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De Nova York a Chicago: população se organiza para resistir à ofensiva anti-imigrante de Trump

A ofensiva anti-imigrante nos Estados Unidos encontra forte resistência em várias cidades. Na Califórnia, o governo estadual aprova medidas contra agentes federais, enquanto em Chicago e Nova York ativistas enfrentam o ICE em atos de desobediência civil e solidariedade com imigrantes detidos.

O governo da Califórnia se torna o primeiro estado a promulgar medidas oficiais que impõem restrições aos agentes federais de migração. Enquanto isso, em Chicago, ativistas enfrentam agentes federais mascarados; em Nova York, mais de 70 legisladores locais e ativistas são presos por ocupar escritórios e entradas da “la migra”.  

Comunidades em todo o país expressam condenação às redadas e realizam vigílias e outras ações de solidariedade diante dos centros de detenção. 

Cresce a resistência contra ofensiva anti-imigrante  

A Casa Branca usa os protestos e atos de desobediência civil contra agentes e escritórios da Agência de Controle Migratório (Immigration and Customs Enforcement – ICE), encarregada da ofensiva anti-imigrante, como justificativa para militarizar o assalto contra cidades sob controle democrata: primeiro Los Angeles, depois Washington e, no fim de semana, Portland, no estado de Oregon. 

 Em suas redes sociais, no último sábado (27), informou que autoriza “todas as tropas necessárias para proteger um Portland devastado pela guerra e qualquer de nossas instalações do ICE sob cerco de ataques da Antifa e outros terroristas domésticos”. 

Agentes federais seguem espalhando terror em comunidades pelo país, aparecendo mascarados, sem identificação de nome ou número, sem apresentar mandados judiciais exigidos para invadir casas, locais de trabalho e automóveis, além de capturar pessoas nas ruas.  

Defensores de direitos civis denunciam sequestros e até “desaparecimentos”, já que em centenas de casos não se informa o paradeiro dos detidos. 

Ativistas e legisladores enfrentam o ICE  

Mas os protestos persistem e se multiplicam em todo o país, sendo a maior parte da violência originada nos agentes federais contra ativistas que, em sua maioria, utilizam táticas não violentas para manifestar oposição. 

Em Nova York, em uma ação coordenada e não violenta, centenas de ativistas bloqueiam a entrada e a saída do estacionamento de um edifício de escritórios federais – incluindo os do ICE – em Manhattan, para impedir o traslado de imigrantes detidos ali.  

Outro grupo realiza uma sentada de protesto no décimo andar, onde imigrantes que comparecem a audiências de seus casos frequentemente são detidos. Entre os manifestantes – 70 dos quais foram presos – havia vereadores, legisladores estaduais e líderes religiosos cristãos, judeus e muçulmanos.  

Dias depois, mais de mil pessoas marcharam em torno do edifício federal, de Foley Square até a Broadway, entoando: “Os imigrantes são bem-vindos a Nova York”, “Fora ICE de Nova York” e “Da Palestina ao México, estamos na luta”. 

Em Broadview, subúrbio de Chicago, agentes federais usaram spray de pimenta e ameaçaram  atropelar com veículos centenas de manifestantes diante de um escritório do ICE, que conseguiram bloquear a entrada e saída da instalação. 

Ao perceber a presença de agentes migratórios em um bairro de seu distrito, a senadora estadual de Chicago, Karina Villa, os confrontou, alertando vizinhos e informando que eles não podem entrar em uma residência sem autorização judicial por escrito. 

Comunidades organizam redes diante da ofensiva anti-imigrante 

Em Iowa City, moradores se enfureceram quando agentes do ICE prenderam um trabalhador em um mercado de alimentos muito popular. Cidadãos repudiaram a violência, denunciada pela organização Escucha Mi Voz, ONG que apoia imigrantes em Iowa e à qual a vítima era filiada. 

Em um subúrbio de Boston, mais de 100 manifestantes chegaram com tambores e alto-falantes à porta de um hotel onde descobriram que agentes do ICE estavam hospedados, para anunciar que “o ICE não é bem-vindo” e impedir que dormissem. 

Redes de defesa e proteção foram organizadas em várias cidades e povoados, não apenas para protestar e alertar sobre a presença de agentes e suas ações, mas também para ajudar famílias que temem sair de casa, fornecendo alimentos e cuidando de crianças, além de educar sobre direitos legais diante das autoridades.  

Muitas vezes, limitam-se a monitorar detenções, registrar os nomes das vítimas para avisar famílias ou, em casos em que são presos junto de filhos, garantir que alguém cuide deles. 

Denúncias revelam abusos e desaparecimentos em centros de detenção 

Diante dos centros de detenção, continuam ações de denúncia e solidariedade com os detidos. Nos portões do agora famoso “Alcatraz dos Caimãs”, na Flórida, líderes religiosos e comunitários realizam vigílias semanais. Na última, foram acompanhados por representantes da Anistia Internacional, que denunciaram as condições do centro.  

O Miami Herald revelou recentemente que não se sabe o paradeiro de centenas de pessoas detidas ali em julho. “A crueldade e o caos em Alcatraz dos Caimãs são planejados”, declarou Noelle Damico, do Workers Circle, uma das organizadoras, acrescentando que a instalação “opera essencialmente como um centro clandestino estadunidense; estão fazendo pessoas desaparecerem”, ao exigir o fechamento desse e de outros centros semelhantes. 

Em San Diego, uma nova iniciativa religiosa foi lançada para acompanhar migrantes em suas audiências com autoridades migratórias, liderada pelo bispo católico Michael Pham e outros 10 clérigos católicos, protestantes e um imã. No primeiro dia, ao verem os religiosos, os agentes mascarados do ICE desapareceram dos corredores. Foi o único dia em que nenhum imigrante foi detido. 

Em Rochester, Nova York, trabalhadores da construção civil foram protegidos de uma tentativa de prisão quando vizinhos obrigaram os agentes a se retirar. Em Washington, tropas da Guarda Nacional nas ruas foram seguidas por ativistas com buzinas tocando a marcha dos soldados do Império do filme Star Wars. 

Solidariedade religiosa fortalece luta contra ofensiva anti-imigrante 

Recentemente, 134 organizações de todo o país enviaram uma carta ao Congresso denunciando o que chamam de “agenda de detenção e deportação em massa de Trump”. O documento afirma que o governo promove “um plano injustificável e desumano para ampliar a capacidade de detenção para 100 mil pessoas em todo momento”, segundo a Detention Watch Network. 

Ao mesmo tempo, deputados federais, prefeitos e alguns governadores promovem medidas para proteger suas comunidades do que chamam de “assalto” do ICE e das tropas militares. 

Na Califórnia, o governador democrata Gavin Newsom sancionou a lei mais abrangente do país para proteger escolas e hospitais das redadas do ICE, tornando o estado o primeiro a agir contra as operações anti-imigrantes da Casa Branca. 

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