A partir de uma experiência simples, mas eficaz, em 1856 Eunice Newton Foote comprovou que o dióxido de carbono e o vapor d’água modulam o aquecimento proveniente do Sol
Em 26 de março é celebrado o Dia Mundial do Clima, uma data que serve para gerar consciência e sensibilizar as pessoas sobre o impacto da mudança climática, instituída em 1992 no contexto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Esse fenômeno começou a ser compreendido no século 19. Foi ali que surgiram as primeiras teorias sobre termos-chave como “efeito estufa”, fenômeno confirmado por uma mulher que caiu no esquecimento e à qual não foi atribuído o devido reconhecimento.
Da teoria à comprovação
O primeiro a publicar um texto sobre o efeito estufa foi o matemático francês Joseph Fourier. No estudo, ele examinou os fluxos de calor e calculou que a Terra deveria ser mais fria, levando em conta seu tamanho e distância em relação ao Sol. Porém, ele ficou apenas na teoria, e foi justamente com essa base que uma cientista amadora — então chamada de filósofa natural — realizou um experimento.
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::Eunice Newton Foote::
Se anticipó tres años (aunque con ciertas diferencias en el proceso de investigación) a los experimentos del físico y químico británico John Tyndall, al que considerado el descubridor del efecto del CO2 en la atmósfera. pic.twitter.com/tyi8HJodDn— ILSB (@ilsb_ac) November 6, 2019
Tratava-se de Eunice Newton Foote, uma mulher nascida em 17 julho de 1819 em Connecticut, nos Estados Unidos, e residente em Nova York. Em 1856, ela realizou uma experiência simples, mas eficaz, para comprovar o efeito estufa: encheu tubos com diferentes gases e os expôs à luz solar.
Especificamente, Eunice Newton Foote colocou termômetros de mercúrio em dois cilindros de vidro, esvaziou um deles com uma bomba de ar e, no outro, comprimiu o gás. Depois, expôs ambos à luz solar. Um deles continha dióxido de carbono, que aqueceu mais do que os outros e demorou mais para esfriar após ser retirado da exposição ao sol.
A partir dessa experiência simples, ela concluiu que “uma atmosfera desse gás poderia dar à nossa Terra uma temperatura elevada”, comprovando assim que o dióxido de carbono e o vapor d’água modulam o aquecimento proveniente do Sol.
Uma experiência que caiu no esquecimento
Essa comprovação do efeito estufa, que ajudaria a compreender a ciência do clima e a mudança climática anos depois, foi apresentada na Reunião Anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, por meio do cientista Joseph Henry — já que mulheres não podiam participar desses encontros.

No entanto, o experimento não foi incluído nas atas da conferência. Ainda que tenha sido publicado na American Journal of Science and Arts e resumido na Annual of Scientific Discovery por David Ames Wells em 1857, o trabalho não teve repercussão na comunidade científica e quase não chegou à Europa.
Isso fez com que, em 1859, três anos depois, o irlandês John Tyndall publicasse suas descobertas sobre o efeito estufa — sendo considerado, até hoje, o primeiro a confirmá-lo. Ele não mencionou os experimentos de Foote, não se sabe se por desconhecimento ou porque ela era vista como uma cientista amadora.
Eunice Newton Foote foi, além de pioneira na teorização da mudança climática, uma defensora dos direitos das mulheres por meio do movimento sufragista. Ela foi uma das signatárias, junto com seu marido, da Declaração de Sentimentos — documento assinado em Nova York durante a Convenção de Seneca Falls, em 1848 — considerada a primeira declaração formal em defesa dos direitos das mulheres e do sufrágio feminino.
As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.
