Num mundo em que políticos competem para distorcer fatos e justificar crimes, destacam-se poucas vozes que nos lembram que a justiça tem rostos que não se curvam à chantagem e a consciência humana não se compra nem se vende. Entre essas vozes corajosas, brilha a senhora Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, contra quem o governo dos Estados Unidos decidiu recentemente impor sanções – punição por sua honestidade, não por qualquer crime que tenha cometido.
Essas sanções não vieram senão como resultado de suas posturas firmes e corajosas ao denunciar os crimes da ocupação israelense e exigir a responsabilização dos autores do genocídio contra civis palestinos, especialmente na Faixa de Gaza, que desde outubro de 2023 enfrenta uma guerra bárbara sem precedentes. Todos os relatórios das organizações internacionais hoje convergem em reconhecer que se trata de crimes contra a humanidade.
Em vez de homenagear Albanese por seu papel de vanguarda na defesa dos direitos humanos, Washington preferiu recompensar os criminosos e punir quem clama por justiça – um quadro invertido que expõe mais uma vez a falsidade das alegações dos Estados Unidos sobre direitos humanos e sobre a “ordem mundial baseada em regras”. Não se trata apenas de sanções, mas de um ataque flagrante ao sistema internacional de direitos humanos, uma intromissão insolente nos mecanismos da ONU e uma tentativa escancarada de silenciar as vozes livres que denunciam o assassinato, a destruição e a fome sistemática a que estão submetidos mais de dois milhões de seres humanos na Faixa de Gaza.
Albanese expressou a voz da consciência humana ao questionar publicamente por que governos como Itália, França e Grécia permitem que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobrevoe seus territórios e lhe concedam passagem segura, apesar de ele ser procurado pela justiça internacional com base em um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional. Esse questionamento legítimo transformou-se, aos olhos do governo estadunidense, numa “ofensa” que merece punição!
Enquanto isso, o mundo ainda recorda com amargura como chegaram a ser indicadas – e até mesmo concedidas – premiações como o Nobel da Paz a figuras como Donald Trump, que sempre se gabou de seu apoio irrestrito a Israel, dos contratos de armas, da transferência da embaixada de seu país para Jerusalém e do “Acordo do Século”, que serviu de prelúdio para o desmonte da causa palestina. Será aceitável que quem semeia guerras e alimenta crimes de extermínio seja homenageado, enquanto quem clama por justiça e direitos humanos é punido?
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O que se passa hoje não é apenas um julgamento da justiça: é um verdadeiro teste para o sistema internacional. Estará ele ao lado de quem ergue a voz contra a injustiça, ou de quem a financia e justifica? O mundo seguirá cúmplice em seu silêncio ou se levantará em defesa de uma mulher que disse “não” aos tiranos do planeta, recusando-se a ser cúmplice em nome do silêncio das Nações Unidas?
Francesca Albanese não merece sanções – ela merece o Prêmio Nobel da Paz, em respeito à sua coragem, em apoio à voz da justiça e em defesa dos direitos de um povo que está sendo massacrado diante dos olhos do mundo, sem encontrar quem lhe faça justiça.
Edição do texto: Alexandre Rocha
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