A apuração das eleições gerais em Honduras traz um cenário de incerteza e disputa intensa. Com 55% das atas escrutinadas, o conservador Nasry Asfura, do Partido Nacional, aparece na frente do resultado preliminar divulgado pelo Conselho Nacional Electoral (CNE) com 40% dos votos.
Em segundo lugar, figura Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com 39,8% e, em terceiro, Rixi Moncada, candidata do Partido Libertad y Refundación (Libre), com 19,2%.
Mais de seis milhões de hondurenhos foram convocados às urnas para definir o futuro político do país, incluindo a escolha do novo presidente — que assumirá em 27 de janeiro — além de 128 deputados do Congresso, 20 representantes ao Parlamento Centroamericano e 298 prefeitos e 2.168 legisladores locais. O CNE tem até 30 dias para consolidar a declaração oficial dos resultados.
Denuncias do Partido Libre
Antes mesmo da apresentação dos primeiros números do sistema de resultados preliminares, Moncada, com o apoio da atual presidenta, Xiomara Castro, já vinha alertando sobre falhas no Sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP). Ambas denunciaram o possível “plano de sabotagem” e uma guerra psicológica para manipular a vontade popular.
Moncada — favorita nas pesquisas de intenção de voto — nesse sentido convocou o povo a “se manter em pé de luta até a divulgação dos resultados com 100% das atas apuradas”, anunciando uma coletiva de imprensa para esta segunda (1º) para comunicar sua posição política em relação aos números divulgados pelo CNE. Além disso, afirmou estar “agradecida” ao “partido [Libre] e povo hondurenho, que saiu para votar em massa” pela sua “proposta de reforma econômica e democrática”.
O ex-presidente Manuel Zelaya, referência histórica da esquerda hondurenha, além de assessor de sua esposa, Xiomara Castro, definiu o chamado de Moncada como “moral, patriótico” e fiel ao mandato popular expresso nas urnas. “O Libre é um partido de ideais aprovado nas ruas e com grandes resultados sociais e democráticos no exercício da Presidência com Xiomara Castro”, declarou.
Agradecida con el Partido Libre y nuestro pueblo, que masivamente salió a votar por mi propuesta de reforma económica y democrática. Les solicito mantenernos en pie de lucha hasta obtener los resultados finales con el 100% de las actas presidenciales, alcaldías y diputaciones.…
— Rixi Moncada (@riximga) December 1, 2025
O Partido Libre, por sua vez, havia antecipado que não aceitaria os resultados preliminares, assegurando a existência de uma “mão obscura” e o “hackeamento” do TREP com o objetivo de atrasar ou impedir a transmissão de votos provenientes de regiões onde o partido possui maioria. A manobra, detalhou o partido, seria permitir que outro setor político “cantasse vitória” antes do tempo. As denúncias se baseiam inclusive em áudios vazados, citados por membros do partido e pelo fiscal-geral, Johel Zelaya, que apontariam uma trama para alterar os dados enviados ao TREP. Os riscos também foram denunciados por Marlon Ochoa, conselheiro do CNE, que alertou sobre três falhas no TREP.
Vigilância popular
Diante das denúncias e temores de manipulação eleitoral, a participação dos cidadãos extrapolou o ato do voto. Nos centros eleitorais, eleitores permaneceram atentos ao escrutínio, registrando e fiscalizando o processo para garantir que cada voto fosse devidamente reconhecido.
Uma cidadã de Tegucigalpa entrevistada pela Telesur resumiu o sentimento popular: “Estou me certificando de que todo o processo corra bem.”
A mobilização segue orientações feitas por Rixi Moncada durante sua campanha, quando alertou sobre riscos de fraude e pediu que o povo fotografasse atas e acompanhasse o percurso dos votos “voto a voto”.
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Em diversas localidades, cidadãos exigiram a repetição do canto de votos sempre que notaram divergências, uma demonstração clara de que o povo hondurenho não está disposto a permitir retrocessos democráticos.
Trump e Asfura
Nasry Asfura, figura tradicional do conservadorismo hondurenho, tenta pela segunda vez chegar à presidência após perder para Xiomara Castro em 2021. Engenheiro civil e conhecido como “Papi, a seu dispor” [ideia de se colocar a disposição para trabalhar], iniciou carreira política em 1990 a partir de uma imagem de modéstia, geralmente vestindo jeans e camiseta. Se manteve durante anos como uma das figuras mais bem avaliadas de Honduras.
A disputa, porém, ganhou contornos internacionais quando Donald Trump interveio abertamente no cenário eleitoral do país, pressionando o voto a favor de Asfura com ameaças diretas. O presidente dos EUA declarou que, se o conservador não ganhar, “Estados Unidos não desperdiçaram dinheiro”, insinuando retaliações a Honduras. Já se eleito, prometeu “um grande apoio, pois tem muita confiança nele [Asfura], em suas políticas e no que ele fará pelo grande povo hondurenho”, enquanto “um líder equivocado só pode trazer resultados catastróficos para um país, seja ele qual for”.
Além disso, Trump sinalizou intenção de favorecer um indulto a Juan Orlando Hernández, ex-presidente condenado a 45 anos de prisão nos Estados Unidos por tráfico de armas e drogas, argumentando que se trataria de uma “armadilha da administração Biden”. Hipócrita via de regra, disse, porém, que Nasralla e Moncada podem levar Honduras pelo mesmo caminho da Venezuela.

A fala gerou reações diplomáticas, incluindo crítica contundente do presidente colombiano Gustavo Petro, que classificou como “desmoralizante” indultar um condenado por tráfico de drogas.
Questionado sobre a promessa, Trump respondeu que estaria atendendo ao clamor dos hondurenhos.
O que diz Nasralla
Enquanto Asfura se pavoneia pela dianteira parcial e Moncada denuncia as interferências no processo, Salvador Nasralla disse que o país “ainda não tem um vencedor oficial”.
Nasralla também minimizou a diferença entre seus votos e os dados a Asfura – 23 mil votos até então — como “nada”. Já em uma mensagem nas redes sociais, no decorrer da votação, pediu a seus seguidores que protegessem seus votos durante a apuração:
“Envio esta mensagem a toda a nossa estrutura nacional: ninguém abandone sua mesa, ninguém saia da seção eleitoral até o final. Honduras precisa que protejamos cada voto com coragem e responsabilidade”, escreveu. “Que Deus proteja a vontade do povo, nos livre de qualquer tentativa de fraude e nos mantenha firmes até o último momento”, concluiu.
* Artigo criado com apoio de IA.
** Com informações de Russia Today e teleSur.

