Israel já destruiu 97% dos recursos animais de Gaza, além de dizimar oliveiras e envenenar a água e o ar; o objetivo é causar fome e sofrimento, tornando o território inabitável para o povo palestino — e para qualquer outro
O Ocidente frequentemente tentou colonizar outras nações pelo duplo recurso ao genocídio e ao ecocídio. Um exemplo famoso na história dos Estados Unidos, por exemplo, é o abate em massa dos bisões nas Grandes Planícies juntamente com o extermínio em massa dos povos indígenas. Tanto os povos indígenas americanos quanto os bisões foram mortos aos milhões. Esses dois atos andaram juntos, com o abate dos bisões — vitais para os povos indígenas da América do Norte como fonte de alimento e de vestuário, além de parte central de sua cultura — sendo corretamente visto pelo Exército dos Estados Unidos como um meio crucial para destruir os povos indígenas e removê-los das terras cobiçadas pelos colonos europeus.
Os Estados Unidos foram ainda mais cruéis nesses esforços durante o século 20, com o uso de tecnologia moderna, como napalm e agente laranja, para destruir por décadas florestas e a agricultura de nações como o Vietnã.
Israel, um projeto colonial de povoamento inicialmente do Reino Unido e agora principalmente dos Estados Unidos, tem usado esses meios desde o seu início para destruir o povo palestino e, em última instância, deslocá-lo totalmente da terra da Palestina histórica. Semelhante à destruição do bisão americano, os colonos israelenses concentraram-se na destruição das oliveiras na Palestina, algumas das quais existem há séculos. Assim como o bisão na América do Norte, a oliveira é um alimento básico para o povo palestino e também uma parte importante de sua cultura. Estima-se que, desde 1967 e o início da ocupação de Gaza e da Cisjordânia, os israelenses tenham destruído mais de 1 milhão de oliveiras na Palestina, e continuam a fazê-lo até hoje. Junto às oliveiras, os israelenses têm regularmente destruído rebanhos de ovelhas e os abastecimentos de água dos palestinos.
No entanto, o atual genocídio em Gaza — que muito provavelmente ceifou cerca de 700 mil vidas, ou quase um terço da população de Gaza — vem acompanhado de um dos ecocídios mais cruéis e minuciosos já vistos. Por exemplo, segundo a organização de direitos humanos Euro-Med, com sede em Genebra, os israelenses destruíram impressionantes 97% dos “recursos animais” de Gaza desde 7 de outubro de 2023. Como explica a Euro-Med: “Israel destruiu quase todo o recurso animal na Faixa de Gaza – aproximadamente 97% – por meio de bombardeios e fome sistemática, incluindo animais de trabalho que serviam como o último meio de transporte em meio à escassez de combustível e à mobilidade pública limitada. […] A destruição dos recursos animais coincide com a terraplanagem de milhares de acres de terras agrícolas como parte de uma política deliberada de provocar fome entre a população, destruir fontes de alimento e infligir sofrimento físico e psicológico severo, todos componentes fundamentais do crime contínuo de genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza.”
Como a Euro-Med conclui corretamente, essa destruição da flora e da fauna faz parte do genocídio do povo palestino de Gaza. De fato, um dos atos de genocídio enumerados e proibidos pela Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 1948 é “impor deliberadamente ao grupo alvo condições de vida calculadas para promover a sua destruição física, no todo ou em parte”. A destruição israelense dos recursos animais e dos alimentos de Gaza é exatamente isso – uma tentativa calculada de criar condições inabitáveis para o povo palestino e, assim, provocar sua destruição.
Entretanto, isso é apenas a ponta do iceberg genocida. Israel tem destruído sistematicamente a infraestrutura e o próprio ambiente necessários para sustentar o povo de Gaza. Segundo um estudo conjunto do Banco Mundial e das Nações Unidas, “o custo dos danos à infraestrutura crítica em Gaza é estimado em cerca de US$ 18,5 bilhões. Isso equivale a 97% do PIB combinado da Cisjordânia e de Gaza em 2022”. Esse mesmo estudo, de abril de 2024 (ou seja, bem no início do conflito), constatou “que os danos às estruturas afetam todos os setores da economia. Habitação responde por 72% dos custos. Infraestrutura de serviços públicos, como água, saúde e educação, responde por 19%, e os danos a edifícios comerciais e industriais respondem por 9%… Estima-se que 26 milhões de toneladas de escombros e detritos ficaram após a destruição, uma quantidade cuja remoção deve levar anos.”

Um estudo mais recente da ONU, de abril/maio de 2025, constatou que a quantidade de detritos então já superava 53 milhões de toneladas. E grande parte desses detritos é bastante perigosa e tóxica, pois está misturada com amianto, munições e restos humanos e animais.
A destruição intencional e sistemática dos abastecimentos de água e do saneamento de Gaza é particularmente devastadora. Segundo um relatório de dezembro de 2024 da Human Rights Watch, evidências em vídeo e fotográficas mostravam então “danos e destruição extensivos à infraestrutura de água e saneamento, incluindo a aparentemente deliberada e sistemática derrubada, pelas forças terrestres israelenses, dos painéis solares que alimentavam quatro das seis estações de tratamento de águas residuais de Gaza, bem como soldados israelenses filmando-se demolindo um reservatório de água crucial”. Esse mesmo relatório explicou que, apenas alguns dias após o início do conflito em 7 de outubro de 2023, o corte intencional de abastecimento de água e de eletricidade por parte de Israel fez com que “a maioria dos moradores da Faixa de Gaza deixasse de ter acesso à água potável por prestadores de serviço ou água doméstica por meio de redes de distribuição”.
Além da destruição da água, da agricultura e dos animais, Israel também envenenou o ar de Gaza por meio de sua guerra brutal contra o enclave. Segundo uma edição de outubro de 2025 do periódico ScienceDirect, a guerra contra Gaza resultou
em grave degradação ambiental, principalmente pela liberação de poluentes atmosféricos perigosos e pela destruição generalizada de infraestrutura. As operações militares contribuíram para emissões elevadas de diferentes gases, incluindo NO2, SO2, CO, CH4 e aerossóis, entre outros, originados de ataques com mísseis, queima de combustíveis e incêndios. Esses poluentes não apenas degradam a qualidade do ar, mas também iniciam reações químicas complexas que levam à formação de poluentes secundários, como material particulado. Além disso, a destruição de edifícios e instalações industriais causa a liberação de substâncias tóxicas, representando riscos de longo prazo tanto para a saúde ecológica como pública. O custo ambiental é ainda agravado pelo colapso da gestão de resíduos e da infraestrutura de saneamento, o que acelera a liberação de metano e outros gases nocivos. Em conjunto, essas consequências evidenciam o impacto profundo e multifacetado da guerra sobre a estabilidade atmosférica e ecológica da região.
Em suma, além de assassinar diretamente a população, Israel intencionalmente tornou Gaza inabitável para o povo palestino e, na verdade, para qualquer outro. Esta guerra de genocídio e ecocídio é a manifestação de uma crença niilista e fanática de que os povos da Europa têm o direito de dominar o mundo e todas as pessoas nele. Essa doutrina já recebeu diferentes nomes (por exemplo, Destino Manifesto e sionismo), mas o resultado é o mesmo: morte e destruição que ameaçam a própria sobrevivência da vida na Terra. Essas crenças e suas políticas brutais não têm lugar no século 21.

