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EUA em ofensiva contra a Venezuela e o Brasil: chantagem, tarifaço e ações da CIA

Com Trump à frente, Washington volta a usar a CIA para desestabilizar governos latino-americanos e impõe tarifas punitivas ao Brasil; Lula tenta reverter o ataque comercial e conter os danos diplomáticos

A revelação de que Donald Trump, já em clima de campanha, ordenou à CIA ações para desestabilizar a Venezuela escancara o papel dos Estados Unidos como principal protagonista das guerras híbridas e da instabilidade na América Latina. Mais uma vez, a democracia venezuelana é colocada em xeque por interesses externos que não aceitam o resultado das urnas e temem o avanço de modelos soberanos de desenvolvimento.

A Venezuela, que realiza mais eleições que qualquer outro país do continente, é também uma das poucas nações com um povo mobilizado para defender o projeto nacional: são cerca de 4,5 milhões de cidadãos organizados, inclusive militarmente, para proteger o país de agressões externas. Além disso, é um dos poucos Estados que de fato combate o tráfico de drogas, enquanto os EUA criminalizam governos e mantêm intocadas as redes do narcotráfico que sustentam o sistema financeiro internacional.

A Executiva Nacional do PT reagiu com firmeza à notícia da nova investida da CIA. Em nota pública, o partido denunciou o histórico de intervenções da agência e repudiou mais essa violação da soberania venezuelana. A nota lembra que, ao longo das últimas décadas, as ações antidemocráticas estadunidenses “deixaram marcas de ingerências, ilegalidades, golpes, repressão e ditaduras sangrentas” na América do Sul.

O contexto atual é ainda mais grave. Em paralelo às ações clandestinas, forças armadas a serviço de interesses estrangeiros afundaram embarcações venezuelanas em águas internacionais. Ao menos 27 pessoas foram mortas nesses ataques — verdadeiros atos de guerra encobertos sob o manto do silêncio midiático.

Enquanto sabota a Venezuela, o governo Trump penaliza o Brasil com um tarifaço que eleva para até 50% as tarifas alfandegárias sobre produtos como aço, alumínio, suco de laranja, café e carne — todos setores estratégicos para a economia brasileira. É uma retaliação disfarçada de medida comercial, num momento em que o Brasil busca ampliar sua presença no mercado global.

Em Washington, o chanceler Mauro Vieira reuniu-se com o assessor de segurança nacional e secretário de Estado, Marco Rubio, tentando reverter as tarifas. Há, por parte do governo brasileiro, uma tentativa de reposicionar-se diplomaticamente e evitar o agravamento das tensões com os EUA.

Mania de grandeza – Arte inspirada no Júlio César do mestre Uderzo. (Por: Desenhos do Nando)

Ao mesmo tempo, Donald Trump e Lula demonstraram aproximação política. Em tom amistoso, no fim de setembro, Trump declarou que há “química” com o presidente brasileiro. Ambos podem ter um encontro reservado, conforme sugerido por Lula, durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), marcada para os dias 26 a 28 deste mês. Além de países do Sudeste Asiático, o evento reúne representantes da Europa e das Américas.

A pergunta que fica é: até onde vai a cordialidade diplomática diante de ações hostis tão evidentes? O Brasil está sendo tratado como aliado ou como inimigo estratégico? A ofensiva de Trump contra o Sul Global revela que, mesmo nos tempos de guerra econômica e diplomática, a velha política de chantagem e submissão continua sendo o norte da Casa Branca.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

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