigente da soberania nacional — é fundamental para consolidar o Brasil como uma nação soberana e como potência sul-americana, fortalecendo, assim, o nosso papel em um mundo multipolar.

Como explica Gramsci, a hegemonia não se mantém apenas pela força, mas pelo consentimento que a elite constrói, ao convencer a classe trabalhadora a apoiar projetos que não a beneficiam. A guerra de posição torna-se vital: a coalizão formada pelo governo Lula, dirigentes, militantes e cidadãos precisa ocupar cada trincheira. Reforçar a conscientização crítica, como propõe Paulo Freire, significa educar para compreender estruturas de poder, debater e interpretar símbolos e valores nacionais, questionar as narrativas impostas pela mídia e pelas elites, bem como organizar coletivamente ações em defesa dos direitos e das conquistas sociais.

A soberania do Brasil não se constrói apenas em gabinetes ou por meio de tarifas, mas se manifesta na disputa cultural que atravessa diversos espaços da vida cotidiana: as escolas, os sindicatos, as igrejas, as ruas e as casas. O povo de Pernambuco canta o próprio hino e tem orgulho da sua bandeira; é desse modo que se aprende, desde cedo, que soberania não é abstrata, mas parte do cotidiano e da identidade coletiva.

Ao mesmo tempo, o aprofundamento das investigações e a revelação de articulações golpistas de Bolsonaro e de seus aliados demonstram que a soberania também se defende institucionalmente, contra tentativas de subversão da ordem democrática. Cada vitória econômica, social e institucional representa uma trincheira cultural: comprova que resistir e construir soberania é possível; assegura que o Brasil possa avançar sem se submeter a imposições externas ou às elites que não representam a maioria.

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É com consciência crítica e ação concreta que podemos transformar o 7 de Setembro em mais do que uma lembrança protocolar, um mero feriado: um marco vivo de luta e de futuro. Afinal, a Independência não será plena enquanto a nossa cultura for silenciada, enquanto a soberania social e econômica for tratada como uma promessa distante, enquanto a democracia não estiver enraizada no cotidiano do povo. Cada brasileiro e brasileira que reconhece a sua história, defende nossos símbolos, ocupa espaços de decisão e protege os direitos coletivos, sustenta a pátria sobre bases sólidas e verdadeiras. Não é o Estado isoladamente, tampouco as elites, mas sim o povo organizado e consciente que pode fazer do Brasil uma nação soberana de fato.

Por isso, reafirmamos: soberania não é palavra vazia, é prática cotidiana; liberdade não é concedida, é conquistada a cada dia; pátria não é retórica, é aquilo que nos torna um povo forte. Avançar é o único caminho, resistir é nosso dever, e lutar é o que nos cabe para escrever, enfim, uma história completa de independência, justiça social e orgulho nacional.

Nenhum passo atrás. Soberania popular já. O Brasil é do povo brasileiro.

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