Condenações inéditas expõem a trama golpista, reordenam o papel das Forças Armadas e orientam o país às vésperas das eleições de 2026
A prisão de três generais, um almirante, dois civis e Jair Bolsonaro, capitão reformado condenado a 27 anos e 3 meses, marca um acontecimento inédito na história brasileira. As penas somadas chegam a 157 anos de condenação. Entre os militares de alta patente, foram sentenciados: o general Walter Braga Netto (26 anos e 6 meses), o general Augusto Heleno (21 anos), o general Paulo Sérgio Nogueira (19 anos) e o almirante Almir Garnier Santos (24 anos). Entre os civis, Anderson Torres recebeu 24 anos, e Alexandre Ramagem, ex-diretor da ABIN, está foragido e foi condenado a 16 anos.
Essa decisão judicial tem profundo significado político, moral e histórico. Bolsonaro é mais que personagem: tornou-se símbolo da lumpen-burguesia que o impulsionou e seguirá conspirando. Porém, o elemento central — e de maior peso histórico — é a responsabilização dos generais.
É preciso recordar o percurso. A captura do poder foi planejada com antecedência pelo Estado-Maior das Forças Armadas. A eleição de 2018 não foi fruto apenas de circunstância, mas de uma operação de inteligência cuidadosamente construída. Generais assumiram o comando de um governo de fato, ocuparam todos os cargos de primeiro escalão e distribuíram milhares de postos no segundo escalão e nas estatais para seus subordinados: quase 10 mil militares instalados no aparelho de Estado. Foi uma verdadeira ocupação militar do Planalto.
E como planejaram a captura, planejaram também a permanência. A manutenção do poder viria “pelas boas” — isto é, pelas urnas — ou “pelas más” — pelo golpe de Estado. O erro de cálculo veio da dissidência entre os próprios generais. A eleição de Lula foi uma surpresa para esse bloco de poder, e sua posse selou a frustração dos conspiradores.
A frustração é ponto crucial: o projeto de poder dos militares não apenas falhou, mas ruiu diante do restabelecimento da ordem democrática. Retirar os golpistas de circulação não é apenas cumprimento da lei; é obrigação da democracia e condição para o futuro da nação.
Agora, além das condenações na Justiça comum, esses generais também serão julgados pelo Superior Tribunal Militar. Há possibilidade concreta de perda de patente — consequência gravíssima para oficiais-generais e que reforça o caráter histórico do momento.
Cannabrava | A prisão que expõe a doença da sociedade brasileira
Trata-se, enfim, de um acontecimento de enorme alcance político e moral. A democracia brasileira dá um passo decisivo ao enfrentar, pela primeira vez de maneira consistente, a cúpula militar que tentou capturá-la. É um marco que projeta efeitos profundos para as gerações futuras.
Estamos a menos de um ano das eleições gerais de outubro de 2026. A direita continuará conspirando e recorrendo ao lawfare e a outros métodos para tentar preservar seu espaço de poder. Nesse cenário, esses fatos recentes — as prisões, as condenações e a responsabilização inédita da alta cúpula militar — devem orientar o eleitorado. É fundamental escolher representantes realmente comprometidos com a democracia, com a institucionalidade e com a construção de um país desenvolvido e justo. A defesa da democracia começa no voto, iluminado pela memória do que o país enfrentou e superou.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

