Presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré lidera um processo de ruptura com o neocolonialismo francês a partir da Confederação do Sahel, apostando na soberania econômica e na nacionalização de recursos
O presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, encabeça uma onda de transformações que sacodem o coração da África Ocidental. É o que explica Kevin Bryant, especialista em Relações Internacionais e autor do livro A Revolução das Boinas, em entrevista ao portal Diario Red.
De acordo com Bryant, sob a liderança do jovem capitão Ibrahim Traoré, o país protagoniza uma das transformações mais profundas da África Ocidental em décadas, avançando rumo a um modelo de soberania política e econômica que desafia abertamente as estruturas do neocolonialismo francês.
O também professor destacou que, junto com Mali e Níger, Burkina Faso constituiu, na Confederação do Sahel, uma aliança inédita na região, que integra defesa, economia, mobilidade e recursos estratégicos.
Nacionalização de recursos e ruptura com transnacionais
Um dos eixos da guinada soberanista foi a nacionalização do ouro, explica Bryant. O governo burquinês expulsou grandes corporações mineradoras estrangeiras, acusadas de evasão fiscal e saque sistemático das riquezas. Graças a uma reforma do código minerário, o Estado agora tem competência para confiscar ativos sem indenização, o que permitiu recuperar recursos e aumentar significativamente a arrecadação.
Pela primeira vez em sua história, Burkina Faso refina ouro dentro de seu próprio território, o que simboliza o início do controle soberano sobre sua cadeia de valor. A nação também impulsiona uma incipiente indústria nacional, como a produção de tomates enlatados “feitos em Burkina”, fomentando a autossuficiência.

O franco CFA em xeque
Outra frente-chave dessa transformação é a financeira. Traoré denunciou repetidamente o franco CFA, moeda herdada do colonialismo e que ainda hoje é controlada pelo Tesouro francês.
Segundo detalha a entrevista no Diario Red, o governo ordenou a suspensão temporária das exportações de ouro, o que muitos analistas interpretam como uma medida preparatória para uma eventual ruptura monetária.
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Os três países da Confederação do Sahel começaram a construir uma zona de livre circulação, com passaporte único, infraestrutura compartilhada e um exército conjunto. A partir dessas ações, a aliança rompe com o modelo imposto por organismos como a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), vistos por esses governos como instrumentos de dominação externa.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

