A COP30 transformou Belém numa confluência de vozes, agendas e tensões. De um lado, a Cúpula dos Povos mostrou a vitalidade das lutas sociais e ambientais; de outro, a programação oficial seguiu o ritmo negociado entre governos, organizações e especialistas. Entre sexta-feira e domingo (14 a 16 de novembro), a cidade viveu intensamente essas duas dimensões.
A Cúpula dos Povos em marcha
Mais de mil organizações participam da Cúpula dos Povos e mobilizaram uma marcha que reuniu cerca de 70 mil pessoas, segundo estimativas dos organizadores e do governo federal. Para Belém, foi uma presença massiva. Entre os presentes estavam a ministra Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e diversas lideranças comunitárias.
Povos da floresta, das águas e dos campos caminharam juntos, carregando faixas que sintetizaram a crítica estrutural ao modelo econômico vigente: “Colapso ambiental é capitalista” e “Não há justiça climática sem reforma agrária popular”. A diversidade das vozes e das pautas reforçou que a COP não se limita às negociações diplomáticas: existe um outro fórum pulsante, popular e organizado.
O que ocorreu na programação oficial
A programação oficial da COP30 se dividiu entre a Green Zone e a Blue Zone.
Sexta-feira e sábado:
- A Green Zone funcionou das 10h às 18h30 com debates, painéis técnicos, exposições e atividades culturais.
- O Earth Film Festival exibiu filmes ambientais nos dias 15 e 16, entre 15h e 18h.
- À noite, houve apresentações musicais de artistas paraenses, incluindo Batidão do Melody e AR-15.
- A Blue Zone, destinada às delegações e imprensa credenciada, funcionou normalmente até sábado.
Domingo:
- A Blue Zone permaneceu fechada.
- A programação cultural da Green Zone continuou em museus e espaços parceiros, como o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Casa das Onze Janelas, que mantiveram exposições abertas ao público.
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Dois mundos que se encontram
A COP30 deixou claro que há duas narrativas convivendo: a das negociações formais, com seus ritos diplomáticos, e a da rua, onde povos tradicionais, movimentos sociais e organizações populares tensionam o processo e ampliam o sentido político da conferência. Belém virou palco dessa disputa de sentidos — e também da possibilidade de diálogo.
Tensões políticas e simbolismos
A Cúpula dos Povos não foi apenas um contraponto social: ela expôs o descompasso entre as promessas internacionais e o cotidiano de quem vive na linha de frente da destruição ambiental. As falas das lideranças indígenas reforçaram que a crise climática não é uma abstração — é vivida diariamente por comunidades que enfrentam invasão de terras, garimpo, desmatamento e violência. A presença de Sônia Guajajara e Marina Silva, caminhando ao lado dessas lideranças, reforçou a tentativa do governo de costurar uma agenda comum, ainda que cercada de pressões internas e externas.
O ambiente das negociações
Nos bastidores da Blue Zone, delegações estrangeiras discutiram, entre outros pontos, financiamento climático, mecanismos de compensação e diretrizes para transição energética. Embora não tenham sido anunciados grandes acordos nesse fim de semana, observadores notaram avanços discretos na construção de consensos, especialmente no que diz respeito à ampliação do Fundo de Florestas e à responsabilização dos países mais poluentes. A ausência de decisões imediatas contrasta com a urgência expressada nas ruas.

Belém como palco global
A escolha de Belém como sede da COP30 trouxe à tona a desigualdade estrutural da região. Apesar da mobilização, a cidade enfrenta limitações de infraestrutura, transporte e acolhimento, o que também foi tema de debate entre participantes e moradores. Ainda assim, Belém se reafirmou como porta de entrada simbólica da Amazônia e demonstrou capacidade política e social de receber um encontro dessa magnitude.
Caminhos adiante
Com a marcha já registrada na história da COP, cresce a expectativa sobre os próximos anúncios oficiais, especialmente sobre metas de descarbonização, acordos de proteção de florestas e compromissos financeiros para ações climáticas. A força popular demonstrada em Belém pressiona os negociadores a irem além dos discursos e assumirem compromissos efetivos.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

