Recomendações para uma visita à Casa Branca: chegar com presentes como barras de ouro, relógios, um avião… assegurar que durante a visita as estadias sejam em hotéis com o nome do anfitrião e/ou investir em criptomoedas da primeira família… e, certamente, não mencionar coisas como suas relações com um famoso pedófilo.
Tudo isso é parte dos custos de fazer negócios com o regime em Washington. E funciona. No início deste mês, os suíços enviaram uma delegação de empresários com vários presentes, incluindo uma barra de ouro de um quilo personalizada com os números 45 e 47 — em referência às duas presidências de Trump e avaliadas em 130 mil dólares — e um relógio de mesa especial Rolex. Os presentes foram aceitos por Trump em nome de sua biblioteca presidencial, o que os torna aparentemente legais (enquanto, por lei, ele e todo funcionário federal são proibidos de aceitar presentes cujo valor supere 480 dólares). Pouco depois da visita, o mandatário reduziu as tarifas que havia imposto sobre a Suíça.
Não foi um caso especial nem novo para o ocupante da Casa Branca, lembra o portal Axios, já que, segundo uma investigação do Congresso, Trump e sua família não reportaram pelo menos 117 presentes de estrangeiros recebidos durante seu primeiro mandato, e cujos valores juntos são de aproximadamente 291 mil dólares.
Em seu retorno à Casa Branca, a diferença é que agora os presentes são cada vez mais luxuosos. Entre os mais generosos está o de maio, da família real do Catar: um avião presidencial no valor de 400 milhões de dólares.
E não são apenas estrangeiros que o agraciam. O executivo-chefe da Apple, Tim Cook, lhe deu um emblema de sua empresa em vidro sobre uma base de puro ouro, e tanto sua companhia quanto várias outras (incluindo Meta, Amazon, Microsoft, mais 33 empresas e até cidadãos) estão patrocinando com mais de 300 milhões de dólares o grande salão de baile que Trump está construindo na Casa Branca.
Também são aceitos investimentos nas criptomoedas administradas pela família do presidente estadunidense. As aplicações de especuladores estrangeiros já multiplicaram os ganhos da empresa familiar, a Trump Organization, para 864 milhões de dólares até meados deste ano, segundo a Reuters. Alguns calculam que a família Trump agregou 5 bilhões de dólares às suas fortunas pessoais apenas nos primeiros sete meses de sua presidência, o que a organização Public Citizen classificou como “o maior caso de corrupção na história presidencial”.

A vaidade acompanha o negócio, como sempre aconteceu com esta “primeira-família”, onde toda propriedade, hotel, clube de golfe, leva seu nome. Mas agora, desde a presidência, há propostas para nomear sedes e produtos oficiais — do salão de baile em construção ao velho Centro Kennedy — com o nome presidencial. Uma moeda oficial proposta para comemorar o 250º aniversário leva a imagem de Trump em ambos os lados — perde o significado, assim, a frase “dois lados da mesma moeda”, assim como será impossível usar o termo “cara ou coroa”.
No entanto, todo esse negócio poderia ser colocado em xeque se a crise do falecido Jeffrey Epstein continuar explodindo e expondo a relação de Trump com o famoso pedófilo e amigo de ricos e famosos — o ex-príncipe Andrew já teve que pagar sua parte da conta. Em novas mensagens divulgadas, Epstein afirma que Trump “sabia das garotas”. Até agora, o republicano não conseguiu escapar do problema, o que inclusive está provocando fissuras entre suas bases e aliados.
Por essa razão, em parte, especula-se abertamente que o quase Prêmio Nobel talvez precise da nova Nobel da Paz, Corina Machado, para provocar uma guerra no Caribe. Assim, o sangue de cidadãos venezuelanos poderia distrair a comunidade nacional e internacional do problema pessoal que envolve Trump.
De fato, são necessárias distrações: Trump permanece em seu ponto mais baixo nas pesquisas, com apenas 41% de aprovação e 55% de desaprovação. Em um recente levantamento da NBC, 30% afirmam que apoiam o movimento MAGA, enquanto 43% agora apoiam a campanha de opositores sob o lema “Não aos Reis”.
“Salvar a América”: por que imigrantes e socialistas são uma ameaça aos EUA?
