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Em 6 anos, mineração em 5 países amazônicos devasta área equivalente a El Salvador

As imagens de satélite exibidas na plataforma Amazon Mining Watch mostram como a mineração está arrasando a floresta amazônica. Esse desmatamento causado pela atividade minerária aparece como manchas que, no total, superam 2 milhões de hectares — equivalente à extensão aproximada de El Salvador. Esse número reflete a destruição provocada pela mineração na floresta amazônica entre 2018 e 2024.

A ferramenta de monitoramento, desenvolvida com inteligência artificial, permite ter uma visão geral do bioma amazônico. Observa-se, por exemplo, que as zonas mais afetadas pela mineração se concentram em três áreas principais: o sudeste do Brasil, entre os rios Tapajós, Xingu e Tocantins; o Escudo Guianês, que inclui Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa; e o sul do Peru, correspondente a Madre de Dios.

Mapa da plataforma Amazon Mining Watch que mostra as zonas de mineração na Amazônia. (Fonte: MAAP)

O monitoramento realizado com essa nova ferramenta online também mostra que 36% do desmatamento por mineração acumulado em 2024 — mais de 725 mil hectares — ocorreram em áreas protegidas e territórios indígenas.

O objetivo é obter dados consistentes em uma área vasta como a Amazônia. No MAAP — outra ferramenta de monitoramento —, conseguimos usar satélites para monitorar em tempo real áreas prioritárias específicas, mas é muito mais difícil monitorar toda a Amazônia dessa forma. Com o Amazon Mining Watch, conseguimos ver o panorama geral, inclusive áreas que nem sequer conhecíamos.Matt Finer, pesquisador sênior e diretor do Programa MAAP, projeto da Conservação Amazônica (ACCA).

Grande área de garimpo na região do rio Uraricoera, na Terra Indígena Yanomami (Foto: Bruno Kelly / Amazônia Real / 30.04.2021)

A ferramenta Amazon Mining Watch (AMW) faz parte do Programa de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP), liderado pela Earth Genome, a Rede de Investigações da Floresta Tropical do Centro Pulitzer e a Conservação Amazônica. Trata-se de uma plataforma aberta que utiliza um algoritmo desenvolvido para detectar a pegada da atividade minerária com base em imagens de satélite do Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia.

Espera-se que forneça informações trimestrais para que os atores locais possam, com esses dados, saber exatamente o que está acontecendo em seus territórios, sem a necessidade de esperar um estudo ou relatório específico.Jorge Villa, especialista em Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e Sensoriamento Remoto da Fundação Ecociencia, no Equador.

As zonas mais devastadas

O relatório publicado em 4 de maio de 2025 indica que o desmatamento acumulado por mineração até 2024 foi de 2,02 milhões de hectares. O monitoramento realizado por meio da plataforma Amazon Mining Watch mostra que, em 2018 — primeiro ano com dados disponíveis —, o desmatamento chegou a cerca de 970 mil hectares. Depois, entre 2019 e 2024, o desmatamento pela mineração de ouro aumentou em 1,06 milhão de hectares. O relatório também indica que o pico do desmatamento ocorreu em 2022, enquanto em 2023 e 2024 houve desaceleração na perda de floresta.

Outro mapa que mostra as zonas devastadas pela mineração no Brasil. (Fonte: AMW / MAAP)

Segundo o relatório do MAAP, mais da metade do desmatamento por mineração na Amazônia ocorreu no Brasil, seguido por Guiana, Suriname, Venezuela e Peru. Só em 2024, o desmatamento no Brasil por essa causa foi de 57.240 hectares. Na Guiana, a perda de floresta chegou a 19.372 hectares; no Suriname, foi de 15.323 hectares; na Venezuela, 9.531 hectares; e no Peru, 6.020 hectares.

O objetivo é fornecer as ferramentas necessárias para que tanto os governos locais quanto as organizações da sociedade civil possam desenvolver um monitoramento da mineração em seus territórios e fortalecer suas capacidades de governança frente a essa importante pressão.Jorge Villa

O relatório também mostra que mais de um terço do desmatamento causado pela mineração ocorre em áreas protegidas e territórios indígenas da Amazônia, principalmente no Brasil. No caso do Peru, o desmatamento por atividade minerária afeta vários territórios indígenas, principalmente aqueles que cercam o chamado corredor mineiro, uma área designada pelas autoridades onde essa atividade é autorizada. Nesse país, também há desmatamento minerário em áreas protegidas. Enquanto isso, no Equador, o desmatamento por mineração continua ameaçando diversos locais, incluindo áreas protegidas e territórios indígenas.

“A mineração continua avançando no Equador”, diz Villa. A esse respeito, o especialista da Fundação Ecociencia indica que, para realizar este monitoramento, dividiu-se a Amazônia equatoriana em três setores: norte, centro e sul. “Em cada um desses corredores vamos identificar as zonas específicas onde existe essa atividade”, informa.

