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Argentina: manobras de Milei para evitar desastre nas legislativas refletem governo perdido e acuado

O governo ultradireitista da Argentina enfrenta desafios significativos diante da crise econômica e política que ele próprio desencadeou, e que se complica ainda mais com a intervenção do mandatário estadunidense Donald Trump, que tentou influenciar a percepção pública argentina e apenas gerou mais incertezas sobre a gestão de Javier Milei… e sobre a duração de seu governo.

Hoje, a situação no país é tensa e há preocupações quanto à continuidade do governo após as próximas eleições legislativas de 26 de outubro. Segundo as últimas pesquisas, o partido governista A Liberdade Avança nem sequer poderia garantir o terço de legisladores necessário para bloquear um processo político que poderia terminar com seu mandato.

Enquanto isso, o governo enfrenta uma dura prova no Congresso em relação ao orçamento do próximo ano, diante da volatilidade do mercado e da necessidade de cumprir as metas impostas pelo Fundo Monetário Internacional.

Com foco no resgate financeiro negociado com os Estados Unidos, o governo de Javier Milei persiste na venda de divisas no mercado cambial para manter o dólar fixado em torno de 1,43 peso. O presidente das criptoestafas afirmou aos grandes empresários que evadir e fugir eram condutas heroicas porque “escaparam das garras do Estado”. “Trata-se de uma pornográfica apologia ao delito penal tributário… pela qual nenhum fiscal move um dedo… seguramente porque, em geral, também evadem e fogem”, afirmou o dirigente peronista Juan Grabois.

Duas recessões em dois anos

Duas recessões em apenas dois anos: este é o recorde de Javier Milei, afirma o economista Alfredo Zaiat. É a prova do fracasso do experimento liberal-libertário. É preciso fazer as coisas muito mal para alcançar esse resultado negativo. A gestão de Caputo é desastrosa: não há antecedentes, desde a recuperação da democracia, de um ministro da Economia que tenha permanecido no cargo com tamanho retrocesso na atividade e, ainda por cima, com dois intensos resgates financeiros.

Um foi concedido pelo Fundo Monetário Internacional, que desembolsou 14 bilhões de dólares dos 20 bilhões comprometidos. O segundo é o auxílio direto que Caputo negocia com os Estados Unidos: um swap de moedas por 20 bilhões de dólares, a compra direta de títulos da dívida argentina no mercado secundário e em novas emissões, a entrega de garantias de pagamento da dívida argentina e/ou uma linha de crédito direta stand-by. Busca apenas ganhar tempo sem resolver os desequilíbrios que afundam a economia de Milei.

O resgate que Milei e Caputo conseguirem com seus rogos nos Estados Unidos não seria suficiente para modificar a percepção social majoritária, que vê um governo incapaz de dar respostas ou que governa diretamente para Wall Street, baseado na submissão de milhões de argentinos.

As razões do previsível voto de castigo (como aconteceu em 7 de setembro na Província de Buenos Aires) são, sobretudo, econômicas: contra a queda do poder aquisitivo, contra o colapso do consumo, contra o ajuste imposto aos setores mais vulneráveis, contra o festival de importações, contra o dólar barato que prejudica os setores exportadores e a indústria, contra a destruição do emprego. Se a isso se somar o retorno da instabilidade, porque acabaram os dólares que o governo não quis acumular, a situação se torna ainda mais difícil para o oficialismo.

Para o analista Diego Genoud, Milei tem uma única carta para recuperar fôlego e enfrentar com alguma margem o dia seguinte — quando quase todos esperam uma desvalorização: apostar que a força histórica do antiperonismo gere uma afluência massiva às urnas para impedir o retorno do peronismo ao poder.

Estafa, propinas, narcopolítica e show

Após um desopilante show musical de Milei em plena crise cambial — só faltou vestir a camiseta e tentar jogar na seleção de futebol — e em meio ao escândalo do narcotráfico que envolve o agora ex-candidato libertário José Luis Espert, sucessor da criptoestafa $Libra, e ao escândalo de propinas que alcançou a secretária-geral da Presidência, Karina Milei (irmã do mandatário), e o presidente do Congresso, Martín Menem, o governo enfrenta diariamente tensões no Congresso.

O procurador federal Eduardo Taiano ordenou a perícia dos telefones celulares apreendidos no âmbito da investigação da megaestafa internacional com $Libra, a criptomoeda promovida pelo presidente Javier Milei, o primeiro grande escândalo enfrentado pela administração do A Liberdade Avança. Busca-se determinar, na etapa de instrução do processo, se existiram mensagens entre o presidente e os promotores do memecoin, Hyden Davis (criador do token), Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy.

