Organizações populares da Venezuela fazem denúncia contundente: em sua recente turnê pela América Latina, Marco Rubio está vendendo a ideia de realizar uma guerra contra a Venezuela. A denúncia foi realizada nesta quinta-feira (4) durante coletiva de imprensa concedida a veículos internacionais pelo Capítulo Venezuela da Alba Movimentos.
O Secretário de Estado republicano — espécie de embaixador dos Estados Unidos — é um histórico aliado da extrema-direita de Miami e tem percorrido, nos últimos dias, países como México e Equador para tentar legitimar a escalada militar e midiática dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro.
O que estamos percebendo é que Marco Rubio, operador do sionismo e de Miami na região, está tentando vender um cenário de guerra. Quando percorre diferentes países do continente, não busca diálogo, busca instalar a guerra em nossa terra.Alba Movimentos
Eles destacam que a ofensiva não é apenas diplomática. Ela integra uma estratégia híbrida que combina falsos positivos, deepfakes e deslocamento de tropas para águas caribenhas. O objetivo: fabricar um pretexto para justificar uma agressão direta contra a Revolução Bolivariana.
O pretexto: um cartel fantasma
O pivô da narrativa estadunidense é a suposta existência do Cartel de los Soles, um cartel de drogas vinculado ao chamado Tren de Aragua e sob a liderança direta do presidente Nicolás Maduro.
“Que não existam dúvidas de que Nicolás Maduro é um narcotraficante acusado pelos Estados Unidos, é um fugitivo dos Estados Unidos”, disse Rubio durante entrevista coletiva em Quito.
A acusação, apontam os venezuelanos, não tem base factual: trata-se de um inimigo inventado que permitiria classificar a Venezuela como “organização terrorista” e abrir caminho para uma operação militar.
“Estão criando cenários artificiais, com vídeos adulterados e informações falsas, para convencer o mundo de que existe uma ameaça que justifique o ataque”, alertaram representantes bolivarianos.
Eles se referem à circulação de imagens imprecisas nas redes de Donald Trump que mostraram um pequeno barco pesqueiro sendo destruído. Na alegação oficial da Casa Branca, se tratava de uma embarcação do Tren de Arágua, com 11 pessoas a bordo e que levaria drogas para os Estados Unidos.
🇻🇪’Um vídeo de IA’: Venezuela questiona veracidade de ataque dos EUA a ‘barco de drogas’
O ministro venezuelano da comunicação, Freddy Ñáñez, acusou secretário de Estado Marco Rubio de fornecer “provas falsas” sobre o ataque.
Detalhes: https://t.co/1SSXHlNbqv pic.twitter.com/VzHdrlsOOx
— RT Brasil (@rtnoticias_br) September 3, 2025
Já no México, na última quarta-feira (3), Rubio afirmou:
Foi usada exatamente a mesma informação e os mesmos mecanismos de inteligência para identificar que um barco com drogas estava a caminho dos Estados Unidos… e, em vez de interceptá-lo, por ordem do presidente, ele foi explodido. E isso vai voltar a acontecer.
O ministro de Comunicação da Venezuela, Freddy Ñáñez, denunciou em suas redes que o vídeo parece ter sido criado por inteligência artificial:
Parece uma animação simplificada, quase de desenho animado, em vez de uma representação realista de uma explosão (…) contém artefatos de movimento e uma falta de detalhes realistas, algo comum em vídeos gerados por IA. A água, em particular, parece muito estilizada e pouco natural.
Tropas no mar e guerra psicológica
Independentemente da veracidade ou não do vídeo e do episódio, a militarização avança. Estima-se que os EUA já tenham deslocado oito embarcações equipadas com 1.200 mísseis guiados e cerca de 8 mil soldados para perto da Venezuela.
Aviões de vigilância também foram mobilizados, configurando um cenário de intimidação direta. “Estamos falando de um império que vive da guerra, cuja lógica de reprodução é a morte para sustentar seu domínio”, afirmaram os coletivos.
Thanks @PressSec for laying out EXACTLY why we’re offering $50 million for information on Maduro and his heinous crimes against Americans. https://t.co/E8jIEwcK2u pic.twitter.com/Mq494m9CO3
— US Dept of State INL (@StateINL) August 19, 2025
Nesse sentido, as organizações venezuelanas denunciam que a agressão estadunidense não se restringe ao campo bélico. “Estão tentando gerar, a qualquer momento, algum cenário falso para declarar guerra contra a Venezuela. Por isso, precisamos estar atentos, sem cair na guerra psicológica, mas com máxima consciência e máxima mobilização, como nos convocou o presidente”, afirmaram.
Frente à ameaça, o governo Maduro anunciou a ampliação das forças populares de defesa. De acordo com as organizações, mais de 8,5 milhões de venezuelanos já estão registrados em milícias voluntárias, organizadas em comunas e circuitos comunitários sob a doutrina de “guerra de todo o povo”.
“Querem instalar na Venezuela o mesmo roteiro de destruição que aplicaram em outros países”, alertaram. Também ressaltaram que até mesmo cidadãos críticos ao governo aderiram ao alistamento, defendendo a soberania frente ao “imperialismo ianque”.
O recado final das 12 organizações que participaram da entrevista coletiva é um chamamento à solidariedade internacional: “Nosso chamado é aos povos do mundo, ao Sul Global, a todas as organizações solidárias com as lutas dos povos, para se somarem à defesa da Venezuela bolivariana, que sempre esteve na vanguarda do apoio às lutas de emancipação”.
Nos próximos dias, é esperada a criação de uma rede internacional de comunicação popular para que as mensagens verdadeiras sobre a situação venezuelana possam ecoar pelo continente em contraposição às narrativas criadas pelos Estados Unidos com objetivo de desestabilização.
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Participaram da coletiva de imprensa mais de 90 representantes de veículos internacionais de comunicação e os seguintes movimentos populares venezuelanos: Movimiento de Pobladoras y Pobladores, Unión Comunera, Cumbe Afrovenezolano, Frente Francisco de Miranda, Movimiento Otro Beta, Colectivo La Otra Escuela, Colectivo Feminista Miscelias, Movimiento Nacional de Amistad Venezuela-Cuba, Frente Patriótico Alexis Vive/Comuna El Panal 2021, Colectivo Calistenia Cultural, Consejo Bolivariano Indígena de Venezuela e Plataforma de Solidaridad con Palestina.