Uma piscina e máquinas usadas para a extração ilegal de ouro no rio Santiago, Equador. (Foto: Chinki Nawech)

Villa explica que as análises para o Equador correspondem, no setor norte, às zonas limítrofes com a Colômbia. O foco foi analisar como essa atividade tem crescido em locais afastados das áreas povoadas. Na zona central, será analisada a província de Napo, enquanto os estudos no sul serão feitos principalmente na província de Zamora Chinchipe, a área mais afetada no país.

De acordo com Matt Finer, pesquisador sênior e diretor do Programa MAAP, em 2019 o Equador perdeu 708 hectares. No ano seguinte, somaram-se mais 346 hectares desmatados; e em 2021, quase o dobro (653 hectares de floresta derrubados). Em 2022, o desmatamento continuou em alta e o ano terminou com 970 hectares desmatados. O maior nível de desmatamento foi registrado em 2023. Naquele ano, perderam-se 2.421 hectares. No ano passado, o Equador perdeu mais 1.062 hectares de floresta.

Áreas protegidas e territórios indígenas

As áreas protegidas e os territórios indígenas continuam perdendo floresta por causa da mineração de ouro. Nestes casos, trata-se ainda de mineração ilegal, posto que são locais onde essa atividade não está autorizada.

Somente em 2024, estima-se que 36% do desmatamento acumulado — ou seja, mais de 725 mil hectares de floresta — tenha ocorrido dentro de áreas protegidas e territórios indígenas.

As dragas utilizadas para extrair ouro de maneira ilegal estão comprometendo a margem do rio Nanay. (Foto: cortesia do Ministério Público do Peru)

A maior parte desse desmatamento em territórios desse tipo ocorreu no Brasil. Segundo o estudo, nove das dez áreas protegidas mais desmatadas estão no Brasil. A lista é liderada pela Área de Proteção Ambiental Tapajós, que perdeu mais de 377 mil hectares, seguida pelas florestas nacionais Amanã e Crepori, o Parque Nacional Rio Novo, as florestas nacionais Urupadi, Jamanxim, Itaituba, o Parque Nacional Jamanxim — unidade de conservação distinta da floresta de mesmo nome — e a Floresta Nacional Altamira. O top 10 se completa com o Parque Nacional Yapacana, na Venezuela.

No que diz respeito aos territórios indígenas, as áreas mais afetadas também estão no Brasil. São os territórios dos povos Kayapó, Mundurucu e Yanomami, com quase 120 mil hectares juntos. O quarto da lista é Ikabaru, na Venezuela, seguido de três territórios no sul do Peru — San José de Karene, Barranco Chico e Kotsimba —, com mais de 17 mil hectares de floresta perdida. O top 10 se completa com Sai Cinza e Trincheira Bacajá, no Brasil, e San Jacinto, no Peru.

“O território indígena mais afetado do Peru, San José de Karene, já perdeu mais de um terço de sua superfície por causa da mineração ilegal de ouro”, diz o relatório.

Dhaynee Orbegozo, especialista em governança florestal no Peru, afirma que, infelizmente, é em Madre de Dios que se encontram as áreas mais afetadas pela mineração de ouro. Ela acrescenta que essa atividade praticamente começou nos anos 1980 no Peru, e que naquela época o tema do desmatamento não recebia a atenção que recebe hoje.

O mapa mostra a presença da mineração em Madre de Dios, Peru. (Fonte: AMW / MAAP)

“Naquele momento, nenhum governo assumiu a responsabilidade pelo problema e, agora, com o aumento do preço do ouro e o enfraquecimento da institucionalidade, há bastante tempo, a situação se agravou”, comenta Orbegozo. “Talvez o primeiro momento em que se perdeu a batalha foi quando o governo, por volta de 2013, decidiu que o zoneamento ecológico-econômico e o ordenamento territorial não seriam vinculantes”, ou seja, que essas decisões sobre o território não seriam de cumprimento obrigatório.

Quanto à presença da mineração em territórios indígenas, Orbegozo diz que as invasões nesses territórios “subjugam os povos indígenas” nas comunidades nativas, mas também, observa, há mineração praticada pelas próprias comunidades.

A mineração divide as comunidades porque parte da população se opõe, quer continuar preservando seu território. Mas também há mineradores ilegais que formam suas próprias organizações indígenas e iniciam uma disputa contra as organizações indígenas representativas da região.Dhaynee Orbegozo

Quando se fala em mineração ilegal, fala-se de um problema com impacto ambiental, afirma Orbegozo, por causa do desmatamento e da contaminação dos rios, dos peixes, que depois servem de alimento para as pessoas. É uma questão de saúde para os próprios trabalhadores, mas também representa o enfraquecimento da institucionalidade, que corrompe autoridades nacionais, regionais, locais, legislativas, das Forças Armadas e da polícia, assegura a especialista.

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