cannabrava-|-cop30-em-belem:-a-hora-da-verdade-climatica

Cannabrava | COP30 em Belém: a hora da verdade climática

Em discurso firme, Lula cobra coragem política, denuncia o descompasso entre a diplomacia e a realidade dos povos e lança a Cúpula como símbolo de justiça ambiental enraizada na Amazônia

A cidade de Belém, no coração da Amazônia brasileira, se tornou palco de um momento histórico: a abertura da Cúpula do Clima (COP30), que pela primeira vez acontece na floresta tropical que mais regula o clima do planeta. Diante de chefes de Estado e representantes do mundo inteiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um chamado à ação, à verdade e à justiça.

“Esta será a COP da verdade”, declarou Lula, deixando claro que não há mais tempo para discursos vazios ou boas intenções sem ação concreta. Em um dos trechos mais contundentes de seu pronunciamento, o presidente brasileiro afirmou: “É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la.”

Lula lembrou que 2024 foi o primeiro ano em que a temperatura média global superou 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais — uma marca simbólica que coloca em xeque a meta do Acordo de Paris. “Temos que abraçar um novo modelo de desenvolvimento mais justo, resiliente e de baixo carbono”, alertou.

O presidente identificou dois grandes descompassos que precisam ser enfrentados com urgência. O primeiro é entre a linguagem técnica das negociações diplomáticas e a vivência concreta dos povos. “As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição… reconhecem o valor das florestas e dos oceanos… sabem que nada se faz sem recursos… sofrem com secas, enchentes e furacões”, afirmou.

O segundo descompasso é entre a urgência climática e o cenário geopolítico internacional. Lula foi direto ao dizer que os conflitos armados e as rivalidades entre potências desviam recursos e atenção da luta contra o colapso climático. “Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente”, criticou.

O discurso foi também um tributo à Amazônia. Lula agradeceu pela COP acontecer em Belém e insistiu que a escolha foi intencional: “As pessoas estão mais habituadas a desfilar por grandes cidades […] Queríamos que as pessoas viessem aqui para ver o que é a Amazônia, o povo… a natureza… a culinária da Amazônia”.

“A COP30 será o ponto culminante de um caminho pavimentado ao longo de nossas presidências do G20 e do Brics.” (Foto: Rafa Neddermeyer / COP30)

Entre os anúncios concretos, destacou-se a consolidação do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que já reúne 53 países e arrecadou até agora 5,6 bilhões de dólares — mais da metade da meta de 10 bilhões. O fundo, apoiado por países como Brasil, Indonésia, Noruega, França e Portugal, será destinado a preservar as maiores florestas tropicais do mundo e apoiar os povos que nelas vivem.

Por fim, Lula insistiu que não há solução climática sem justiça social. Denunciou a desigualdade entre países e dentro das nações, e defendeu que a transição ecológica seja um caminho para erradicar a fome, o racismo, o patriarcado e o autoritarismo.

“A COP30 será o ponto culminante de um caminho pavimentado ao longo de nossas presidências do G20 e do BRICS […] As convergências já são conhecidas. Nosso objetivo será enfrentar as divergências”, destacou.

Belém, com sua umidade, calor e vitalidade, foi convocada a ser não apenas cenário, mas símbolo da virada. A floresta quer respirar. O planeta também.

Confira o discurso do Presidente Lula na íntegra.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *