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Paradoxo das cinzas: das vítimas de ontem aos algozes de hoje

Contemplo Gaza como se fosse outra Berlim que se ergue de suas cinzas.

Na Alemanha, depois que a Segunda Guerra Mundial depôs suas armas, as mulheres saíram de entre os escombros carregando pedras com as mãos ensanguentadas para iniciarem a jornada de reconstrução do zero.

As cidades alemãs estavam destruídas, os homens, nos cemitérios ou cativos, e o país crivado de perdas; ainda assim, a vida recuperou seu pulso pelas mãos das mulheres que assumiram, por sua nação, o encargo de se reerguer.

E hoje, oito décadas depois, a história se repete em Gaza. As mulheres palestinas, ao lado dos homens que sobreviveram à guerra de extermínio israelense contra o povo palestino, levantam-se debaixo dos escombros, recolhem o que restou de suas casas, de seus filhos e de seus sonhos, e recomeçam.

Embora a guerra ainda não tenha terminado e o céu continue a chover fogo. 80% da Faixa está destruída, mas nos olhos das mulheres há uma luz que não se apaga e uma determinação que beira o milagre. Já na Cisjordânia, inclusive em Jerusalém, o terror dos colonos sionistas segue compondo o pavor que paira sobre as aldeias, cidades e campos de refugiados palestinos, que aguardam ataques dos colonos a qualquer momento.

Entretanto, a dura ironia histórica reside na natureza das duas guerras. A guerra contra a Alemanha foi uma guerra contra o nazismo que invadiu a Europa e a União Soviética; já a guerra contra a Palestina é travada pelo Israel sionista, que alega representar as vítimas do nazismo, mas pratica contra os palestinos o que se assemelha a seus crimes.

Das vítimas de ontem aos algozes de hoje, os papéis se invertem e a dor permanece a mesma. E quem sustenta a guerra de extermínio israelense são os mesmos países que travaram a guerra contra a Alemanha.

Gaza hoje põe à prova a consciência do mundo como a Europa a pôs há oito décadas.

E, diante de toda esta devastação, a mulher palestina, à semelhança de sua contraparte alemã de outrora, permanece símbolo da sobrevivência humana em tempos de aniquilação, e a semente de esperança que nem o cerco nem o fogo conseguem queimar.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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