receita-para-o-desastre:-tarifas-e-histeria-de-trump-aceleram-ruina-dos-eua

Receita para o desastre: tarifas e histeria de Trump aceleram ruína dos EUA

Sob Trump, Washington exerce a política mais descaradamente imperialista em mais de um século justamente no momento em que seu poder atravessa um declínio histórico

O presidente estadunidense, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (9) que imporá uma tarifa geral de 50% a todas as importações procedentes do Brasil, em represália ao fato de que a Justiça brasileira leva adiante um processo contra o ex-mandatário fascista Jair Bolsonaro por sua tentativa de dar um golpe de Estado em 2023, com métodos calcados naqueles que o próprio Trump empregou em janeiro de 2021 com a mesma intenção fracassada.

Um dia antes, ele expressou seu propósito de taxar o cobre com uma alíquota de 50%, sem fornecer nenhum detalhe sobre quais apresentações do mineral seriam afetadas, ao que o presidente do Chile – maior produtor de cobre do mundo –, Gabriel Boric, respondeu: “na diplomacia não se faz política por redes sociais, e sim mediante comunicações oficiais”. Por fim, o inquilino da Casa Branca enviou cartas às Filipinas, Brunei, Moldávia, Argélia, Líbia, Iraque e Sri Lanka para notificá-los de que serão sujeitos a tarifas de até 30%.

Fora da trama tarifária, recentemente Trump acusou seu homólogo russo, Vladimir Putin, de dizer “besteiras (bullshit)” e ameaçou-o com uma nova rodada de sanções por não se alinhar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no conflito com a Ucrânia, enquanto o secretário de Estado, Marco Rubio, anunciou represálias contra a relatora das Nações Unidas para os territórios palestinos, Francesca Albanese, por sua coragem em denunciar o genocídio perpetrado por Tel Aviv e Washington contra o povo palestino, e em expor as empresas que lucram com a limpeza étnica.

Em conjunto, a série de agressões lançada pelo trumpismo num espaço de poucas horas revela as alarmantes contradições entre os fins que esse movimento afirma perseguir e as políticas que emprega para atingi-los, assim como entre o erodido poder global dos Estados Unidos e a onipotência de que seu presidente acredita dispor.

Quanto ao delírio trumpista de que é possível reconfigurar o comércio global e os equilíbrios geopolíticos por meio de tarifas, está claro que ao magnata não importa se elas são ilegais e arbitrárias, mas faria bem em se dar conta de até que ponto são contraproducentes: é um contrassenso, por exemplo, taxar um mineral estratégico como o cobre quando se diz perseguir uma reindustrialização acelerada; de imediato, os preços dessa matéria-prima – da qual a superpotência produz apenas metade do que consome – dispararam nas bolsas de valores, o que adiciona um impulso inflacionário à sua economia.

Confira mais análises sobre as tarifas de Trump contra o Brasil.

Mais incompreensível ainda é o castigo ao modesto comércio com o Iraque: Washington gastou centenas de bilhões de dólares de dinheiro público para destruir, conquistar e colonizar essa nação árabe, a fim de que as grandes petroleiras ocidentais controlassem seus hidrocarbonetos; e agora Trump imporá tarifas sobre o espólio de guerra, como se os beneficiários do saque fossem os iraquianos e não os Estados Unidos. O mesmo se aplica à Líbia.

O paradoxo desse comportamento é que Washington exerce a política mais descaradamente imperialista em mais de um século justamente no momento em que seu poder atravessa um declínio histórico: sem domínio sobre o comércio, sem a incontestável primazia tecnológica que marcou seu auge, com uma moeda em declínio estrutural e uma economia que sacrifica 99% da população para alimentar uma oligarquia insaciável.

O declínio material caminha lado a lado com a bancarrota moral e institucional de um país cujo presidente afirma abertamente não saber se é ou não obrigado a respeitar a Constituição; de uma Suprema Corte que torna o chefe do Executivo inimputável – à semelhança dos monarcas totalitários –; de uma administração que coloca todas as suas capacidades a serviço do genocídio; e de um Estado que envia migrantes para campos de concentração.

Golpe em curso no Brasil: nota da embaixada dos EUA revela algo além das taxas de Trump

À medida que se aprofundam os abismos entre a belicosidade estadunidense e sua hegemonia em ruínas, e entre sua autopercepção como guardiã da democracia e sua conversão ao totalitarismo, torna-se evidente que essa contradição conduz a ainda superpotência a um desastre de proporções inéditas. Lamentavelmente, a queda estrepitosa e desordenada dos Estados Unidos não é uma boa notícia para ninguém, pois acarretaria uma desestabilização econômica e política diante da qual quase nenhum país pode considerar-se blindado.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *