À medida que os números horríveis (reais) de soldados ucranianos mortos e feridos começam a vazar para os círculos exotéricos da mídia ocidental, fica ainda mais claro o quão distorcida, muitas vezes a ponto de ser criminosa, foi a cobertura da chamada imprensa “mainstream” ocidental sobre a guerra na Ucrânia ao longo dos últimos três anos e meio.
Segundo especialistas militares e políticos como o coronel americano Douglas MacGregor, o tenente-coronel Daniel Davis, o coronel Lawrence Wilkerson (ex-chefe de gabinete do Secretário de Estado dos EUA), o ex-assessor presidencial Jeffrey Sachs e muitos outros, o número real e amplamente aceito de mortos ucranianos está entre 1,3 milhão e 2 milhões.
Recentemente, informações reveladas por meio de quatro ataques hackers a bancos de dados ucranianos (imediatamente rotulados como “propaganda russa” pela maioria dos veículos de mídia ocidental) expuseram os seguintes números de mortos ucranianos, ano a ano:
- 2022: 118,5 mil
- 2023: 405,4 mil
- 2024: 595 mil
- 2025: 621 mil
Total: 1,7 milhão de militares ucranianos mortos. Ver: The Economic Times, Kathleen Tyson, Gateway Pundit e Jamarl Thomas.
De acordo com o ex-analista da CIA, Larry C. Johnson: “A Ucrânia está cometendo suicídio total”. Há mais de dois anos, em junho de 2023, escrevi um artigo publicado na Pressenza no qual dizia basicamente que, se a Ucrânia continuasse nesse curso, seria equivalente a cometer suicídio como nação. No mesmo texto, previ que o exército ucraniano entraria em colapso em 2024 e que “depois disso, o aspecto político/óptico da batalha poderia se arrastar até o início ou meados de 2025, mas não mais do que isso”. Os analistas militares e geopolíticos que mencionei no primeiro parágrafo concordaram com essa avaliação na época.
O início da guerra: a verdadeira razão
Em vários artigos anteriores, já detalhei a série de eventos que levaram à fase atual da guerra. Em vez de repeti-los aqui, recomendo fortemente que assistam a esta explicação relativamente curta de Jeffrey Sachs. É absolutamente essencial que TODOS escutem esse ponto de vista, que eu e milhões de pessoas ao redor do mundo compartilhamos:
Por que o conflito deve continuar
Embora eu discorde fortemente da maioria das políticas domésticas e econômicas do governo Trump, concordo plenamente com a tentativa atual do presidente dos EUA de pôr fim à guerra por procuração na Ucrânia. A Rússia está, neste momento, a poucos meses de romper as linhas defensivas centrais que restam ao exército ucraniano. Em resumo: a Ucrânia está sendo aniquilada pela Rússia.
Mesmo assim, políticos como Lindsey Graham, Macron, Starmer, Mertz e Ursula von der Leyen querem escalar o conflito e prolongá-lo o máximo possível, sem nenhuma consideração pela população ucraniana que ainda pode ser recrutada. Pouco importa que 70% dos ucranianos (e crescendo rapidamente) desejem o fim imediato da guerra através de uma solução diplomática.
A razão pela qual políticos estadunidenses querem a guerra em andamento é simples: seus financiadores — os oligarcas que sustentam suas carreiras políticas — estão lucrando fortunas com ela, e pressionam seus “fantoches” para pedirem mais e mais guerra. Ver: Responsible Statecraft, Al Mayadeen e Business Journalism.
No caso dos líderes europeus vassalos como Starmer, Macron e Mertz, a situação é ainda mais patética, pois praticamente apostaram o futuro econômico de seus países no “Projeto Ucrânia”. De fato, Ursula von der Leyen anunciou recentemente um plano de gastar 1,8 trilhão de euros em um fortalecimento militar europeu ao longo da próxima década, voltado principalmente para combater a Rússia.
