Israel age como um apêndice da lógica belicista do Ocidente e, sob pretexto de “guerra ao terror”, tenta justificar o roubo de terras, a humilhação cotidiana e o apartheid
O que está acontecendo em Gaza é uma tragédia de proporções históricas. Trata-se de uma operação de extermínio sistemático contra um povo que resiste há mais de 75 anos à ocupação, ao apartheid e à violência de um Estado que perdeu qualquer legitimidade moral.
A ofensiva militar israelense já ultrapassou todos os limites: mais de 60 mil palestinos mortos, a maioria civis, mulheres e crianças. Sem falar no número de desaparecidos nos escombros. Hospitais bombardeados, campos de refugiados arrasados, bairros inteiros convertidos em escombros. É a barbárie transmitida ao vivo, com a cumplicidade silenciosa das grandes potências.
O mundo começa, aos poucos, a reagir. A diplomacia de alguns países europeus — como Irlanda, Noruega e Espanha — rompeu com décadas de neutralidade cúmplice e reconheceu oficialmente o Estado da Palestina. Outras nações, pressionadas por suas populações, também já não conseguem mais justificar o apoio incondicional a Israel. A Corte Internacional de Justiça emitiu pareceres contundentes contra a ocupação dos territórios palestinos e o bloqueio à Faixa de Gaza. Há, enfim, um clamor internacional contra o genocídio.
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Mas o problema não é novo. O colonialismo israelense é uma engrenagem do imperialismo euro-atlântico. Foi criado pela Europa e sustentado pelos Estados Unidos como posto avançado de dominação no Oriente Médio. A liderança israelense age como um apêndice da lógica belicista do Ocidente, em nome da “guerra ao terror”, da “segurança regional”, do “combate ao extremismo”. Tudo isso para justificar o roubo de terras, a humilhação cotidiana, o apartheid.
O que está em jogo agora é mais que uma guerra: é a falência de um projeto. Israel, que se vendia como a “única democracia do Oriente Médio”, hoje se vê isolado, condenado por organismos internacionais e com seu governo questionado até por seus próprios aliados. Benjamin Netanyahu, acuado por denúncias internas e pela pressão externa, insiste em prolongar o conflito para salvar sua própria pele. Mas nem isso consegue mais sustentar: o Hamas, mesmo sob bombardeios brutais, não foi destruído — ao contrário, ganhou força política e simbólica como resistência.
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Nesse contexto, começa a ganhar corpo uma alternativa concreta: uma missão internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) para administrar temporariamente os territórios palestinos, assegurando a proteção humanitária da população e criando as condições para a reconstrução institucional de uma Palestina soberana. Seria uma transição necessária, dada a profunda crise de representatividade nas lideranças locais e a destruição do tecido social. A ONU, com mandato claro e apoio regional, poderia assumir o papel que a ocupação israelense jamais cumprirá: garantir segurança, justiça e dignidade para os palestinos.
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Estamos diante de um ponto de inflexão. O massacre em Gaza expôs a hipocrisia da chamada “comunidade internacional”, que sempre teve dois pesos e duas medidas: uma para os aliados do Ocidente, outra para os povos do Sul Global. Exigiram sanções contra a Rússia por sua invasão à Ucrânia, mas ignoram os crimes de Israel. E o que dizer dos Estados Unidos, que vetam sistematicamente qualquer resolução da ONU que condene Tel Aviv?
Não se trata de apoiar este ou aquele grupo político. Trata-se de defender o direito de um povo existir. O direito à autodeterminação, à dignidade, à memória. Gaza não é apenas uma questão palestina. É um espelho do mundo em que vivemos — e do mundo que queremos construir.
Paulo Cannabrava Filho é autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
- A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
- Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
- Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
- No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
* Texto elaborado com auxílio do ChatGPT.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

