Reunindo duas décadas de produção literária, “Cantos dos Infernos” transita entre diferentes estilos para abordar questões que vão da política à arte, do amor à guerra
O escritor, professor e editor Yuri Martins-Fontes prepara o lançamento do livro de poesias Cantos dos Infernos. Parte da coleção Literatura a Contrapelo, coeditada pelas editoras Anita Garibaldi e Práxis Literária, o título reúne duas décadas de produção poética, transitando entre diferentes estilos e temas.
Dividido em duas seções — Hades e Agonias —, o livro apresenta uma escrita que atravessa épocas, tensões e mudanças, compondo o que o autor chama de “estações da gente”. Adepto da poesia falada e interpretada, Yuri percorre questões que vão da política à arte, do amor à guerra, passando também pelo erotismo, sátira e reflexões existenciais.
Professor, tradutor e membro da coordenação do Núcleo Práxis-USP e da Editorial Práxis Literária, Yuri já publicou livros como Marx na América (2018) e História e lutas sociais (2019). Agora, com Cantos dos Infernos, consolida sua trajetória também no campo poético, explorando desde haicais e trovas até sonetos e versos livres.
Pré-venda
Até 22 de setembro de 2025, o livro está em pré-venda com preços promocionais: de R$ 56,00 por R$ 39,00 (pacote de 5 exemplares) ou R$ 45,00 (unidade). A entrega está prevista para o início de outubro, com meta de R$ 3.000,00 para a impressão.
Além disso, a campanha traz uma promoção especial: atingida a meta, a cada três exemplares adquiridos, o leitor recebe gratuitamente outro título recém-lançado — Prosa e Poesia na Praça, coletânea que reúne nomes como Ailton Krenak, Walnice Nogueira Galvão, Heloisa Pires Lima e Luís Fulano de Tal.


Os exemplares podem ser adquiridos nos sites praxisliteraria.com.br e livrariaanita.com.br.
Entre sátira, lirismo e resistência
Cantos dos Infernos se caracteriza pela diversidade de formas e vozes poéticas. Yuri comenta que experimentou diferentes registros, dialogando com autores como Manuel Bandeira, Drummond, Leminski e Brecht. Um dos destaques é a trilogia Fascismo com fascismo se paga, que reúne sátira e ode para discorrer sobre o genocídio em Gaza:
Fascismo com fascismo se paga
Grita o sionista nuclear amargurado
Fuzil à testa do menino morto
Que o mira sereno estilingue ao bolso
Já no intenso e alegórico Ode à utopia em flor, lê-se:
Não há artista que não saiba
Da história que há detrás
Da política que o vive
Da realidade em que jaz
Nem é douto quem não sente
As entrelinhas de embate
O aroma, a artimanha
Cujo encanto se diz arte
Na seção final, o autor apresenta ainda traduções livres de clássicos de poetas críticos, como Lacuna a preencher na rota de viagem do polem, de Mario Benedetti:
Minha tática é
permanecer na tua memória
não sei como nem sei
por qual motivo
mas estar contigo
Parte dos poemas está disponível em declamações no canal do autor no YouTube, incluindo Bom no que faz, que pode ser assistido a seguir:
Participações e apoios

O livro conta com prefácio do ex-guerrilheiro, historiador e poeta Wilson do Nascimento Barbosa, professor da professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), que enxerga em Cantos dos Infernos uma poesia que se move entre o real e o sonho. Para Barbosa, Yuri “segue as pistas que lhe dão o real, para situar, com versos curtos em que é perito, o estado sonâmbulo da alma”. Ler os versos, diz, é “desnavegar em sua barca de antissonhos”, navegando pela alternância entre angústia e leveza.
Já no posfácio, José Mauro da Costa, poeta e coordenador do projeto Livro de Graça na Praça, descreve a obra como um lirismo contrastante: “brutal e, ao mesmo tempo, enternecedor”. Para ele, os poemas de Yuri surgem como flores espinhosas — do mandacaru à rosa — que incomodam, mas também exalam perfume e sensibilidade. Costa identifica nos textos um “grito de protesto, de inconformismo ao status quo”, mas ressalta que, por trás da dureza, há ternura e solidariedade.
A edição conta ainda com a orelha assinada pela escritora Marina Ruivo e reúne apoios de diferentes grupos culturais e coletivos, como o Coletivo Banzo e o Espaço Cultural Latino Americano (ECLA).