Terrorismo, estupros, torturas: o que não te contaram sobre a ofensiva “ucraniana” em Kursk
O que esses líderes míopes e russófobos não entendem (ou fingem não entender) é que a Rússia não quer mais guerra e não vai invadir outras partes da Europa. Lembrem-se do que digo: quando o acordo entre Rússia e Ucrânia for firmado, serão o Reino Unido, a França e a Alemanha — não a Rússia — que farão de tudo para empurrar mais guerra.
Nota: Síndrome de Obsessão Partidária
Existem pessoas que realmente acreditam que concordar com Donald Trump em apenas um tema torna a pessoa uma “traidora da esquerda”. São geralmente os mesmos que ficaram calados ou até discutiram contra quem denunciou o genocídio israelense durante os 17 meses em que Joe Biden o financiou e armou.
Essa síndrome de obsessão partidária, seja vermelha ou azul, é na verdade a forma mais patética de submissão ao poder corporativo/oligárquico que existe atualmente. Se não conseguimos pensar por nós mesmos em relação a guerras (que sempre recebem 100% de apoio dos dois partidos controlados por doadores), não temos nenhuma chance de superar a velha tática de “dividir para conquistar” usada contra nós há décadas.
Trump reabrir canais de comunicação com a Rússia (após três anos de silêncio total da administração Biden) foi absolutamente a decisão correta. Na prática, ao restabelecer o diálogo com a Rússia — o maior poder nuclear do planeta — Trump possivelmente evitou uma guerra nuclear que parecia cada vez mais próxima até o dia em que ele assumiu a presidência. Não reconhecer essa melhora significativa nas relações EUA-Rússia, independentemente do partido a que alguém pertença ou do quanto deteste Trump pessoalmente, é pura cegueira autoimposta.
A queda da casa neocon
O que temos testemunhado nos últimos anos resume-se ao declínio do império neoconservador unipolar dos EUA e à exposição da postura submissa de seus estados vassalos europeus.
Com a ascensão do Brics e a recusa crescente de países não ocidentais em continuar se curvando às ameaças, sanções e violências perpetuadas pelos EUA, Reino Unido e Otan, a maior parte do mundo falou alto e claro — especialmente desde 2022.
Guerra na Ucrânia: trégua mediada por Trump exclui pontos cruciais para paz
O colapso iminente da “casa ultraviolenta do século 21” construída por figuras como Paul Wolfowitz, William Kristol, Donald Rumsfeld, Victoria Nuland e Lindsey Graham já está em curso. A era das guerras intermináveis parece estar chegando ao fim.
Uma nova era de cooperação — em vez de guerra constante contra nossos vizinhos não ocidentais — pode estar prestes a começar. Mas, como disse um sábio do Ocidente: “Ainda não acabou até que acabe”.
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Uma questão que se coloca é: a crescente descentralização e nacionalização global, que vem se acelerando devido às últimas duas décadas e meia de violência hegemônica dos EUA, trará consigo um novo conjunto de problemas? A resposta é: muito provavelmente sim. Dito isso, a era unipolar de domínio dos EUA já é coisa do passado. É aqui que estamos, quer queiramos ou não.
Russophobia ocidental
Nas últimas duas décadas, houve uma enxurrada de distorções sobre a Rússia no Ocidente. A visão caricata que temos da Rússia e de Vladimir Putin é baseada em anos de propaganda de quem sempre teve como objetivo destruir a Rússia, derrubar sua liderança e saquear seus recursos — o procedimento-padrão neocon americano.
Na verdade, os EUA vêm preparando a Ucrânia para entrar na Otan há 30 anos.
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A Rússia não é uma ameaça para os EUA. Na realidade, gostaria nada mais do que firmar paz com o país norte-americano. A Ucrânia foi usada de forma calculada como um aríete — um proxy — para prejudicar a Rússia sem arriscar vidas americanas.
Isso não significa que a Rússia não tenha seus problemas. Tem, sim. Mas estamos falando de um país com 140 milhões de pessoas que não são tão diferentes de mim e de você.
