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Chile se move à esquerda? Comunista Jeannette Jara desafia direita e lidera pesquisas

A cinco semanas das eleições gerais de 16 de novembro no Chile, a incógnita a ser resolvida é qual das quatro candidaturas presidenciais direitistas conseguirá se impor para disputar, um mês depois, o segundo turno com a representante da centro-esquerda governista, a militante comunista Jeannette Jara.

Ex-ministra do Trabalho do presidente Gabriel Boric e reconhecida por ter conseguido uma histórica reforma previdenciária, Jara aparece de forma consistente com cerca de 30% das preferências, o que praticamente lhe garante presença no segundo turno, marcado para 14 de dezembro. No Chile, é necessário 50% mais um dos votos para conquistar a presidência.

Pinochetismo segue vivo

Na oposição, o republicano pinochetista e ultradireitista José Antonio Kast segue em vantagem. Há poucas semanas estava empatado com Jara, mas vem caindo e agora marca 24%, uma queda de seis pontos. É a terceira vez que Kast se candidata. Há quatro anos, com 28%, venceu o primeiro turno contra Boric, que o derrotou no segundo, por 55,8% a 44%.

Em seguida aparece a ex-parlamentar, ex-ministra e ex-prefeita Evelyn Matthei, representante da “direita histórica” que deu sustentação política à ditadura de Augusto Pinochet, hoje constrangida com esse passado e tentando se apresentar como uma figura de centro. Matthei, que há dois anos já havia sinalizado suas pretensões e parecia favorita por falta de concorrentes à altura, sofreu forte desgaste entre maio e agosto devido a erros não forçados — como quando justificou os crimes da ditadura, afirmando que “nos primeiros anos eram inevitáveis”. Acabou relegada até o quarto lugar. Após se retratar e ajustar sua estratégia e equipe de campanha, conseguiu interromper a queda, mas não voltou a crescer e agora oscila entre 14% e 17%.

Com cerca de 10%, aparece Johannes Kayser, do Partido Social Libertário, um pinochetista declarado que afirmou em julho que “sem dúvida apoiaria um novo golpe se se repetissem as circunstâncias de 1973, com todas as consequências”.

O quarto candidato da direita é o populista Franco Parisi, do Partido da Gente, que, com um discurso contra as elites políticas, tem conquistado entre 8% e 10% das intenções de voto. Há quatro anos, com 12,8%, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, fazendo campanha do exterior.

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Segundo o analista Cristián Valdivieso, da consultoria Criteria, se alguma vez houve uma possibilidade remota de um segundo turno apenas entre candidatos da direita, agora ela é inviável. “A primeira volta é a verdadeira prévia da direita”, afirmou, acrescentando que Matthei precisa enfrentar Kast se quiser ser competitiva.

Fogo amigo contra Jeannette

A candidatura de Jeannette Jara também não tem sido fácil, principalmente por causa do “fogo amigo” vindo de seu próprio partido, com declarações do presidente Lautaro Carmona e do ex-prefeito Daniel Jadue, processado judicialmente e cuja candidatura a deputado foi barrada pelo Tribunal Eleitoral.

Recentemente, em entrevista, Jara lamentou a “falta de fraternidade e de carinho” de alguns companheiros, e sobre Jadue comentou: “Não somos pessoas próximas, somos companheiros de partido. Entendo que ele esteja passando por um momento difícil e espero que consiga resolver isso.”

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Carmona respondeu afirmando que “o PC e seus simpatizantes estão comprometidos até a medula com a vitória da ex-ministra”. Já o senador comunista Daniel Núñez declarou: “Dou por encerrado esse assunto. O que foi dito pela candidata está claro, e agora todas as nossas energias — de militantes e dirigentes — estão concentradas no desenvolvimento da campanha.”

Segundo analistas, a disputa interna no Partido Comunista reflete divergências entre a “velha guarda dogmática”, representada por Carmona, e uma nova geração de dirigentes, liderada por Jara e por figuras como a ministra Camila Vallejo, com visões mais renovadas sobre temas como os governos de Cuba e Venezuela. Essa tensão se transformou em uma luta pelo futuro controle do partido.

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