Enquanto isso, no início de outubro e em plena crise cambial, Milei tentou reviver a campanha oficialista e fez um desopilante show musical desafinando canções de artistas populares — só faltou vestir a camiseta e tentar jogar na seleção de futebol. Disfarçado de roqueiro, resgatou velhas consignas anticomunistas e “antiwoke”. O jornal britânico The Guardian ironizou a cena: “Queimando a casa: Milei se faz passar por estrela de rock enquanto a economia argentina desaba”. O diário analisou a surreal apresentação do presidente no Movistar Arena, vinculando-a diretamente à crise política e econômica mais profunda que o país atravessa, em que “sua promessa de levar a Argentina a uma nova era de prosperidade naufraga entre conflitos econômicos, escândalos internos e crescente descontentamento social”.

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Os militantes das distintas agremiações oficialistas congregaram-se no Parque Los Andes. A distinção de cada tribo podia ser feita pela cor das camisetas. Os das Forças do Céu vestiam bordô e portavam estandartes com frases como “o comunismo é uma doença da alma” ou “o céu os esmagará diante de nós”. Alguns chegavam em ônibus, e outros faziam fila para receber bonés e camisetas.

“Vou escrever mais livros para repetir isto”. A frase de Javier Milei para toda a sua militância sintetizou o que foi um evento pensado para reviver os momentos mais eufóricos desde a criação do A Liberdade Avança, enquanto se aproximam as eleições e os escândalos de corrupção mostram uma queda alarmante nas pesquisas, o que assusta os mercados. O presidente, na realidade, apresentava seu livro A construção do milagre, mas foram muito poucos os minutos em que de fato se referiu a ele.

Prometeu que “virão mais reformas estruturais a partir de 11 de dezembro”. Disse que seu governo “aniquilou a hiperinflação e fez o PIB crescer 6%”, acrescentando que está realizando “ajustes que beneficiam o povo”.

Help!

A Argentina pediu a assistência do Tesouro dos Estados Unidos em meio a um fechamento de governo que corta gastos discricionários e traz a Donald Trump turbulências internas. Ainda assim, o ministro da Economia, Luis Caputo, negociou os detalhes de um swap — que Washington acelerou ao revisar a delicada situação financeira em que se encontra o governo — e a possibilidade de um crédito em DEGs, a moeda do FMI.

O cenário abre várias interrogações. O plano não funciona e a única saída proposta pela Casa Rosada é continuar se endividando (e que a dívida seja paga por outros).

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi claro: haverá uma “linha de swap”, não dólares em espécie, e a prioridade é defender os interesses estratégicos dos Estados Unidos na região. Nem um centavo servirá para responder às urgências do povo: trata-se de um respaldo político ao plano de ajuste de Milei. A foto de Caputo com Bessent, com bandeiras ao fundo, não passa de uma imagem de rendição: a economia argentina atada de pés e mãos aos ditames de Washington e do FMI.

Narcofundos

Após retirar sua candidatura para as eleições do dia 26, José Luis Espert — que era o primeiro candidato na lista da província de Buenos Aires para as eleições de domingo, 26 — também renunciou à presidência da Comissão de Orçamento e Fazenda da Câmara dos Deputados, diante das provas que o vinculam ao narcotraficante e financista Fred Machado. A Justiça Eleitoral rejeitou o pedido do A Liberdade Avança (LLA) para que Diego Santilli, deputado do neoliberal PRO (liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri), substituísse Espert como cabeça de lista, e seu lugar será ocupado por Karen Reichardt.

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Em 14 de maio de 2023, em meio à sua campanha presidencial e nos estúdios de televisão do La Nación, Milei atacava o partido de Mauricio Macri e Santilli, seu candidato a governador bonaerense. “Não tenho culpa se o Juntos pelo Cargo tem um péssimo candidato, horrível, como é o caso de Santilli, que é um engendro que estava na Capital e o passam para a Província. As pessoas percebem como certa parte da política se move por negócios, e é lógico que isso gere rejeição”, disse.

Então Milei tuitou: “Não há ninguém que não diga que (Santilli) é um corrupto”, que é quem “pagava a festa de aniversário com o teu dinheiro” e que fazia parte de “um pântano de corrupção, delinquência e vínculos com o crime organizado, manejado pelos mesmos de sempre há décadas”.

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