O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem defendido alguns de seus aliados no exterior que enfrentam reprovação pública ou processos judiciais em seus países, classificando esses casos como uma “caça às bruxas”. Recentemente, Trump demonstrou especial interesse na situação de dois políticos: o ex-mandatário brasileiro e político de extrema-direita Jair Bolsonaro, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Ambos, ideologicamente alinhados com o líder estadunidense, mantêm boas relações com ele.
Bolsonaro “não é culpado”
Trump defendeu Bolsonaro na última segunda-feira (14), enquanto o ex-presidente responde à Justiça brasileira por diversas acusações que o vinculam a uma trama golpista. Em uma publicação em sua rede social Truth Social, o presidente dos EUA classificou o processo judicial como uma “caça às bruxas”, afirmando que “o Brasil está fazendo algo terrível no tratamento ao ex-presidente”.
Cannabrava | Tarifaço de Trump expõe extorsão econômica e testa a soberania brasileira
“Ele não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo. Conheci Jair Bolsonaro, e ele era um líder forte, que realmente amava seu país — além disso, um negociador muito duro em comércio”, declarou Trump.
Ao mesmo tempo, atacou seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, acusando-o de perseguir seu rival político. “Sua eleição foi muito apertada e agora ele [Bolsonaro] lidera nas pesquisas. Isso não passa de um ataque a um oponente político — algo sobre o qual sei muito!”, afirmou. “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o do povo brasileiro — isso se chama eleição. Deixem Bolsonaro em paz!”, acrescentou.
Crítica de Lula e agradecimento de Bolsonaro
Em resposta, Lula criticou Trump por se intrometer nos assuntos internos do Brasil. “A defesa da democracia no Brasil é um assunto que compete aos brasileiros. Somos um país soberano”, escreveu na rede social X. O presidente também destacou que o Brasil conta com “instituições sólidas e independentes” e que nenhuma pessoa processada judicialmente “está acima da lei — especialmente aquelas que ameaçam a liberdade e o Estado de Direito”. “Não aceitamos ingerências nem tutelas de ninguém“, ressaltou.
Confira mais análises sobre as tarifas de Trump contra o Brasil.
Por sua vez, Bolsonaro agradeceu a Trump pelo apoio. “Convivi dois anos com o presidente Trump, período em que sempre defendemos os interesses de nossos povos e a liberdade de todos. Essa ação judicial à qual respondo é um caso de assédio jurídico (lawfare), clara perseguição política — algo que todos com bom senso já entenderam”, escreveu.
O ex-presidente brasileiro afirmou que Trump “passou por algo parecido”, referindo-se a vários processos judiciais contra o republicano. “Foi perseguido sem piedade, mas venceu pelo bem dos Estados Unidos e de dezenas de outros países verdadeiramente democráticos. Sua luta pela paz, justiça e liberdade ressoa em todo o planeta. Obrigado por existir e por nos dar um exemplo de fé e resiliência”, declarou.
Processo contra Bolsonaro
O Supremo Tribunal Federal do Brasil deu início à fase de julgamento penal contra Bolsonaro e outros sete acusados pela tentativa de golpe de Estado que buscava impedir a posse de Lula em janeiro de 2023.

O Ministério Público o acusa de participar de uma organização criminosa com o objetivo de invalidar os resultados eleitorais e impedir a posse de Lula. Bolsonaro classificou as acusações como “abomináveis” e negou ter apoiado ações violentas. O processo, ainda em curso, pode resultar em uma condenação de até 40 anos de prisão, caso seja considerado culpado.
“Grande herói”
O outro aliado de Trump, Benjamin Netanyahu, também recebeu o apoio do presidente estadunidense há cerca de duas semanas, enquanto enfrenta um processo judicial por corrupção que se arrasta desde 2020. “Ele tem vivido esse ‘espetáculo de terror’ desde maio de 2020 — algo inaudito!”, declarou o inquilino da Casa Branca.
Trump também enfatizou que é a “primeira vez que um primeiro-ministro israelense no exercício do cargo é julgado”, o que atribuiu a “motivações políticas” destinadas, segundo ele, a “lhe causar um grande dano”.
“Uma caça às bruxas como essa, contra um homem que deu tanto, me parece impensável. Ele merece muito mais do que isso — e o Estado de Israel também. O julgamento de Bibi Netanyahu deveria ser cancelado imediatamente, ou deveria ser concedido um indulto a um grande herói que tanto fez pelo Estado”, afirmou.
Ricardo Alemão Abreu: “Tarifaço de Trump é declaração de guerra contra o Brasil”
Além disso, Trump assegurou que pretende “salvar” Netanyahu. “Foram os EUA que salvaram Israel, e agora serão os EUA que salvarão Bibi Netanyahu. Essa paródia de ‘justiça’ não pode ser permitida!”, declarou.
Em seguida, reiterou sua condenação ao julgamento do primeiro-ministro, ressaltando que “é terrível o que estão fazendo com ele”. “Essa farsa de ‘justiça’ vai interferir nas negociações tanto com o Irã quanto com o Hamas”, afirmou Trump.
Agradecimento de Netanyahu
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense agradeceu a Trump. “Fiquei profundamente comovido com seu sincero apoio a mim e com seu incrível apoio a Israel e ao povo judeu”, declarou. Ao mesmo tempo, Netanyahu afirmou que espera continuar trabalhando com o presidente estadunidense para derrotar seus “inimigos comuns”, libertar os reféns em poder do Hamas e “ampliar rapidamente o círculo da paz”.
Na mesma ocasião, Netanyahu propôs Donald Trump para o Prêmio Nobel da Paz.
Que tal acompanhar nossos conteúdos direto no WhatsApp? Participe do nosso canal.
Acusações de corrupção
Netanyahu tornou-se o primeiro primeiro-ministro israelense a ser processado enquanto ainda exercia o cargo. Ele enfrenta três acusações relacionadas a fraude, abuso de confiança e suborno.
No entanto, seu julgamento sofreu diversos adiamentos desde que teve início, em maio de 2020. Netanyahu solicitou os adiamentos alegando os conflitos com o Hamas em Gaza e com o Hezbollah no Líbano.
Isaac Herzog, presidente de Israel, tem autoridade para conceder um indulto a Netanyahu, mas segundo a imprensa local, declarou que um perdão “não está atualmente sobre a mesa”. O processo judicial contra o primeiro-ministro teve início em 3 de junho em um tribunal de Tel Aviv e estima-se que possa se prolongar por cerca de um ano.