Parece que o país mais poderoso do mundo, agora encabeçado por um governo que pretende ser um “valentão”, tem medo de tudo, especialmente de estrangeiros de “cor”, de regimes que não são obedientes — e, portanto, “narco-terroristas” —, assim como desse outro espectro que parece ter ressuscitado: o “socialismo”.
“Proteger a América de estrangeiros criminosos. Proteja sua pátria e defenda sua cultura”, convida o Departamento de Segurança Interna em um anúncio que mostra como o governo está intensificando o recrutamento de agentes. Em outro chamado, aparece a imagem do Tio Sam declarando: “A América precisa de você. A América foi invadida por criminosos e predadores. Precisamos de você para expulsá-los.”
Inclusive, a ameaça é tão grave que requer até citações bíblicas, enquanto se mostram agentes federais armados em filmagens em preto e branco, tudo acompanhado de uma trilha sonora tipo country, rezando pelas forças necessárias para defender o país — tudo parte de um novo vídeo de recrutamento para o Serviço de Imigração e Controle Aduaneiro (ICE, na sigla inglês) do Departamento de Segurança Interna. Se alguém pensava que havia sido alcançada a separação entre Estado e Igreja, se enganou: para este governo, Deus quer agentes armados caçando Jesus e Maria, entre outros imigrantes e refugiados.
“Fear thou not; for I am with thee: be not dismayed; for I am thy God: I will strengthen thee; yea, I will help thee; yea, I will uphold thee with the right hand of my righteousness”. – Isaiah 41:10 pic.twitter.com/LXA34vn5Kf
— Homeland Security (@DHSgov) November 22, 2025
Enquanto isso, os países desobedientes a Washington e de onde provêm esses “invasores” são acusados de outra ameaça aos Estados Unidos: envenenar os muito saudáveis e inocentes estadunidenses. O agora chamado Departamento de Guerra (nome mais preciso que o anterior, “de Defesa”, já que o país tem realizado mais guerras do que qualquer outro nas últimas décadas) está movimentando porta-aviões, navios de guerra, aviões de caça, mais de 15 mil tropas, helicópteros, junto a forças encobertas no Caribe, em uma missão oficial cuja função parece mudar diariamente: combater as drogas, retomar a Doutrina Monroe ou até mesmo mudar o regime na Venezuela.
Além da invasão de imigrantes e de países desobedientes que exportam “drogas”, há um inimigo interno que não deixa de assustar: o “socialismo”. A preocupação é tamanha que a grande maioria da Câmara de Representantes (incluindo o líder democrata e dezenas de seus partidários) teve que se proclamar contra o socialismo, pouco antes de Zhoran Mamdani — um perigoso socialista democrático e prefeito eleito de Nova York — chegar para visitar o presidente. A resolução legislativa aprovada se chama “Denunciando os horrores do socialismo” e conclui afirmando que os Estados Unidos foram fundados sobre a “santidade do indivíduo”, oposta ao “sistema coletivista do socialismo” e, portanto, “o Congresso denuncia o socialismo em todas as suas formas e se opõe à implementação de políticas socialistas nos Estados Unidos”.
Pouco depois, a bancada republicana da Câmara Baixa difundiu pelas redes sociais uma imagem de uma águia com a foice e o martelo em suas garras, com o lema: “Resista ao socialismo. Salve a América.”
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— House Republicans (@HouseGOP) November 21, 2025
Talvez tenham razão sobre todas essas ameaças. O socialismo é visto favoravelmente por uma maioria dos jovens e dos democratas, segundo sondagens recentes. E o triunfo de Mamdani na maior cidade do país confirma os temores da direita. Além disso, este é literalmente um país construído e transformado por imigrantes, desde os seus primeiros dias até hoje. Às vezes, as duas coisas se misturam: ideias “radicais” como os direitos à educação, à saúde e a um trabalho digno para todo trabalhador e suas famílias são fruto de imigrantes que as “importam” para os EUA. Na semana passada, por exemplo, foi comemorado o aniversário da morte de Ricardo Flores Magón em uma prisão estadunidense, como também o do grande organizador trabalhista imigrante Joe Hill — ambos anarcossindicalistas, rebeldes e “perigosos”. Assustam (alguns estadunidenses) até hoje.

