eua-ampliam-crise-com-colombia-com-suposto-plano-para-prender-petro-e-maduro

EUA ampliam crise com Colômbia com suposto plano para prender Petro e Maduro

O embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Daniel García-Peña, foi chamado a consultas. O motivo — que recrudesceu a crise diplomática entre os dois países — foi uma publicação do site colombiano Cambio assegurando que o governo do presidente Donald Trump teria elaborado uma estratégia para prender seu homólogo colombiano, Gustavo Petro.

O semanário Cambio revelou um documento atribuído ao governo dos Estados Unidos com os “cinco passos” de uma suposta “Doutrina Trump”, um plano que incluiria a detenção do presidente colombiano e do mandatário venezuelano, Nicolás Maduro.

O portal acrescentou ao seu informe uma fotomontagem em que Petro aparece ao lado do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ambos vestindo um macacão laranja, em referência ao uniforme de presidiários dos Estados Unidos. A publicação provocou uma enérgica reação do mandatário colombiano, que acusou a administração Trump de buscar acabar com seu mandato.

“Apesar de décadas de estreita colaboração entre os Estados Unidos e seus aliados na América do Sul, o governo da Colômbia foi tomado por Gustavo Petro, eleito com o apoio dos cartéis da droga. É necessário implementar a ‘Doutrina Trump’ na Colômbia e no hemisfério ocidental”, diz o texto publicado pelo Cambio, que leva o timbre do senador republicano — de origem colombiana — Bernie Moreno.

A publicação não passou despercebida por Petro, que em um evento no último domingo (9) responsabilizou Moreno pela imagem.

“Por trás de toda essa montagem contra a Colômbia está o senador Bernie Moreno, porque ele não me perdoa por eu ter denunciado seu irmão, Luis Alberto, pelo roubo do Banco do Pacífico e pela lavagem de dinheiro ocorrida nessa entidade. Além disso, tampouco me perdoa por ter destruído o grande negócio imobiliário de sua empresa construtora e familiar quando fui prefeito de Bogotá”, denunciou Petro diante de centenas de militantes da União Patriótica.

La política de la Casa Blanca cada vez más se parece a un meme. pic.twitter.com/PCdjIIexsu

— Enver Conde Ferrer (@EnverConde) November 9, 2025

Por sua vez, a chanceler colombiana, Yolanda Villavicencio, afirmou: “Rechaçamos todo tipo de ação que não obedeça a um exercício democrático, porque nem tudo vale na política. Na política há valores, há princípios que nós, como país, praticamos e honramos. Nos sentimos agredidos na medida em que não se está respeitando o direito internacional humanitário (…) O que procede é que eles esclareçam essas publicações e a intenção do que ali se diz, para podermos dialogar com eles. Qualquer controvérsia deve ser tratada pela via do diálogo.”

“Não podemos somar aos problemas estruturais que a região já enfrenta outros que podemos controlar e resolver de maneira pacífica e dialogada”, acrescentou Villavicencio ao comentar a imagem divulgada.

Ao final de uma coletiva de imprensa, Villavicencio negou que o governo da Colômbia tivesse cogitado a expulsão do encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Bogotá, John McNamara.

Perdão à União Patriótica

O Estado colombiano, após decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pediu perdão à União Patriótica (UP), partido de esquerda, pelos cerca de sete mil de seus militantes assassinados pelo paramilitarismo em cumplicidade com políticos liberais e conservadores de direita e agentes de segurança. Na Colômbia, usa-se o termo “genocídio da UP” para denominar as vítimas da matança ocorrida durante 15 anos (1985-2000).

“Liberdade ou morte”: discurso de Petro em defesa de Maduro reafirma solidariedade latino-americana

O presidente Gustavo Petro também reconheceu a questão e, em um comovente ato, pediu perdão em nome do Estado colombiano. Apenas o governo e a cúpula militar (Executivo) compareceram ao evento; os outros dois poderes, o Legislativo e o Judiciário, hoje presididos por membros da oposição, se ausentaram.

“Esta paz, este perdão, esta homenagem que o Estado presta às vítimas, foi algo que os governos anteriores ao de Gustavo Petro haviam evitado. Mas hoje está sendo feito pelo nosso presidente, está sendo feito pelo governo da mudança. Hoje honramos a memória das vítimas do União Patriótica”, disse Boris Cabrera, militante e fundador da UP, literalmente um sobrevivente.

Por sua vez, o presidente Petro, em nome do Estado, assegurou que “está cumprindo um mandato da CIDH, que em sentença condenou o Estado colombiano por 14 motivos relacionados à corresponsabilidade no assassinato de 6.938 militantes da União Patriótica, partido da esquerda colombiana, no período de 1984 a 2000”.

A UP havia nascido como partido fruto do acordo de paz entre o governo do conservador Belisario Betancur (1982-1986) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e, após participar das eleições de 1986 e obter uma votação expressiva, teve início o assassinato sistemático de sua militância, incluindo dois candidatos presidenciais, mais de nove parlamentares e centenas de vereadores e deputados.

Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail.

“Ordeno pedir perdão às vítimas do Estado colombiano”, disse Petro diante de milhares de vítimas da UP que participaram no domingo (9) do evento realizado no marco da 4ª Cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, na cidade caribenha de Santa Marta, no norte da Colômbia.

O assassinato sistemático contra militantes da UP obedeceu a um plano de extermínio por parte de agentes do Estado (Exército e Polícia), em conivência com grupos paramilitares apoiados por políticos conservadores e liberais, além de ações vindas da governadoria de Antioquia, administrada pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez entre 1995 e 1997, com a criação de grupos armados chamados Convivir.

Hoje, a União Patriótica faz parte do Pacto Histórico, o partido de esquerda mais importante da Colômbia.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *